Ela

09/07/2019

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

 

Eram cáquis e margaridas

Os presentes da conquista

Serenata, poesia e canção

Para enganar aquele sincero coração

Tem amor que é embuste

Às vezes, demora-se para enxergar

Dá tempo até de criança chegar

Uma mãe nascer

Dos filhos, sozinha cuidar

E querer, para sempre, os amar

Nasceu alegre e azulzinho numa sexta à tarde

Para brindar a força das mulheres

No dia das bruxas

Tempo depois é que descobriria o malabarismo em seus pés

Cada ano, uma vitória

Nos álbuns, tantas recordações

De momentos especiais na luta diária

Ela logo chegou

Poesia da vida

Alegria da primavera

Flor do meu jardim

Cor e riso

Fantasia real

Continuação das ancestrais

Onde estiverem

Quero estar em seus caminhos

Por saber o que era o amor, sorriu ao entardecer da vida

Joias preciosas

Amadas e amorosas

À espera do dia 09

Para fechar mais um ciclo

Mais uma dezena

Para comemorar

Mais dias para sonhar

E acreditar

Que tudo já foi

E que tudo ficará

O dia amanhece

Os passarinhos voltam a cantar

O sol a luzir

O mar a vibrar

A política a doer

Atrás do dinheiro correr

Não adoecer

Um caminho a trilhar

Ser menina, jovem, mulher, mãe

Ver o tempo passar

Não saber o que esperar

Ser avó, quem sabe?

Só o tempo dirá

Daqui a cem anos, uma semente de mim se lembrar

Com minha fotografia na mão, ao querer sua história resgatar

Vai saber que vieram as Antônias, as Marias, as Franciscas, e as Anas

Muito antes

E que o tempo vai passar de novo

Dos ventres

Novas vidas a desaguar

Nas correntezas que começaram

Nas veias abertas da cacimba poética

Das águas levadas no lombo de jumento

Nas sangrias das barragens e açudes

Antes do sertão virar mar

Que é para a força dessas mulheres

Ser lembrada

As apanhadoras de algodão

Imortalizar-se nos cactus que cuidou

As agricultoras com seus balaios na cabeça

Com as enxadas nas mãos

Cuidando de seus roçados

Alimentando uma geração

Para as outras que virão

São águas de mim

Águas que passam

Águas que ficarão

Fiz riacho no meu ser

Águas doces que escorreram pelas pernas

Toda sangria que não pode ser parada

Barragens incontíveis de sentimentos

Águas salgadas que desceram pelos olhos

A vida perdida e passada faz falta

Porque foram águas que rolaram

Que passaram e regaram tantas vidas

 

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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