Guarde sua purpurina - Um apelo à empatia na livre expressão

25/06/2016

Por Naína Ariana Tumelero – 25/06/2016

Não sei você, mas eu não tenho dúvidas de que há uma nuvem de egoísmo pairando sob as redes sociais, sejam online ou off-line, que faz com que, reiteradamente, muitos confundam liberdade de expressão com apatia.

Veio a Constituição Federal de 1988, para instituir um Estado Democrático a fim de assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, amparado, dentre outros, nos valores supremos da liberdade, segurança, bem-estar e igualdade, formando uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social.

Todos estes valores estão devidamente assegurados nesta mesma constituição, especialmente em seu artigo 5º, em meio a um mar de incisos, alíneas e parágrafos. Dentre tudo isso, ressalta-se o inciso IX, que diz “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

É isso que o inciso diz, não diz que é livre o ataque à integridade alheia em nome da liberdade de expressão.

Ademais, o argumento de “livre expressão” é o mesmo que garante outros valores supremos já citados, como o bem-estar. É aqui que entramos no ponto central do texto, a empatia.

Há algum tempo, assisti a um vídeo sobre a diferença entre empatia e simpatia (vídeo ao final). Trata-se de uma animação de três minutos, muito didática, que pode ser utilizada com crianças, mas com um conteúdo capaz de gerar boas reflexões. A mais forte delas, a meu ver, trata-se da analogia da simpatia com o ato de “jogar purpurina” nos problemas dos outros. Alguns exemplos disso são: “eu sofro preconceito racial”, “ah, ao menos acabou a escravização”; “alguém da minha família morreu”, “mas você tem os outros”; “entrei por cota na universidade, mas sempre estudei muito”, “exceção, porque eu conheço cotistas que...”; “sofro com a homofobia”, “pelo menos não está passando fome”; “sou contra a cultura do estupro”, “até pode ser, mas nem todo homem...”. Mais exemplos podem ser encontrados em qualquer roda de conversa ou timeline de qualquer rede social.

A empatia, por outro lado, não oferece respostas prontas, não “joga purpurina”, tampouco colore problemas que não pertencem a ninguém mais além da pessoa que os está vivenciando, ela faz conexão entre as pessoas. Um bom apoio empático sempre pode ser “não faço ideia de como você se sente, mas se quiser um abraço pode contar comigo”.

Antes de iniciar este texto, fui ao querido Google, pergunta-lo o que ele pensa da palavra empatia, e ele, muito solícito, sugeriu um link, que define empatia como “capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela [...] consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo [...] ajuda a compreender melhor o comportamento em determinadas circunstâncias e a forma como o outro toma as decisões[...]”.

Ah, tá, mas então você quer dizer que ninguém mais pode falar nada e que todas as pessoas devem se amar?

Não, absolutamente não, mesmo porque o conflito faz parte da vida em sociedade, o que esquecemos por vezes, é que a resolução pacífica também faz.

A relação entre liberdade de expressão e empatia, portanto, é o uso consciente e ordenado das ferramentas e oportunidades disponíveis. É um exercício a ser praticado a qualquer momento, independente do público, independente da situação ou questão. Fazer uso de um direito sem atacar nenhum direito alheio que atinja, ainda que indiretamente, a integridade de quem seja também é uma atitude que nos aproxima dos objetivos promulgados da nossa Carta Magna em 1988.

Defender o bem estar, a liberdade e a igualdade, é ampliar a nossa visão para além do “eu”, e começar a nos perceber enquanto “nós” ou “eles”, e isso envolve, dentre outras atitudes, guardar as nossas purpurinas que estão sempre preparadas a ser lançadas, e prestar atenção nas necessidades e questões alheias.


Notas e Referências:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

https://www.youtube.com/watch?v=_7BTwvVBrwE

http://www.significados.com.br/empatia/


Naína Ariana Tumelero. Naína Ariana Tumelero, além de Vegetariana e Feminista, é formanda em Direito, membro do Grupo de Estudos em Relações Internacionais, Direito e Poder e do Projeto de Mediação Escolar, todos na Unochapecó. . .


Imagem Ilustrativa do Post: Social media guru // Foto de: Edwin Leon // Sem alterações

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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