BREVES NOTAS SOBRE O BIOAPRIMORAMENTO MORAL DE MARCELO DE ARAÚJO

12/10/2018

Coluna O Direito e a Sociedade de Consumo / Coordenador Marcos Catalan

No dia 27/09/2018, junto à Universidade La Salle Canoas, ocorreu mais um encontro do Grupo de Pesquisas Teorias Sociais do Direito. Na oportunidade, dirigi discussão sobre texto de Marcelo de Araujo, intitulado “Redesenhando a natureza humana: bioaprimoramento moral e a busca pela resolução de conflitos políticos”. Diante de discussão tão produtiva considerei oportuno dividi-la com os leitores desta coluna.

O texto trata do bioaprimoramento moral e indaga como isso pode auxiliar na diminuição dos conflitos políticos tanto dentro de um país nas relações entre países. O autor inicia explicando que o aprimoramento moral existe como ideia há muito tempo, lembrando que pode ser qualificado como aprimoramento moral, por exemplo, a educação, as artes e o próprio Direito. Assim, a tentativa de melhorar moralmente as pessoas não seria uma grande novidade para a sociedade. O termo bioaprimoramento é utilizado ante a utilização da biotecnologia para modificar ou reforçar certos ideais morais nos seres humanos. O autor afirma que o uso do aprimoramento moral é extremamente necessário para que a sociedade possa existir no futuro, entende que se os seres não melhorarem moralmente irão acabar se destruindo[1]

Para permitir a compreensão de como o bioaprimoramento moral funcionaria e porque seria necessário nos dias de hoje, o autor explica que existem outros mecanismos aptos a modificar a capacidade moral das pessoas, como hormônios e remédios diversos, tornando-as mais (ou menos) violentas ou mais (ou menos) dispostas a aceitarem coisas. Assim, a biotecnologia utilizaria esses meios de modo a contribuir para que a ideia moral das pessoas fosse melhorada, desenvolvendo a pré-disposição para serem mais benevolentes e caridosas[2].

Questiona-se, assim, se o bioaprimoramento moral teria o condão de resolver imediatamente os conflitos políticos vividos entre estado e dentro deles. O autor acredita que a resposta para essa pergunta é negativa, explicando que o estado, da forma como está organizado, estimula o desenvolvimento de conflitos políticos. Assim, considerando este contexto, entende que não adiantaria melhorar moralmente os seres humanos em um estado que estimula a ocorrência de conflitos na sociedade[3].

O autor explica que, dentro de um estado, existe o soberano (presidente), o qual traz a confiança entre as partes e, também, o medo das sanções decorrentes da desobediência às ordens. Neste cenário, faz o seguinte questionamento: se o soberano age de modo que as pessoas cooperem entre si e, assim, os conflitos diminuam, por que ainda existem conflitos entre estados? Explica que isso ocorre na medida em que não existe um soberano para apaziguar conflitos entre estados[4].

Ainda, o autor traz uma contraposição à ideia do bioaprimoramento, informando os males que pode trazer. Reflete sobre como pode ser utilizado para manipular pessoas em vez de fazer com que sejam mais benevolentes, tornando-as mais frágeis e suscetíveis a aceitar qualquer coisa que lhes for oferecida (como um ataque terrorista, por exemplo). Em conclusão, o autor reforça a necessidade de reformulação da ideia de estado para que os conflitos políticos possam diminuir e, assim, o bioaprimoramento moral possa ter efetividade[5].

Enfim, como observa o leitor, a discussão parece ser deveras atual em tempos tão conturbados ...

 

Notas e Referências

[1] ARAÚJO, Marcelo de. Redesenhando a natureza humana: bioaprimoramento moral e a busca pela resolução de conflitos políticos. Unisinos Journal of Philosophy. vol. 17, no 3. p. 374-383, sep/dec 2016. p. 2.

[2] ARAÚJO, Marcelo de. Redesenhando a natureza humana: bioaprimoramento moral e a busca pela resolução de conflitos políticos. Unisinos Journal of Philosophy. vol. 17, no 3. p. 374-383, sep/dec 2016. p. 2.

[3] ARAÚJO, Marcelo de. Redesenhando a natureza humana: bioaprimoramento moral e a busca pela resolução de conflitos políticos. Unisinos Journal of Philosophy. vol. 17, no 3. p. 374-383, sep/dec 2016. p. 3.

[4] ARAÚJO, Marcelo de. Redesenhando a natureza humana: bioaprimoramento moral e a busca pela resolução de conflitos políticos. Unisinos Journal of Philosophy. vol. 17, no 3. p. 374-383, sep/dec 2016. p. 4.

[5] ARAÚJO, Marcelo de. Redesenhando a natureza humana: bioaprimoramento moral e a busca pela resolução de conflitos políticos. Unisinos Journal of Philosophy. vol. 17, no 3. p. 374-383, sep/dec 2016. p. 7.

 

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