LIBELO ACUSATÓRIO

03/04/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Tragam e coloquem-no no banco dos Réus,

Que se julgue o Direito pelos crimes que cometeu,

Pelos inocentes aprisionados,

Pela morte de Orfeu.

 

Sob o seu jugo,

Milhões foram escravizados

E os algozes libertados,

Tudo em nome da Justiça,

Mas sem o seu aval.

 

Fez da Lei a sua arma,

Falsificou a “verdade real”,

Usurpou da competência

Para prender o seu rival.

 

Não bastasse a prepotência,

Se colocou acima do Bem e do Mal,

Criou a própria jurisprudência

Para disfarçar os erros do Tribunal.

 

Agora tem a cara de pau,

De olhar nos nossos olhos

E dizer que nada cometeu.

Não duvido que muitas vezes foi omisso,

Outras vezes fingiu não ver,

Mas até nisso,

Não só pelo que fez,

Mas pelo que deixou de fazer,

É que também lhe acusamos.

 

Senhoras e senhores do Júri,

Não caiam no engano,

Por trás da máscara

Se esconde um tirano,

A quem não se pode confiar.

 

Aqueles que nele confiaram,

Ou estão de pé no cadafalso,

Ou foram jogados vivos no mar.

 

Por isso é que agora rogamos,

Que o Direito seja condenado,

E que não se lhe conceda qualquer indulto.

Fazemos isso em nome de suas vítimas do passado,

Para que não haja novas vítimas no futuro.

 

Porventura, não creiam vós nessas palavras,

Vejam o que sucedeu a Joana D’Arc.

Será preciso quantos mártires?

Será preciso quantas lápides?

Para que se reconheça o horror e a crueldade

Das ações deste impiedoso Réu?

 

Obrigou Sócrates a beber cicuta,

Apedrejou prostitutas

Em plena luz do dia.

Foi preciso desnudar Friné

Diante de todos que assistiam,

Para se evitar que se repetisse

Mais uma grande tragédia.

 

Também houve quem se despisse

No Sinédrio de Israel,

Caifás, este cúmplice de Samael,

Rasgou as próprias vestes

Para zombar de Jesus.

 

Dessa vez a tragédia aconteceu,

E pelas mãos deste Réu,

O Filho de Deus,

Foi pregado em uma cruz.

 

Que o Direito sinta agora do seu próprio veneno,

Em um processo equivalente ao de Josef K.

Requeremos a execução sumária

Sem que o Réu possa se retratar,

Pois quem já fez mal a tanta gente,

Não há nada a que se possa fiar.

 

Com a mesma piedade

Que por diversas vezes negou ao pobre,

E com a mesma cobiça

A que de bom grado serviu aos ricos,

Este Réu deve ser julgado hoje.

 

Tendo tal discernimento

E já demonstrado os fatos,

Repetimos, portanto, o pedido inicial:

“Que o Direito seja condenado,

E que não se lhe conceda qualquer indulto.

Fazemos isso em nome de suas vítimas do passado,

Para que não haja novas vítimas no futuro.”

 

Imagem Ilustrativa do Post: Statue of Justice - The Old Bailey // Foto de: Ronnie Macdonald // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/ronmacphotos/8704611597

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