ESPERANÇA - Nic Cardeal

22/12/2021

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Mais um dia de confinamento. Entre as tarefas rotineiras a cumprir em uma casa cheia de escadas, o tempo parece escorrer pelos degraus. Depois de vinte e dois dias, e apenas duas saídas necessárias, aos poucos meu coração se aquieta, e já consigo pensar em estabelecer projetos saudáveis, entre tantas paredes e um pequeno quintal que diariamente tem a honra de receber o sol matutino de visita. Aproveito essas horas para deitar na rede e convidar a vitamina D a vir morar em minha pele. Depois disso, o tempo é um senhor (aparentemente!) tranquilo, e eu sigo a rotina, ainda que aqui dentro a apreensão tenha feito usucapião dos meus compartimentos.

As escadas são marca registrada desta casa, que me levam para cima e para baixo. Adoro escadas. Exercitam minha paciência e compreensão acerca dos altos e baixos, da necessidade de seguir no aprendizado (às vezes voluntário, outras, imperativo!) do viver no aqui e no agora. Porque só temos, de fato, o agora diante de nossos olhos – limitados no tempo e no espaço tão ilusórios...

Quem dera fôssemos capazes de maior entendimento de nossas próprias limitações humanas! Quem sabe assim, poderíamos abarcar o outro como parte integrante de nós mesmos, um Todo uníssono, onde ninguém ficaria de 'fora' (porque não há 'lá fora'), tendo o Planeta Gaia como nosso melhor Mestre, nossa nave-mãe Terra!

Confesso-me miúda, completamente miúda, nesse processo... Há tanto a refletir sobre o fundamental papel do viver aqui! Quiçá todo esse sofrimento mundial – que não distingue raças, gêneros, credos, posses – faça-nos verdadeiramente merecedores do título de 'Humanidade'...

No dicionário, 'humanidade' está definida, dentre outros significados, como "benevolência, clemência, compaixão, magnanimidade, generosidade, sensibilidade, compreensão, bondade". Que essas designações possam sair da teoria e passar à prática de maneira irrestrita, que sejamos dignos de nos chamarmos humanos e, muito mais do que isso, que possamos exercitar o 'humanitarismo' em sua essência: "colocar acima de tudo o amor à humanidade"; o "que interessa à toda a humanidade"; o que é "condizente ao bem geral da humanidade, considerada coletivamente"; e não apenas a um determinado grupo social considerado 'superior' (?)...

Parece utopia? Sim, eu bem sei que "algumas vezes a coisa mais difícil a fazer é continuar sendo humano" (*)... Mas também sei que "ninguém pode amar e não fazer nada" (**)... Que ao menos possamos reduzir, num mínimo que seja, essa 'astronômica' distância que nos separa da utopia, nesse mundo cada vez mais distópico... Que consigamos deixar de acumular desperdícios, que saibamos compartilhar 'humanidades', porque "para pequenas criaturas como nós, a vastidão só é suportável através do amor" (***)!

Mais um dia de confinamento. Hoje plantei uma muda de esperança no quintal, com a ajuda de Emily Dickinson. Quero muito que ela vingue.

"Esperança é a coisa com asas

Que se empoleira na alma

E canta um som sem palavras

E nunca, mas nunca, para."

(Emily Dickinson)

Feliz renascimento da esperança na Humanidade em cada um dos nossos corações!

 

 

(*) de Michael Franti;

(**) de Graham Greene;

(***) de Carl Sagan.

 

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