Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
O que aconteceu conosco
nós, humanos
que perdemos o interesse
e a vontade de olhar
o outro com profundidade?
Por que nos isolamos tanto
em nossas redomas
protegidos até de nós mesmos
para não ver
não sentir
não conhecer?
A mixofobia,
Bauman[i] dizia,
é o medo de misturar-se
é o não querer estar perto
do estranho,
do desconhecido,
do diferente.
As cidades se constróem
para nutrir a fobia
para nos deixar em agonia
e não permitir o contato,
não autorizar o estar perto.
Não se trata da proximidade
corriqueira da vida
em que esbarramos uns nos outros
o tempo todo
e não nos reconhecemos.
Trata-se da palavra oposta
a mixofilia
a vontade de conhecer
misturar-se,
agregar-se,
sentir prazer em acessar a cultura
e o pensar diferente.
O que aconteceu conosco
em que o medo do diferente
nos deixou ausentes
da possibilidade de viver o novo,
de estar com gente,
de ver o invisível?
Até quando nos isolaremos
e não perceberemos
nossa falta de humanidade
de amor e de solidariedade?
Até quando estaremos cegos
em busca do conforto
do não olhar,
não conhecer,
não abraçar,
não acolher?
Até quando?
Notas e Referências
[i] Zygmunt Bauman fala sobre a mixofobia e a mixoflia em sua obra Amor Líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos.
Imagem Ilustrativa do Post: Empty Chair // Foto de: Thomas // Sem alterações
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