ARGENTUM

24/04/2019

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

 

Ânimos em chamas,  chefe espumando de raiva por mais uma derrota.  Ira aos quatro ventos. A reunião estava por começar mas sem hora para acabar. Ele, pobre diabo, acostumado as humilhações e destemperos do malvado, não teria como se safar. Condenado a labuta infernal sem direito a hora extra nem aposentadoria.

O patrão, tirano, possuía inveja insana do seu concorrente. Acreditava que um dia o derrotaria e seria líder no ramo. Vivia por arquitetar planos, os mais diversos, na tentativa de superá-lo, mas os esquemas perversos sempre acabavam dando errado. 

A maldade e paranoia do infeliz era tão grande, que certa vez chegou a afirmar que haviam espiões infiltrados no staff nos boicotando.  Ameaçou acabar com os malditos. Pavor instalado, cizanha imensa, meses de intrigas e desconfiança, até que dois infelizes, sem prova alguma, foram sumariamente condenados. Atitude típica do ditador.      

Aqui, falsidade e fofoca correm soltas. Dizem, as más línguas, que o perverso começou sua carreira como assistente junior daquele que considera seu rival. Cresceu profissionalmente, destruindo todos que cruzaram o seu caminho. Conquistou a confiança do diretor geral e foi promovido a assessor da diretoria. Então, em ato de vilania, tentou aniquilar o Superior e foi escorraçado feito cão. Confesso que daria tudo para vê-lo naquela situação.

Infelizmente o desgraçado possui inteligência demoníaca. Pouco tempo depois montou o próprio negócio na ilegalidade, influenciando e aproveitando-se dos mais incautos. O estabelecimento cresceu de maneira inacreditável mas sabe-se, não chega aos pés do patrimônio do grande Criador.                                                                                                                                                          

Ouvem-se passos, ranger de dentes, tremor. O tinhoso entra na sala, calor insuportável, não se ouve um pio, ninguém se atreve a piscar enquanto ele crava os olhos em cada um de nós. 

A reunião inicia.

-Minha vingança se concretizará. Tive uma ideia implacável!  Sibila.

A sala, repleta de puxa sacos, aplaude.

- Algo revolucionário, inigualável! Desenhei um objeto capaz de hipnotizar a humanidade. O desejarão mais que tudo, será impossível viver sem ele.  Gerará poder, usura, discórdia, ódio. Tudo que sempre almejei. Fará com que irmão mate irmão, esqueçam do pai. Por causa dele, surgiram vícios, destruíram fauna, flora, aconteceram guerras sem fim.  

- Começou a megalomania... Alguém sussurra baixinho...

-  Quem se atreve ?! Berrou.

 O hálito insuportável de enxofre empesteia o lugar.

-  Escoria de covardes! Traidores, incompetentes, imprestáveis.

Olhos em brasa recaem sobre mim. Sempre eu, escolhido por antiguidade. 

- Você! Fale.

-Excelência, sua ideia é sem dúvida, incrível. Tem tudo para dar certo. O único empecilho, talvez seja elaborar o projeto de criação desse artefato tão grandioso.  Qual seria o material? Que nome  daremos a esse produto?

- Minha ideia é fantástica. Acha pouco?! Fará dos homens escravos e depois de escravizá-los, destruirei todos os filhos daquele que se considera “ Supremo”.

- Está aqui para que?! Cretino. Faça o projeto, rápido. Se falhar será rebaixado ao quinto dos infernos! 

- Tome o rascunho.

Jogou os garranchos em cima de mim e levantou-se.

- Você tem sessenta e seis hora e seis segundos para entregá-lo pronto. Agora, sumam  daqui! Vociferou.

                                                                                                                        

O estupor sempre concedia prazos ínfimos para execução.                                                                                                              

Como fazer o tal “objeto fantástico”? Mais um plano que dará em nada. Até porque aquele que “É, que sempre Foi e sempre Será”, já deve estar sabendo de tudo e  como isso  acabará.          

Quanto a mim, não perderei tempo, destruirei esse absurdo. Quem sabe assim Deus me perdoa e ganhou um upgrade para o purgatório.

O jogarei nas chamas, em segundos estará tudo acabado. Finalmente, livre das trevas!  

Estarrecido observa o crepitar das labaredas. A combustão se agiganta, o rascunho derrete, condensa, toma formato, endurece. Algo diabolicamente reluzente salta do fogo.  Surge o  mal de todos os males*Argentum! 

 

* Argentum: prata, dinheiro.

 

 

 

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