ESCALATRIZ

21/10/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Por vezes sentiu-se solitária, ainda que a solitude fosse um deleite durante pouco mais de uma década. As paredes acinzentadas cercam prateleiras de livros densos, críticas das quais ela incendiaria as páginas de estudos relevantes. Janelas com grades invisíveis, bordas decorativas em gesso branco no teto, tacos de carvalho no chão brilhoso compuseram a pequena prisão. Cercou-se de ideais, engajara nas causas que move seu coração. Enquanto suaves notas florais e frutadas guiavam o vento no ambiente, podia observar a alegria em pequenos acontecimentos, que ali, eram grandiosos. O desabrochar de uma flor típica do cerrado, a visita de pequenos pardais, o carinho do gato e o frenesi do cão ao vê-la. A masmorra moral conservou-se por longínquos anos de sua juventude. Envelhecera a alma, sufocando suas palavras... congelara seu coração. O sorriso aberto e expressivo – daqueles que fecham os olhos miúdos – já não tinha o mesmo brilho. Ela, por inteira, não era a reluzente e magnética explosão de argumentos, gargalhadas, cantoria e carinho. Não arriscara nem um refrão de Soledad Bravo, nem uma nota na jocosa tentativa de cantar Mercedes Sosa... nem de brincadeira. O espelho – cuja moldura em arabescos formam um grande adorno gótico – não foi capaz de refletir o seu profundo descontamento com quem tornara. Gaiolas dentro de gaiolas. Enclausurada no caos organizado, minimalista e perfumado. Pouco a pouco calou seus desejos, silenciou suas angústias, idealizou um mundo sem desigualdade e maldade. Almejou um mundo bom, que a deixasse com sentimentos sublimes como quando sentimos o cheiro das matas, da chuva caindo na terra, do café torrado e moído sendo coado vagarosamente exalando o aroma. Desejou a alegria de um carinho canino ou um ronronar felino em seu colo. Um mundo em que pudesse confiar, amar e sentir a reciprocidade de um amor... real, genuíno, puro e feliz. Os pés descalços com as unhas em tom escarlate, repousam levemente ao pisar no taco lustroso, caminhando em direção à única porta do ambiente. Ao girar a maçaneta, encontrou a porta trancada. Como previa. Buscou a chave vasculhando cada canto, cada livro, prateleira, armários. Esvaziou gavetas, pastas e arquivos em vão. Até que, calmamente – com o coração transbordando sentimentos bons, nutridos lentamente – agachou-se em um determinado ponto do chão. Um taco solto, que – no fundo – sabia exatamente qual, abrigara a tão sonhada chave. Escalou muros de pedras e arame farpado Sangrou a pele com leves escoriações. Ao chegar no topo da colina – com as vestes misturando tons de sangue, suor e lágrimas, com pedaços do tecido rasgados – avistou um lindo campo na cor de esmeralda, com flores rasteiras contrastantes. Um infinito e brilhante céu azul abraçou seu pequeno corpo reluzente de esperança e vida. Aqui, inicia-se uma nova história.

Por vezes sentiu-se solitária, ainda que a solitude fosse um deleite durante pouco mais de uma década. As paredes acinzentadas cercam prateleiras de livros densos, críticas das quais ela incendiaria as páginas de estudos relevantes. Janelas com grades invisíveis, bordas decorativas em gesso branco no teto, tacos de carvalho no chão brilhoso compuseram a pequena prisão. Cercou-se de ideais, engajara nas causas que move seu coração. Enquanto suaves notas florais e frutadas guiavam o vento no ambiente, podia observar a alegria em pequenos acontecimentos, que ali, eram grandiosos. O desabrochar de uma flor típica do cerrado, a visita de pequenos pardais, o carinho do gato e o frenesi do cão ao vê-la. A masmorra moral conservou-se por longínquos anos de sua juventude. Envelhecera a alma, sufocando suas palavras... congelara seu coração. O sorriso aberto e expressivo – daqueles que fecham os olhos miúdos – já não tinha o mesmo brilho. Ela, por inteira, não era a reluzente e magnética explosão de argumentos, gargalhadas, cantoria e carinho. Não arriscara nem um refrão de Soledad Bravo, nem uma nota na jocosa tentativa de cantar Mercedes Sosa... nem de brincadeira. O espelho – cuja moldura em arabescos formam um grande adorno gótico – não foi capaz de refletir o seu profundo descontamento com quem tornara. Gaiolas dentro de gaiolas. Enclausurada no caos organizado, minimalista e perfumado. Pouco a pouco calou seus desejos, silenciou suas angústias, idealizou um mundo sem desigualdade e maldade. Almejou um mundo bom, que a deixasse com sentimentos sublimes como quando sentimos o cheiro das matas, da chuva caindo na terra, do café torrado e moído sendo coado vagarosamente exalando o aroma. Desejou a alegria de um carinho canino ou um ronronar felino em seu colo. Um mundo em que pudesse confiar, amar e sentir a reciprocidade de um amor... real, genuíno, puro e feliz. Os pés descalços com as unhas em tom escarlate, repousam levemente ao pisar no taco lustroso, caminhando em direção à única porta do ambiente. Ao girar a maçaneta, encontrou a porta trancada. Como previa. Buscou a chave vasculhando cada canto, cada livro, prateleira, armários. Esvaziou gavetas, pastas e arquivos em vão. Até que, calmamente – com o coração transbordando sentimentos bons, nutridos lentamente – agachou-se em um determinado ponto do chão. Um taco solto, que – no fundo – sabia exatamente qual, abrigara a tão sonhada chave. Escalou muros de pedras e arame farpado Sangrou a pele com leves escoriações. Ao chegar no topo da colina – com as vestes misturando tons de sangue, suor e lágrimas, com pedaços do tecido rasgados – avistou um lindo campo na cor de esmeralda, com flores rasteiras contrastantes. Um infinito e brilhante céu azul abraçou seu pequeno corpo reluzente de esperança e vida. Aqui, inicia-se uma nova história.

Por vezes sentiu-se solitária, ainda que a solitude fosse um deleite durante pouco mais de uma década. As paredes acinzentadas cercam prateleiras de livros densos, críticas das quais ela incendiaria as páginas de estudos relevantes. Janelas com grades invisíveis, bordas decorativas em gesso branco no teto, tacos de carvalho no chão brilhoso compuseram a pequena prisão. Cercou-se de ideais, engajara nas causas que move seu coração. Enquanto suaves notas florais e frutadas guiavam o vento no ambiente, podia observar a alegria em pequenos acontecimentos, que ali, eram grandiosos. O desabrochar de uma flor típica do cerrado, a visita de pequenos pardais, o carinho do gato e o frenesi do cão ao vê-la. A masmorra moral conservou-se por longínquos anos de sua juventude. Envelhecera a alma, sufocando suas palavras... congelara seu coração. O sorriso aberto e expressivo – daqueles que fecham os olhos miúdos – já não tinha o mesmo brilho. Ela, por inteira, não era a reluzente e magnética explosão de argumentos, gargalhadas, cantoria e carinho. Não arriscara nem um refrão de Soledad Bravo, nem uma nota na jocosa tentativa de cantar Mercedes Sosa... nem de brincadeira. O espelho – cuja moldura em arabescos formam um grande adorno gótico – não foi capaz de refletir o seu profundo descontamento com quem tornara. Gaiolas dentro de gaiolas. Enclausurada no caos organizado, minimalista e perfumado. Pouco a pouco calou seus desejos, silenciou suas angústias, idealizou um mundo sem desigualdade e maldade. Almejou um mundo bom, que a deixasse com sentimentos sublimes como quando sentimos o cheiro das matas, da chuva caindo na terra, do café torrado e moído sendo coado vagarosamente exalando o aroma. Desejou a alegria de um carinho canino ou um ronronar felino em seu colo. Um mundo em que pudesse confiar, amar e sentir a reciprocidade de um amor... real, genuíno, puro e feliz. Os pés descalços com as unhas em tom escarlate, repousam levemente ao pisar no taco lustroso, caminhando em direção à única porta do ambiente. Ao girar a maçaneta, encontrou a porta trancada. Como previa. Buscou a chave vasculhando cada canto, cada livro, prateleira, armários. Esvaziou gavetas, pastas e arquivos em vão. Até que, calmamente – com o coração transbordando sentimentos bons, nutridos lentamente – agachou-se em um determinado ponto do chão. Um taco solto, que – no fundo – sabia exatamente qual, abrigara a tão sonhada chave. Escalou muros de pedras e arame farpado Sangrou a pele com leves escoriações. Ao chegar no topo da colina – com as vestes misturando tons de sangue, suor e lágrimas, com pedaços do tecido rasgados – avistou um lindo campo na cor de esmeralda, com flores rasteiras contrastantes. Um infinito e brilhante céu azul abraçou seu pequeno corpo reluzente de esperança e vida. Aqui, inicia-se uma nova história.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Henrietta Rae (1859-1928) - Spring's Awakening, or The Snow Maidens (1913) // Foto de: ketrin1407 // Sem alterações

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