Intolerância nega a Democracia - Por João Baptista Herkenhoff

21/11/2017

Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-la. (Voltaire).

François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, foi um filósofo humanista francês, um dos maiores vultos do Movimento Iluminista. Amante da polêmica, algumas de suas frases, propositadamente radicais, como a que abre este texto, tornaram-se célebres.

A advertência de Voltaire é bastante oportuna no Brasil de hoje, que apresenta o quadro a seguir descrito.

Partidários de uma determinada corrente de pensamento supõem deter a verdade. Quem diverge está errado.

Os seguidores da corrente contrária também acreditam que são titulares do bom caminho, motivo pelo qual etiquetam como réprobos os divergentes.

Através da internet formam-se grupos de pressão virtual. Isto é democrático.

Quando a divergência mantém-se no debate verbal – eu sei, você não sabe – está em bom tamanho, sem maiores consequências.

Pior é a situação que ultrapassa a tertúlia da discussão civilizada.

O oponente é inimigo da Pátria, um traidor, um abutre, deve ser silenciado por bem ou por mal.

Algumas vezes, dentro de uma mesma família, ou entre vizinhos, ou entre frequentadores de uma mesma igreja, explode a ira, que não é nada santa.

Nesse clima de intolerância, está fazendo falta, na atualidade, um líder como Tancredo Neves, capaz de colocar lado a lado dois inimigos históricos, ou duas facções extremas, para celebrarem o abraço da paz.

Tancredo foi o principal protagonista da passagem da ditadura para a Democracia, no Brasil contemporâneo.

Mas, se não temos Tancredo, estamos perdidos?

Creio que não. Existe a opinião pública que pode pressionar e exigir o entendimento.

A opinião pública somos todos nós.

Podemos juntar nossas vozes, de norte a sul do território brasileiro, para expressar em pequenas reuniões (de bairros, de grupos profissionais) e através da coluna de cartas dos leitores dos jornais ou de cartas endereçadas a parlamentares, que não queremos um Brasil fratricida, mas sim um Brasil fraterno.

A fraternidade não exige a identidade de pensamento, mas sim a compreensão e o respeito entre as pessoas.

Divergência democrática é uma coisa. Fúria quase homicida, furor sem limites é outra.

A liberdade de expressar o pensamento, sem censura, sem perseguição, foi uma conquista do povo, após a longa ditadura que se abateu sobre o pais, a partir de 1964.

Deveremos celebrar a liberdade reconquistada, sem desvio de rota, ou seja, podemos opinar sem amarras mas devemos reconhecer no outro, no oposto, a mesma franquia.

 

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