LONGA NOITE

03/10/2021

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Quase eterna, longa a noite
velas acesas, candelabros ou lampiões
perderemos o rumo, o prumo, a razão
cairemos em tentação
buscaremos a voz, o olhar, algum sentido maior
sonharemos mundos inteiros de amplidão
as janelas continuarão abertas, azuis em brancas nuvens
pássaros ensinarão liberdades inteiras, em asas pequenas, à nossa prisão
– asa quebrada de uma quina –

os dias, um a um, passarão
os homens, também, um a um, passarão
– alguns, muitos, passarão –
precisaremos aprender antigas rotas de despedidas

longa noite, imensa e vazia
desejaremos um som, um ruído, uma cantiga,
ventania, passos na escada, paz tão antiga
um grilo, um sabiá, um jorrar de lágrimas
qualquer coisa dos desejos das horas findas
– que nos alcance logo esse outro agora, que já se demora –

longa noite que se anuncia
desesperados, seremos rebeldes, covardes, intempestivos
gritaremos a esmo, a rodo, aos loucos
perderemos a ótica, a lógica, a noção
sentiremos o palpitar - ao longe - de algum outro coração
buscaremos esperanças, certezas, sentidos
ao mundo seremos rendidos
não poderemos apagar os fatos, retroceder os mortos
– passos em falso nos fizeram coautores irresponsáveis do colapso? –

longa noite,

o que será do outro dia com novas auroras?
esperanças-fênix depois das cinzas?

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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