DESESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA 2

14/07/2023

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

O discurso era o mesmo:

é preciso mudar para modernizar!

E o rolo compressor

demonstrou o seu valor:

deixar de ser gente

para ser intermitente...

mas, se ganhar mais,

ser hipersuficiente,

ou também estar

gestante ou lactante

trabalhando sem restrição

em local insalubre

pela liberdade de um tostão

a mais na conta corrente...

 

O discurso era sedutor:

é preciso combater a má fé!

E o direito de ação

encontrou sua limitação:

afinal, só pode ser abuso

querer procurar direitos de graça,

porque é caro demais

postular para ficar devendo:

a audácia de buscar lã,

para voltar tosquiado...

Agora tudo pode ser negociado,

desde que seja para perder

o pouco que sobrou:

prometeram nenhum direito a menos,

mas deram apenas menos direitos...

Vire autônomo exclusivo

ou descubra que

vale quanto ganha

quando pleitear reparação

por danos extrapatrimoniais...

Terceirize sua atividade,

resolva-se com arbitragem

ou ganhe gratificação

em vez de salário...

 

Descubra-se em uma encruzilhada,

em que terá de escolher

entre ter direitos sem nenhum emprego

e um emprego sem direito a ter direitos

Seja tratado como coisa,

pois seu preço é a culpa da crise

Assim, é melhor chamar de

abono, prêmio ou participação,

mesmo que não deixe

de ser seu único ganha-pão

 

Os fins justificam os meios

A ordem agora é

flexibilizar tudo:

empresas sem empregados,

pessoas sem coração,

terceirizam até a Justiça,

se houver acordo com o patrão

 

O tempo passa,

só não passa a sensação

de ser passado para trás

Direitos mudam ou desaparecem

e só não some o único direito

verdadeiramente inalienável

e presente desde criança:

o de chorar sozinho

por ainda manter a esperança...

 

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