Eis um livro plural por excelência - se é que isso pode ser afirmado. Não se trata de mais um mero compilado coletivo de textos. Aqui, pluralidades singulares irredutíveis movimentam-se distante de um objeto - em que pese compartilhem zonas de intensidades comuns sob espectros da criminologia e da crítica filosófica - mais ainda longe de uma autoria - não obstante a nomeação do autor pronta a unificar a escrita. Como lembram Deleuze e Guattari, se cada um de nós somos vários, isso já é muita gente. Um livro, diziam, afinal sempre é inatribuível, senão como um agenciamento de multiplicidades. Agenciamento plural que somente podem ser dito coletivo ao preço de não mais assumir tal coletividade como mero "plural de eu". Para além da problemática que há muito se interroga sobre o que é um autor - e que conduz à convocação da alteridade de qualquer autoria - o que seria ele senão a fixação de um nome que somente pode representar um rastro de uma intensidade? (...) Se crítica ainda quiser fazer algo que não consista meramente em dizer que as coisas não são bem como são, que tenha a coragem, em termos criminológicos filosoficamente fundados, de expor que tipos de evidências, de modos de pensamento adquiridos e não refletidos repousam as práticas da penalidade que naturalizamos.
(...) Doutro modo, sua urgência e dificuldade estão aí: tornar visíveis as práticas da penalidade que teimam se transformar perpetuamente e impedir outros modos de vida. O livro, portanto, carrega este ímpeto de forças múltiplas e críticas sob a tensão da desnaturalzação das violências que a penalidade exerce.