Há Ciência na Poesia ou Poesia na Ciência?

14/04/2023

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Certo dia um leitor me provocou com a seguinte pergunta: “Você consegue distinguir a escrita científica da escrita literária?” Vez ou outra sou pego de surpresa com essas inquietudes inquietantes — e até hoje procuro e ensaio uma resposta para ela. 

Neste texto — que mais se parece com um rascunho roteirizado de uma entrevista poética-literária comigo mesmo — pretendo ensaiar uma reflexão sobre a Ciência e a Poesia.

Iniciemos a conversa.

Leitor-entrevistador: “Você consegue distinguir a escrita científica da escrita literária?”

Autor: Sim, porque a escrita científica difere substancial e formalmente da escrita científica.

Leitor-entrevistador: ‘’De que modo elas diferem uma da outra?’’

Autor: A Ciência possui uma linguagem própria com a qual os(as) pesquisadores(as) se comunicam: ela é direta, clara, objetiva — sem quaisquer firulas, parafernálias ou cores (questiono: é preto no branco ou branco no preto?) – e fundamentada.

Leitor-entrevistador: ‘’E a Poesia?’’

Autor: Eu diria que a Poesia constrói e/ou reconstrói uma linguagem a partir da subjetividade tanto do escritor quanto do leitor.

Autor: Aviso aos(às) pesquisadores(as): não estou falando da técnica como significado da arte (como os gregos nos ensinaram).

Autor: A arte aqui pode ser atécnica (ou seja, sem técnica) porque proporciona à quem escreve a liberdade: de escrever e/ou compor versos, por exemplo — com parafernálias, cores e sentimento.

Leitor-entrevistador: ‘’Poder-se-ía dizer que a linguagem da Poesia não é direta, clara, objetiva nem fundamentada?’’

Autor: A resposta para essa pergunta depende da subjetividade de quem a escreve. Já vi poetas e poetisas que escrevem poemas como se estivessem escrevendo artigos científicos – e se comunicando com pesquisadores(as).

Leitor-entrevistador: ‘’Então, podemos dizer que a Poesia conversa com a Ciência, e vice-versa?’’

Autor: Isso depende de como você as visualiza.

Leitor-entrevistador: ‘’Existe uma forma de escrever Poesia?’’

Autor: Pode-se dizer que há mais de uma forma de escrever poesia.

Leitor-entrevistador: ‘’Quais são as formas de escrever Poesia?’’

Autor: A resposta para essa pergunta também depende da subjetividade de quem a escreve.

Autor: A poesia é uma forma de fazer arte através da escrita de versos, por exemplo.

Autor: Cada poeta e poetisa tem a sua forma de escrever poesia – e deixa marcas de seus tons e sobretons em seus textos.

Autor: Há quem crie técnicas de escrita que envolvem aspectos estáticos ou estilísticos (como rima, alinhamento, métrica) e gramaticais (sintaxe e semântica).

Leitor-entrevistador: ‘’Você utiliza alguma técnica?’’

Autor: Sim.

Leitor-entrevistador: ‘’Pode utilizar um exemplo da sua técnica?’’

Autor: Como reescrever esta frase: ‘’Há Ciência na Poesia’’?

Autor: À Ciência, escrevo — na Poesia: Há Ciência na Poesia, digo; A Ciência na Poesia, quero dizer, é possível?

Leitor-entrevistador: Penso que sim. E para você?

Autor: Certamente. Mas a Poesia ultrapassa a Ciência.

Autor: Epistemologicamente falando, há campos na Ciência que analisam a poesia (a Literatura, por exemplo) – e talvez um lado poético da Ciência, como dizia Affonso Romano de Sant'Anna – e os seus efeitos na vida dos seres humanos.

Autor: Mas a (sempre) Ciência modula(rá) a Poesia em busca da objetividade.

Autor: E é em busca dela que abrimos mão da nossa subjetividade — e, assim, deixamos de lado a nossa essência.

Autor: Assim nós convencionamos.

Leitor-entrevistador: “Existe um modo de fugir disso?”

Autor: Quem me lê, percebe que eu gosto de brincar de preposicionar — e, às vezes, crio palavras como essa para dizer o que não há em nosso vocabulário.

Autor: E o que é preposicionar?

Autor: Explico: preposicionar significa utilizar conectivos que ligam dois termos da frase (os substantivos, adjetivos e advérbios, por exemplo), subordinando um termo ao outro.

Autor: Parece-me que os gramáticos não gostam disso e ficam incomodados com essa técnica.

Leitor-entrevistador: “Por quê?”

Autor: Eu diria que isso é um certo modo de revirar a Gramática e utilizá-la ao inverso para expressar o que não se pode expressar.

Autor: Já pedi desculpas a eles: é o meu modo de me (des)expressar; licencio-me para fazer poesia — e revelar a Arte. Também os convidei para tomar um café e mostrar como a poesia é capaz de ultrapassar a linguagem, mas eles recusaram o convite e me chamaram de ousado por brincar com a Gramática. Ao final de uma acalorada discussão, chegamos a um consenso: a gramática — dos mais diversos idiomas, línguas e dialetos — é tão rica, que podemos (pré-)dizer e redizer uma frase de inúmeras formas – eis a variedade linguística.

Leitor-entrevistador: “Podemos assim dizer que há Ciência na Poesia?”

Autor: A resposta depende da lente que utilizamos para enxergar a Arte.

Autor: Com a lente da Ciência, há, sim.

Autor: O que você sente quando lê um poema? O que é um Poema?  Do que ele é composto? Quais estímulos que o poema produz no(a) leitor(a)? O que você vê nele? De onde ele veio? Para onde ele vai? Como escrevê-lo? Como esse tipo de texto interfere na cultura de um povo? O poema interfere na linguagem? Ou, caso esteja mais atualizado(as) no mundo digital, Como a Tecnologia interfere na Poesia, e vice versa? Estão aí alguns dos infinitos questionamentos para uma agenda de estudos literários-científicos, por exemplo.

Leitor-entrevistador: E com o olhar da Poesia?

Autor: Certamente. É aí que ela mora.

Leitor-entrevistador: A Ciência ou a Poesia?

Autor: As duas. Mas eu me refiro a Arte: as várias formas de se expressar em sua vasta diversidade (com-)plenitude e das quais não podemos nos esquivar.

 

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