Corona vírus: lavo minhas mãos. Luta do ser humano ou da humanidade?

16/03/2020

Quando se trata do ´Corona Vírus´ (COVID-19), talvez, um dos grandes problemas que se evidencia para a humanidade é o seguinte: simplesmente, o ser humano não está preparado para o ser humano.

Um novo vírus, sem medicamento que o anule e sem infraestrutura suficiente para amenizar a dor de todos os afetados, exalta a incompetência do ser humano de cuidar dos seus, para que ocorra a perpetuação da sua espécie, ou, para que seu semelhante não sofra da forma que o próprio ser humano não gostaria de sofrer.

Então, defende-se a humanidade como ´perpetuação da espécie´, ou a humanidade como ´sentimento de empatia´ pela dor de seu par quando se encontra em situações negativas?

Outro possibilidade é imaginar que o ser humano, na verdade, não se encaixa em nenhuma dessas possibilidades.

Isso pois, é de fácil verificação empírica que:

- O ser humano quer viver mais, aproveitar mais, ser mais do que seus semelhantes, porém, no mesmo tempo comum que sempre existiu e sempre existirá, pois o tempo não depende de sua vontade.

- O ser humano luta para que, em seu tempo disponível, mais aconteça do que o próprio tempo comporta.

- O ser humano se empenha para que o seu tempo se alongue mais do que pode gerenciar.

Assim, de tempos em tempos, o ser humano se depara com sua fragilidade frente ao que deixou de fazer para, aparentemente, aproveitar o tempo que lhe resta.

Nessa condição, de pretender ser um ser humano que não pode, o ser humano colide com sua plena incapacidade de ser humano.

Desse modo, outras expressões de vida afetam negativamente os seres humanos e os deixam histéricos, pois, como sabido, são simples seres humanos.

Então, uma das principais angústias do ser humano frente ao novo vírus corona, de forma geral, reside na impossibilidade de atendimento a todos os doentes ao mesmo tempo de qualquer sistema de saúde das sociedades organizadas atuais.

Novamente, nesse cenário que se repete na história do ser humano e da humanidade, algo que não se vê e se espalha em razão da interatividade humana direta, ameaça a condição humana dos seres vivos afetados pelo novo vírus.

E, como sempre ocorre na humanidade conhecida e lembrada, uma das principais questões que se exaltam frente ao cenário catastrófico construído pelo ser humano é:

Quando será que o ser humano conseguirá se concentrar no que realmente importa para a perpetuação da sua espécie, ou, novamente, continuará a se concentrar no seu desenvolvimento econômico para que máquinas ocupem o seu tempo de ser humano?

Enquanto não se encontra a melhor resposta para tal questão, resta ao ser humano, então, entocar-se. Permanecer em suas casas, isolados. Deve, também, evitar aglomerações e redobrar a qualidade de seus hábitos de higiene.

Mas, por que?

Porque ser humano é cuidar do outro humano. E isso, aparentemente, o ser humano ainda não consegue ser.

Porém, nada une mais o ser humano do que um inimigo em comum.

Logo, lembre-se, o inimigo, agora, é de todos e não apenas de um lado ou de outro político, religioso, gênero, racial, orientação sexual, etc.

O inimigo é da humanidade, não do ser humano.

Lave as mãos.

Eu já lavei as minhas.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Regular Checkups // Foto de: Sonny Abesamis // Sem alterações

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