Hierarquia e valor na Ciência  

15/07/2018

 

Grande parte da inspiração deste artigo decorre do fato de na última semana eu ter descoberto o trabalho de Jordan Peterson, professor de psicologia da Universidade de Toronto, no Canadá, especialista em Nietzsche e Jung. A partir do blog “Um novo despertar”, no artigo “CERN da questão”, encontrei um vídeo com parte da palestra de Peterson na Oxford Union (https://www.youtube.com/watch?v=UZMIbo_DxJk – palestra completa), em que ele responde a uma indagação sobre a origem do significado do mundo, rejeitando a ideia de que os significados existem apenas porque colocados pelo homem, dizendo que há significado além do controle humano e abordando a questão da hierarquia, citando Jung e sua proposta de Cristo como símbolo da máxima hierarquia de significados no Ocidente. Como considero que a Verdade passa pela psicologia de Jung, pela física de Bohm e pela filosofia de Hegel, logo interessei-me pelo autor, e agora estou assistindo às suas exposições sobre A Significação Psicológica das Histórias Bíblicas (The Psychological Significance of the Biblical Stories - https://www.youtube.com/playlist?list=PL22J3VaeABQD_IZs7y60I3lUrrFTzkpat).

As noções de hierarquia e valor são interligadas, porque hierarquia se refere a ordem de validade ou qualidade de algo, ordem que, por sua vez, pode ser considerada em si um valor, na medida em que o conceito de valor é relativo à importância, validade ou qualidade de algo.

O comportamento humano é pautado por hierarquias e valores, que são ou não conhecidos das pessoas, como a ideia de sobrevivência, manifestada pelo instinto de lutar ou fugir, implícita no comportamento humano.

A Ciência, como um desenvolvimento humano, do mesmo modo, está impregnada de valores e hierarquias, muitas vezes pressupostos na atividade dos cientistas, mas que nem sempre são revelados, nem sem são objeto de apocalipse, porque em vários casos esses valores e essas hierarquias são ocultos ou inconscientes.

Por isso a Filosofia, ou Ciência, tem a função de unir e expor todos os valores e hierarquias a partir daquilo que seja o valor máximo da máxima hierarquia, ou a hierarquia máxima do máximo valor, relacionado ao primeiro princípio de conhecimento, do qual todos os demais derivam, ao qual tudo está vinculado e do qual tudo é dependente.

A grande dificuldade do tempo moderno, decorrente da divisão cartesiana de duas substâncias, é obter um valor e uma hierarquia que englobem a totalidade da realidade, permitindo a unificação do conhecimento científico. O objetivo da Ciência é atingir a hierarquia e o valor comuns aos seus ramos, incluídas as chamadas ciências naturais, especialmente Física e Biologia, e as ciências humanas ou do espírito, com destaque para o Direito e a Psicologia.

Essa unificação depende da solução da tensão entre o princípio material e o princípio espiritual, porque o primeiro princípio determina o início e o fim da História, Ciência também fundamental, pois presente em todos os ramos científicos, na medida em que o tempo é uma condição do conhecimento humano, e é através da pesquisa do desenrolar dos acontecimentos no tempo que a Ciência se estrutura.

Na Física atual esse problema do tempo é um grande enigma, porque existe a luz, de um lado, como limite de velocidade de troca de informação no espaço, enquanto para a luz não há tempo no deslocamento, pois para ela luz o tempo é sempre instantâneo; e de outro lado há o entrelaçamento quântico, com sua unidade de informação que independe do tempo e do espaço. A Biologia tem como fundamento a ideia de evolução, que é a história do desenvolvimento da vida no tempo. O Direito é essencialmente uma narrativa temporal e valorativa dos comportamentos humanos, unindo causas e consequências normativamente relevantes, segundo determinados valores, que imputam às ações as qualidades jurídicas de lícitas e ilícitas, extraindo dos atos humanos as consequências legais aliadas aos seus efeitos materiais. A História também é essencial na psicologia, para a compreensão do desenvolvimento da personalidade, das causas de integração e fragmentação da individualidade e de sua adequação à narrativa social, também histórica.

O tempo se liga, assim, à questão científica fundamental, e também aos questionamentos filosóficos mais profundos, sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos.

Esse tema está atrelado ao do artigo “A velocidade do tempo” (http://emporiododireito.com.br/leitura/a-velocidade-do-tempo-por-thiago-brega-de-assis), e sobre isso reconheço a contribuição de João Luiz Marcelino, com o seguinte comentário ao texto citado, que me colocou para pensar, porque certamente tocou meu Espírito:

“Acho que no texto, faltou a citação: 'O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado'. Jesus: Marcos 2:27.

Ao meu ver essa citação se constitui num 'start' para discussões ontológicas a respeito da relação homem/tempo e vice verso” (https://holonomia.com/2017/05/01/a-velocidade-do-tempo/comment-page-1/#comment-87).

Pelo que sabemos, o tempo somente é importante para a Humanidade, porque apenas os seres humanos têm a noção de passado e futuro, e consciência da morte, como um limite de tempo, que para alguns, os materialistas, é definitivo, enquanto para outros, os espiritualistas, está subordinado a outra hierarquia temporal.

O tempo e o sábado estão ligados, desse modo, à criação:

“Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia. Assim foram concluídos o céu e a terra, com todo o seu exército. Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou, depois de toda a obra que fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nele descansou depois de toda a sua obra de criação. Essa é a história do céu e da terra, quando foram criados” (Gn 1, 31-2, 4).

O sétimo dia é o sábado, o dia do descanso, o dia em que o tempo muda, do trabalho para o sustento individual para a contemplação do Criador. O sábado representa o dia do tempo do outro, o dia de Deus, como outro.

O sábado faz uma relação entre temporalidade e eternidade, porque a Humanidade está na temporalidade e na eternidade, e a menção de que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado também significa que o tempo foi feito para homem e não o homem para o tempo, a finitude existe por causa do homem, e não o homem por causa da finitude. Esse é o grande erro da filosofia de Heidegger, ao dizer que o homem é voltado para a morte, para a finitude, porque mesmo sendo um fato a morte corporal, limitar a humanidade ao corpo humano presente e perecível é limitar a humanidade, é entender que o homem foi feito para a finitude, quando, na realidade, a finitude foi feita para o homem, porque sem finitude não haveria tempo, espaço ou vida.

Deus nos deu a noção da temporalidade, de um limite de tempo, para que desse modo possamos contemplar e compreender a infinitude, a eternidade. Nossa individualidade decorre de nossa limitação, mas fixar essa limitação como o valor máximo é inverter as hierarquias, é colocar a parte superior ao todo.

A ciência humana conseguiu um avanço incrível na manipulação de partes da natureza, mas esqueceu-se da totalidade do mundo, e por isso as ciências são fragmentadas, as sociedades são fragmentadas e as pessoas são fragmentadas.

A verdadeira Ciência está em Jesus Cristo, porque o primeiro conhecedor de Deus, encarnando o Logos, em sua vida, respeitando a hierarquia e o valor máximos, tornando-se senhor do tempo e do sábado, porque vivendo a Vontade de Deus ele uniu-se ao Ser de Deus, dizendo “eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30), alcançando a consciência da eternidade, do tempo além do tempo, compreendendo a hierarquia e o valor máximos relativos ao tempo.

Desse modo ele relativizou o tempo daquele (e deste) tempo, o sábado e até mesmo a morte, dizendo àqueles que se opunham às suas curas no sábado: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho” (Jo 5, 17); contrariando a concepção de seu tempo no sentido de que o sábado deveria ser absoluto. Já em seu tempo, Jesus Cristo chegou à ordem total do mundo, em sua hierarquia máxima e valor máximo, que inclui Física, Biologia, Direito e Psicologia.

A Física trabalha com a ordem inanimada, a Biologia com a animada, o Direito com a ordem social e a Psicologia com a individual. A hierarquia e o valor comuns a essas ordens se ligam à questão da Consciência, que é fundamental na experimentação quântica, ligada à observação; é um mistério para a neurofisiologia; está na base da responsabilidade jurídica; é objeto essencial dos estudos psíquicos.

Jesus Cristo, por isso, representa o valor mais elevado da máxima hierarquia humana em termos científicos, porque seu conhecimento transcende o nosso quanto à manipulação da natureza, tendo ele alcançado a ordem física subjacente, no nível quântico, controlando as leis da matéria, multiplicando os pães, curando doentes com energia e andando sobre as águas. Ele é a evolução humana em termos biológicos, o Homem novo, podendo seu nascimento ser interpretado como uma mutação, nascendo de Maria como filho da Humanidade. No plano jurídico-político é o Rei, o Messias, o líder perfeito. E sua consciência é a própria consciência, o limite da consciência humana, em que a individualidade pessoal se funde com a coletividade, levando ao amor ao próximo e até mesmo ao humano que se porta como inimigo.

Por essas razões, a unificação da Ciência depende do conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, somente assim podemos chegar à Verdade, e à Vida eterna, superior e mais valiosa que a vida corporal, ligada a um novo tempo físico, a uma nova concepção de vida, à lei cósmica e à consciência plena: “Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17, 3).

 

 

Imagem Ilustrativa do Post: Ciudad de las Artes y las Ciencias. // Foto de: Alberto Martín // Sem alterações

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