Desabrochar nossas potências

30/07/2015

Por Daisy Ehrhardt - 30/07/2015

Outro dia assisti a um vídeo de uma entrevista do Professor da USP, Clóvis de Barros Filho, ao Jô Soares onde ele falou sobre desabrochar nossas potências para a conquista de momentos felizes, ou seja, aqueles momentos que não desejamos que acabem nunca. Diz que para Aristóteles, é preciso fazer desabrochar as potências que são próprias. É como se você fosse a muda de uma planta e, como muda, tivesse a potência de se tornar uma grande árvore, mas que pudesse, também, não vingar. A muda que vinga é a vida bem sucedida para Aristóteles.

Transportando isso para a questão institucional do notariado brasileiro, percebemos claramente um desejo, um clamor pelo aperfeiçoamento da classe, pela conquista de novos espaços, pela solidificação da imagem do notário como profissional da confiança das partes. Percebemos também o nascimento de uma nova realidade para nossa atividade e também por esse motivo, o desabrochar aqui tem espaço, somos uma planta nova (constitucional/institucional) que acabou de nascer dentro de um cenário completamente diferente de outrora.

Com tantas mudanças que tem nos cercado ultimamente talvez seja o momento perfeito para questionar quais as potências do notariado que devem ser desabrochadas para a conquista de momentos de felicidade da classe, para aproveitarmos momentos que não precisam acabar nunca, nos dizeres do empolgado professor.

Como notários, profissionais do direito estão lidando com a questão da liderança? Será que todos os notários já estabeleceram um planejamento estratégico? Será que o notário brasileiro tem consciência de quais os valores de referência que importam e que traduzem o modo como seu trabalho e de sua serventia está sendo percebido dentro da sua realidade local (missão, visão, valores)?  O notário brasileiro (e não sua associação de classe) no seu cotidiano está realmente preocupado em desenvolver todo seu potencial em prol de sua comunidade? Isso está sendo planejado? Quais as ações que cada notário pode planejar dentro de sua própria serventia para, por exemplo, acabar com as filas no balcão, melhorar o atendimento, treinar seus colaboradores, envolver-se com a comunidade, conseguir o engajamento de sua equipe, desenvolver novos potenciais entre seus colaboradores (para que sejam futuros notários!).

Outro dia ouvi uma consultora de qualidade dar uma dica tão simples para notários e registradores. Basta, todos os dias, fazer a seguinte pergunta: "O que eu não estou vendo?". Fazer essa pergunta, todos os dias, para seus colaboradores, para seus clientes e perceber que realmente não enxergamos tantas falhas e tantas melhorias simples que poderiam ser implementadas dentro das serventias, muitas vezes sem custo algum.

E o que não estamos vendo como classe? Não estamos vendo que precisamos ir até as escolas, empresas, associações, espalhar lições de cidadania. Podemos ir aos cursos de direito falar sobre nossa atividade, podemos ir a todos os cursos superiores falar sobre nossa atividade. É nosso dever melhorar o nível intelectual das pessoas. Todos os dias recebemos clientes que não tem a menor noção do que é feito em nossas serventias, sentem medo ao invés de confiança. E de quem é a culpa? Quem pode falar melhor sobre o que fazemos do que nós mesmos?

Onde está nosso potencial? Amamos nossa profissão, nos envolvemos com o atendimento, com as minutas, com atas notariais, com as pessoas que chegam até nós porque precisam e não porque gostam. Mas nós não nos envolvemos com as pessoas que estão do lado de fora da porta da nossa serventia. Aquelas que jamais virão até nós para querer saber mais sobre o assunto se não mostrarmos o quanto é importante e interessante exercermos nossos direitos de cidadania e desenvolvermos nossa educação cívica para sermos tratados com respeito pelos nossos governantes.

Qual é o nosso potencial maior?  Quais são os nossos desafios? O que nos impede de desabrochar todas as nossas potências?

Sob meu ponto de vista, depende muito mais de cada um fazer a sua parte em sua serventia, em sua comunidade. Mostrar à população o que podemos fazer, buscar pelas bases, começar pelas escolas, universidades, buscar pelo cidadão.  A luta institucional sim deve ser com o governo, com as Corregedorias e Tribunais, mas o tabelião, individualmente, tem que fazer seu papel em sua comunidade. Se não mudarmos a base, não conseguiremos replicar esse conhecimento. Precisamos fazer isso o tempo todo, como verdadeiras campanhas de cidadania, até que fique claro o bastante para o povo, que por sua vez vai eleger seus representantes, os quais vão nos dar ouvidos.

Precisamos escolher, precisamos tomar a decisão e plantar sementes que com certeza vingarão se mantivermos uma postura proativa, se definirmos claramente nossos objetivos fazendo um verdadeiro ensaio mental de tudo o que queremos ver acontecendo e então definir uma rota de ação planejada que, etapa por etapa, dia após dia, vai nos aproximar da realização de nosso potencial. Seremos a muda que vinga apontada por Aristóteles.


modelo molduraDaisy Ehrhardt é Titular do Tabelionato de Notas e Protesto da Comarca de Porto Belo/SC, Mestre em Ciência Jurídica pela UNIVALI, Especialista em Direito Civil e Direito Registral Imobiliário pela PUC/MG e em Direito Administrativo pela UNISUL.

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Imagem Ilustrativa do Post: I want grow up // Foto de: Bruno Cordioli // Sem alterações

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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