IN-FINITUDES

27/05/2020

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Morro de viver todos os dias. E as minhas entranhas vão ficando gastas, puídas, desmedidamente entristecidas. A finitude dos dias vai demarcando territórios demasiadamente curtos para as dimensões absurdas do coração. Pois é bem certo que não sei descrever com precisão em que lugar deixei cair as asas que me trouxeram a este chão. A madrugada já faz morada nesse horizonte que se estica feito fio comprido de costurar meus infinitos tão longínquos...

Não. Não posso crer que a minha sina seja apenas tecer palavras a passos lentos no descalço dessa vida tão repentina... A água invade em enxurradas os meus olhos fundos, lá bem distante da superfície deste meu mundo. Não. Não sei a que intento me foi dado o dever de viver em descompasso, ainda que eu mesma pague o preço por tantas rasuras e remendos na alma minha...

Vivo de morrer todos os dias. As lembranças vão se perdendo entre os vãos dos dedos dessas minhas mãos enfraquecidas. E os meus desejos vão sendo silenciosamente em brancas nuvens entardecidos...
Mesmo assim seguirei descosturando a linha. Desfazendo os nós. Até que nós todos sejamos sonhadores de novos gestos - e uma luz se acenda na cabeceira de uma outra história que se avizinha.

Sonhar é o que importa - ainda que seja apenas um bom retrato em branco e preto pendurado na parede da imaginação. Porque comporta um infinito inteiro. Abaixo. Acima. Dentro. Além das beiras. Bem profundo. Ao abrir das portas de um novo mundo.

 

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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