ESTATUAS DA LIBERDADE

10/09/2021

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Cortaram as veias de nossos corações como se cabos fossem. Usando da justificativa de
impedir uma explosão, um fogo intenso, um algo avassalador.
Implodimos!
Cortaram os cabos-veias de nossos corações-úteros, de nossos corações-mundo. Mas
não cortaram as veias que bombeiam “o sentimento do mundo”. Deste, continuamos
inundados. (E ainda bem). Bebemos todos os dias, sorvendo gota a gota, a dor e a
delícia de sermos justamente o que somos. Que não nos baste o “como” somos.
Que não nos bastemos, nem a nós todos, nem a nós mesmos. Nada raso e limitante nos
cabe, porque aprisiona. Desejamos o voo, somos todos juntos, o próprio voo.
Cortaram-nos as veias, sejam elas artérias, ventrículos, carótidas, aorta, caules, caldas
ou cabos. A nomenclatura é indiferente. Fato é: cortaram. Mas não nos podaram as asas,
não amordaçaram nossas almas, não hierarquizaram nossas consciências, muito menos
imputaram-na alguma superioridade de cor.
Cortaram-nos as veias, isto sim. Nos deram próteses identitárias, e chamaram-nas
máscaras de proteção. Ceifaram ilustrativa e literalmente nossa liberdade, de qualquer
tipo de expressão, até de um simples sorriso. Vetaram a nossa liberdade de expressão
mais natural, sorrir!
Cortaram-nos as veias, mas somos sangue, estamos presentes nas partículas do ar.
Somos entregues, somos acima de tudo, humanos. Somos seres humanos. Não cortes,
recortes, pedaços, retalhos ou carne morta, sem vida. O descarte é ato da pequenez que a
brutalidade humana-homem impõe. Mas, o descarte não é de vida, não é da nossa vida.
Isto não permitiremos. Haveremos de resistir!
Nossos olhos ainda sorriem entre tanta e tamanha desproteção. O sangue uno, incolor,
quente e latente ainda pulsa. Somos (re)existências!
Cortaram-nos as veias, mas jamais, em hipótese alguma, tiraram a vida da própria vida.
E não conseguiram, nem conseguirão matar o coração. Órgão supremo, mestre
acolhedor!
O coração que é a mente dilatada, que é a compreensão superior. A crença na e da
evolução, a fé da entrega do melhor. Que é o ato de sensibilizar.
Este coração que se abre, que oferta, amplia, não volta a ter o tamanho anterior, não se
reduz, só propaga, expande, engrandece. Este coração-força, em si mesmo, não basta, e
então emana, alcança, e a todos abraça.
Sangra! Doí! Chora!
Mas neste processo, o seu sangue é halo de pura luz e de um pleno refazimento.

 

Imagem Ilustrativa do Post:  silhouette of person under cloudy sky during sunset photo – Free Bali Image on Unsplash // Foto de: Darya Jum // Sem alterações

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