Entrevista com Ricardo Genelhú, autor de Terrorismo Policial

29/02/2020

O ano de 2020 mal começou e já estamos lançando obras incríveis. Sou suspeita pra falar, mas acho que o livro do Dr. Ricardo Genelhú, Terrorismo Policial está entre os meus favoritos.

Ainda não está disponível para compra no nosso site, mas já já ele chega. Fique de olho!

1) Ricardo, poderia falar um pouco sobre o tema do livro?

O título do meu novo livro é Terrorismo policial: empilhando corpos, enxugando sangue. Analisando-o pode parecer que é um texto que critica os policiais, mas, na verdade, ele toma de assalto a ideologia perversa e truculenta da instituição “Polícia Militar”. Ao mesmo tempo ele é uma defesa acentuada do policial e da população. De sorte que nele eu sustento a necessidade imediata de desmilitarizarmos a atuação daquela. Nele eu trato das questões que envolvem a polícia, e sua participação no nosso sistema penal cruel, das consequências trágicas dessa relação, tanto para o policial quanto para a população, e sobre o que podemos fazer para reduzirmos os danos produzidos – e que são conhecidamente sangrentos: diante da indiferença da maioria morrem policiais, morrem civis, e o que resta é apenas dor e manutenção do problema da violência, que não é resolvido e se reproduz.

2) Como foi o processo de criação do livro?

O livro é resultado da pesquisa que eu tive a oportunidade de realizar em meu segundo Pós-Doutorado na Alemanha, em 2017, em Política Criminal - o primeiro fora em Criminologia (2016) -, sob a supervisão do Professor da Universität Hamburg, SEBASTIAN SCHEERER, a quem muito agradeço.

3) De que forma o estudo desse livro contribui para o nosso meio jurídico?

O livro contribui desmistificando a ideologia de que uma maior ou melhor atuação policial resultará em uma retração da criminalidade e dos criminosos. Ele também evidencia que a polícia se autonomizou, ganhando cada vez mais arbitrariedade. Arbitrariedade que é suportada pelo lombo dos azarados da vez, objeto do despejo de toda a angústia que os policiais, maltratados, descarregam. Nele eu demonstro que existem técnicas constitucionais, criminológicas, antropológicas, sociológicas, históricas e psicológicas competentes para desmilitarizarmos a polícia, reduzindo a violência que o sistema produz ao higienizar os espaços sociais.

4) Qual a importância de falarmos sobre o tema para a reflexão/aprendizado do público leigo também?

Sem perder a seriedade que um assunto dessa complexidade exige, o livro foi escrito em uma linguagem altamente simples e acessível a qualquer leitor. Nele eu repito uma técnica que usei no Manifesto para abolir as prisões, que é um livro que escrevi com o meu professor alemão, SEBASTIAN SCHEERER. Essa técnica consiste em intercalar informações teóricas com notícias jornalísticas pertinentes. Isso facilita a compreensão do leitor, pois alia a teoria do livro à realidade do seu cotidiano. Desse modo consegue ele perceber que vivemos em um país em que a militarização da polícia serve como controle das classes indesejadas e desobedientes, embora se apresente como um meio, já falido, de prevenção e solução dos crimes. Espero despertar com ele ainda mais a capacidade crítica das pessoas sobre o assunto. Na nossa atual sociedade qualquer um pode ser vítima da seletividade policial. E isso é assustador...

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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