Empreender na advocacia exige mudança de comportamento

15/05/2017

Por Camila Berni - 15/05/2017

Advogar hoje, nesse ambiente tão globalizado, já não é mais como antigamente. Replicar modelos de sucesso do passado já não garantem o sucesso nos dias de hoje, e quiçá trarão os resultados pretendidos para o futuro. O mercado mudou, as pessoas mudaram, o cliente mudou, a tecnologia mudou, o marketing mudou, a economia mudou. O País mudou. O mundo mudou.

Como atuar, então, frente aos desafios de viver da advocacia e buscar o sucesso e o reconhecimento na profissão?

Empreender se torna o caminho.  Empreendedorismo não é ensinado nas escolas, muito menos nas faculdades de Direito.

Advogados, então, quando saem dos bancos da graduação se veem diante de um dilema: fazer concurso público, trabalhar para outro escritório ou abrir o próprio escritório. São formados técnicos, operadores do Direito, conhecedores das leis e dos processos sem qualquer base de conhecimento de negócios, gestão, marketing e empreendedorismo. Mesmo que não se tornem donos de escritório, esses conhecimentos e comportamentos serão fundamentais em qualquer outra posição que ocupem.

No livro O mito do Empreendedor, de Michael E. Gerber, o autor relata que alguns profissionais técnicos são acometidos de uma fatal suposição: a de que quem entende o trabalho técnico de um negócio entende o negócio que faz o trabalho técnico. E a traduz como fatal por ser completamente equivocada e responsável pelo fracasso das pequenas empresas. Para ele, o trabalho técnico de uma empresa e a empresa que faz um trabalho técnico são coisas completamente diferentes.

O autor continua, lecionando que profissionais técnicos, por alguma razão específica, momento da vida ou mesmo desejo de mudar a condição em que estão, são acometidos pela doença do empreendedorismo e acabam tratando o negócio não como um negócio em si, mas um lugar onde vão para trabalhar. A crença é de que por conhecerem profundamente o trabalho técnico estão imediatamente habilitados a administrar o negócio que realiza o trabalho técnico. Ledo engano. Com o passar do tempo o trabalho técnico acaba virando mais uma tarefa no meio de tantas outras que o profissional não domina e o sonho de ser dono do próprio negócio se torna um pesadelo.

Na advocacia não é diferente. Advogados são seres humanos e comportamentos humanos são universais. Advogados tecnicamente muito bem preparados, que decidem empreender não por opção mas por falta dela, com o passar do tempo, sentem na pele os desafios do empreendedorismo e da aquisição de novos comportamentos e conhecimentos para que o negócio técnico, a advocacia, possa dar certo e se manter de forma sustentável.

Muitas vezes, empreender na advocacia não é a primeira opção, a de eleição natural, mas a decorrência da falta de outras opções viáveis financeiramente em meio a estruturas já postas e consolidadas no mercado jurídico.

O primeiro passo é a mudança comportamental: a conscientização de que advogados que abrem seus escritórios são, além de advogados, donos de negócio.

Segundo a ONU, no programa de desenvolvimento de empreendedores EMPRETEC, 10 são os comportamentos universais presentes nos empreendedores: busca de oportunidades e iniciativa, persistência, correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca de informações de mercado, estabelecimento de metas, planejamento e monitoramento sistemáticos, persuasão e uso da rede de contatos, independência e autoconfiança.

Todos são de extrema importância e relevância e um não sobrevive sem o outro.

A busca de informação de mercado, o planejamento e monitoramento sistemáticos, o estabelecimento de metas e o uso da rede de contatos, ao meu ver, são o calcanhar de Aquiles da advocacia.

Análise de mercado, perfil do público alvo, identificação de necessidades, mapeamento de soluções jurídicas, tendência econômicas, macro e micro economia, estabelecimento de uma visão de longo prazo, comunicação com o mercado (marketing ético), definição de metas, cumprimento de prazos, uso da rede de relacionamentos de forma eficaz e capacidade de execução. Aprimorar e desenvolver, prioritariamente, esses comportamentos podem transformar o destino de um escritório.

Todo negócio tem a “cara” do dono, toda equipe responde à qualificação do seu líder. Sócios de escritórios são líderes e como tal precisam responder, em comportamento, à altura do posto.

O sucesso de qualquer empreendimento, como é um escritório de advocacia, está intimamente ligado ao desenvolvimento desses comportamentos nos sócios, que terão condições de avaliar a melhor estratégia de negócio para a sua advocacia.

Não basta saber só o técnico, a lei e o processo. Há que se ampliar conhecimentos e habilidades em outras áreas como gestão e empreendedorismo. Ampliar o olhar para o ambiente de negócios, independentemente da área de atuação.


Notas e Referências:

GERBER, Michael E. O Mito do Empreendedor. Por que a maior parte das pequenas empresas não dá certo e o que fazer a respeito. 2 ed. São Paulo, SP: Editora Fundamento Educacional, 2011.

EMPRETEC. Manual do Participante. Sebrae. Brasília, DF. 2011.


Camila Berni. . Camila Berni é advogada, consultora em Gestão e Marketing para Advogados. . . .


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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


 

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