Lutar é minha sina - autobiografia de uma Feminista Nordestina

04/04/2019

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos


Quando se nasce
Já vem com um destino traçado
Há quem nasce para seguir os líderes
E há quem nasce para ser líder dos que se deixam ser liderados.

Viver é escolher
Entre sorrir ou chorar
Se esconder ou lutar
Dormir ou sonhar
Calar-se ou suas bandeiras levantar.

Sou assim
Menina destemida
Mulher corajosa
Por desafios movida.
Não sei dizer não à luta
E escolho todos os dias viver com uma bandeira erguida.

Ser normal não me atrai
Gosto mesmo de ser diferente
É muito bom fazer a diferença
E jamais se calar frente a qualquer desgracença.

Nasci Mulher valente
Nordestina persistente
Advogada que luta incessantemente
Para que todas e todos tenham uma vida decente.

O luxo não me enche os olhos
Mas a simplicidade… Ah! A simplicidade me enche a alma
Me aquece o peito
E me alegra o coração.

Gosto mesmo de tudo que é simples
Realização? é comer cuscuz,
Tomar uma pinga
Dizer bença mainha e bença painho
Receber um cheiro das sobrinhas e dos sobrinhos
Receber um abraço dos afilhados e afilhadas
Dá um abraço bem arrochado no meu amado
Dar boas risadas com amigos e amigas

Sou a mulher nordestina que adora um salto alto
Um belo batom que deixa a estima lá no alto
A bela roupa que nos embeleza
Mas há dias que não quero nada disso
E um chinelo no pé já me é o bastante

Não gosto de seguir padrões
Gosto de ser eu mesma
Falar alto quando todos sussurram
Dar gargalhadas quando todos sorriem no canto da boca
Escrever este cordel sem muitas rimas
E estar descabelada quando todas estão maquiadas.

Modéstia? Não combina com coragem
Pois acreditar em si mesmo é o primeiro passo para lutar.
Lutar e conquistar
Conquistar espaço, conquistar respeito e admiração dos parceiros/as de luta
Conquistar coragem para lutar pautando-se em princípios éticos e morais.

Há quem me admire
Assim como há quem me odeie.
Isso não me importa
Pois sei que os que realmente precisam da minha defesa
Aplaudem de pé a minha destreza.

Sou “Feminista Chata”
Sou “Esquerdista doente”
O que me lançam como ofensa
Eu recebo como elogio
E assim sigo lutando para mudar este mundo vil.

Cada dia tenho mais certeza que o meu destino é lutar
Sai lá de Barro Vermelho de Ibipeba para o mundo conquistar
Disseram que filha de pobre não estuda
Eu fui lá e estudei
Disseram que Advocacia é profissão de tradição
Aqui estou eu, a primeira Advogada da família.

Ouvir não nunca me intimidou
Sempre me estimulou a conquistar
Pois o desafio é o meu combustível
E a coragem a minha arma

Lá na roça estão fincadas as minhas raízes
No movimento sindical a minha fonte de esperança
No Feminismo a minha sede de saber e de justiça
No amor a certeza da vitória
E no querer a coragem de lutar e vencer.

Não me digam o que fazer.
Não… Eu não admito que me ensinem a ser alguém
Pois nasci alguém único e especial.
Alguém que não sabe fazer outra coisa, senão lutar.

Não me digam que não há esperança
Não… Eu não admito não ter fé. Fé em Deus, fé em Nossa Senhora Aparecida, fé na luta, fé na vida.
A minha esperança de conquistar e construir um mundo melhor jamais morrerá
Pois mesmo quando eu morrer terei deixado a minha semente de luta, fé, perseverança e amor.

Eu não sou a única Mulher movida por desafios
Muitas são as Thaises, Margaridas, Marias, Josefas, Joanas, Severinas.
Enfim, muitas somos nós
Que matamos um leão por dia
Vencemos o machismo a cada segundo
E nos firmamos enquanto sujeitas de direitos e deveres.

Não nos digam que não podemos
Pois podemos tudo que assim desejarmos
Para isso basta lutar

Então venham
Vamos juntas nessa labuta diária
Com sorriso no lábio
Amor e coragem no coração
E assim alcançaremos a sonhada igualdade
Onde possamos viver sem medo
Sem medo da violência
Sem medo da discriminação

Vamos ocupar os nossos espaços
No mercado de trabalho, na política e no lar
Vamos nos unir
Pois só, eu consigo andar
Mas juntas conseguiremos andar melhor e muito mais longe chegar.

 

Feminismos, Artes e Direitos das Humanas

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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