Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
É um convite?
Depende.
De que?
Condutas.
Como assim?
O isolamento social epistemológico, é sim, obrigatório, imperativo, de responsabilidade individual e de amplos reflexos coletivos. Entrou em nossas vidas sem bater às portas, se estabeleceu sem pedir licença, e infelizmente se mantem entre nós sem nosso consentimento.Uma escolha sem escolhas,uma alternativa sem alternativas. Em que resistir é na verdade assumir não querer existir e assim, desistir de prosseguir.
E do que fala então?
Da permissividade de cada um se entregar por inteiro à mudança. Ao (re)fazimento que se descortina diante de nossos olhos. Da metamorfose que podemos ter. De todo o semântico, emocional e humano que o distanciamento tem em si arraigado. A não familiaridade com obra-prima, pronta e acabada, mas a descoberta do encantamento místico da pedra brutaà espera de ser lapidada, preparada e (re)feita.
Pode ser mais clara?
O nosso modo de ser, o eu interior, as perspectivas, prioridades, valores, a nossa forma de ver e reconhecer o outro, podem e devem ser moldados agora, que tudo parou. E para tanto carece de permissividade, autorização, aquiescência e abertura. Chaves que somente em nossas individualidades acessamos, para um possível fazer. Há quem vá passar por tudo isso, e continuar cultuando e cultivando o mestre do ego e do narcisismo que mora em si. Há outros que nunca mais encontraram seu antigo eu, se beberem gota a gota desse outono-humano. Aqueles que se derramam à magia da mudança, a arte de abraçar as suas fragilidades, expor misérias e amar seus próprios fragmentos, se reerguerão melhores, coesos e transformados. É esse o nosso lugar de encontro, nosso lugar de conexão, nas sensações caras de vulnerabilidade da alma humana, como o amor e a morte.
Que o absurdo que vivemos continue sendo sentido como absurdo, como distante, abrupto, como peste. Que não nos acostumemos a viver nesse estado de exceção que estamos. Que o estrangeirismo do outro se transforme em nosso lugar, que não sejamos raça, gênero, sexo, etnia, religião, mas que sejamos unos. Que saibamos “fechar os olhos para escutar”, e que ao emprestarmos nosso corpo para ser “lar” do outro, falemos silenciosamente em polifonia estrondosa capaz de transmutar, transfigurar e ecoar empatia em suas muitas possibilidades concretas.
Nem sempre o início é no começo, nem sempre a vida-humana vem de um parto natural. Às vezes o meio pode ser o início, o filho adotivo é o natural, e uma pandemia é a implosão do novo Big Bang que fará surgir uma nova geração de humanidade. Não sabemos se o Big Bang foi a exata criação, o início, porque não sabemos o que existia antes dele. Não temos assim a existência ou a inexistência, definida e estabelecida, vai além do intelecto humano.
Ousemos usar agora de sentimentos e sensações que nos permitam ser, conscientes donosso elo, que nos permeia e conecta sempre.
Às vezes um vírus que é disseminado acelerada e assustadoramente, vem exatamente para mostrar e reafirmar a revolução que somente o amor é capaz. Que sejamos vetores de empatia, que transmitamos amor a cada ato, e que todos se contaminem rapidamente e por completo de humanidade. E que contaminados possamos perceber que nessa doença contem a nossa cura. E que morrendo de amores encontremos a vida em abundância, a vida fecunda.
Por isso, COVID-SE!
Compartilhemos a gratidão e admiração por simplesmente estarmos aqui.
Juntos podemos fazer coisas memoráveis, em um mundo sem fim.
Por isso, COVID-SE!
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