Enquanto Assiste Ao Telejornal

02/11/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

É inegável o cansaço.
Ser mulher, hoje, é aviltante
Soa como uma palavra impronunciável.
Um ser inominado.

A despersonalização do ser e da luta incessante pelo mínimo
Aquela igualdade distante, ecoa no fosso das dores.
O sofrimento imposto, traduzido em cicatrizes, retrata a tirania de um sistema que
explora, objetifica, tortura e mata.
Preocupam-se com o útero, com a beleza padronizada, com a moral e com a submissão.

Exigem o direito de abusar de cada uma de nós – que tem uma história de violência para
contar.
Institucionalizam o sossego para violar nossos corpos e nossas almas.
O assédio no trabalho, o estupro na festa, a agressão do namorado, a humilhação do
marido, a proibição do pai, a vingança do pretendente, a perseguição do obcecado, o
contracheque alterado.
Gaiolas com grades eletrificadas, mordaças de espinhos, espelhos que destroem a
autoimagem, perfumes que exalam notas de angústia e subserviência.

Diariamente despersonificam nossos desejos e nossas essências, e brutalizando com os
nossos corpos.
Não temos o direito sobre o útero, sobre a roupa, sobre o batom, sequer sobre a nossa
forma de relacionar.
Mas tudo isso é uma repetição daquela história extensa sobre o que é ser mulher.
Mulheres, mães, avós, tias, amigas, irmãs, namoradas, noivas, desconhecidas,
encarceradas, trabalhadoras, desempregadas... quantos sonhos morreram?
Em vida, sonhos de vida morrem, evanescendo pelo ar.
Quantas mulheres que abandonaram suas essências e desejos em prol do lar, da família,
das imposições, da sociedade e da moral, você conhece?
Talvez, nunca tenha parado para pensar nisso.
Talvez, você não se importe, pois não são os seus sonhos.

Não é a sua morte.

Enquanto sonhos são brutalizados, corpos mutilados, mentes torturadas, vozes
silenciadas, imposições e restrições cada vez mais severas são institucionalizadas contra
as mulheres
Mais um gráfico ocupa a tela da TV, estatísticas, números, mulheres.
Mortas, assassinadas, torturadas
Aterrorizadas, desmoralizadas, caladas.

E você?
Você toma outro gole do seu másculo whisky duplo sem gelo e respira aliviado ao
lembrar: “não é a minha morte!”.

 

Imagem Ilustrativa do Post: TV // Foto de: mohamed_hassan // Sem alterações

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