“En un mundo donde la educación es predominantemente verbal, las personas muy cultas hallan punto menos que imposible dedicar una seria atención a lo que no sea palabras y nociones.” Aldous Huxley
- Presta atenção
Em um determinado momento do filme Django Unchained, de Quentin Tarantino, o personagem "Monsieur" Calvin J. Candie, com sua peculiar sofisticação, profere uma de suas melhores frases: “Cavalheiros, vocês tinham minha curiosidade. Agora têm minha atenção”.
Perguntar sobre a influência da atenção em nossos estudos implica entender, in primo loco, não apenas que tudo ao que prestamos atenção define nossa experiência, senão que a questão mais importante se resume em como converter a vulgar curiosidade em atenção deliberada, a apatia em diligência intencionada, a indiferença em cuidadoso interesse. Atentos, pois; porque, pior que ridículo, me parece de uma arrogância cega e alucinante pretender que o ato de aprender seja algo fácil. Tentarei explicar ao que me refiro evitando vagar por disquisições irrelevantes para o que aqui interessa.
A atenção é em geral um pilar de nossos níveis cognitivos, porque é através dela que o cérebro filtra, seleciona e decide o que passa pelo crivo e o que não, alerta e orienta para o que é importante e o que, surpreendentemente, não o é. São redes (da atenção) que conformam um sistema de estruturas cerebrais específicas conectadas e sincronizadas entre si que trabalham continuamente, uma mescla de adaptações evolutivas para não enlouquecermos em um mundo sobrecarregado de estímulos e fatores individuais canalizados pela experiência e a vida de cada um.
E se há algo vital para poder aprender certa informação é estar atentos. Aquilo ao que prestamos atenção é o que melhor recordamos posteriormente (tanto é assim, que somente percebemos conscientemente aquilo que está em nosso foco de atenção). O único inconveniente é que nossa capacidade de manter a atenção seletiva e prolongada no tempo é muito baixa: “usar la cabeza nos cansa rápidamente y tenemos una gran facilidad para distraernos con otras cosas más divertidas que una pila de libros” (C. A. Logatt Grabner) – Que dúvida cabe que uma publicação em Facebook ou uma mensagem de WhatsApp não é mais atrativa e divertida que uma teoria jurídica ou um manual veterinário de canaricultura?
Nadamos em um oceano de estímulos constantes. É quase um milagre que possamos fixar nossa atenção em algo dada a profusão de informação que entra no cérebro a cada instante, para não falar dos incontáveis pensamentos que saltam à consciência. A capacidade que temos para centrar-nos, ainda que apenas por certo tempo, é um triunfo extraordinário da atenção que nos permite selecionar alguns objetos externos ou internos para o conhecimento consciente, e ignorar o resto (R. Davidson). Mas, embora a capacidade de prestar atenção seja o recurso mais escasso da mente (ou limitado do cérebro), constitui o único umbral de que dispomos para absorver o que estudamos, sem que as distrações a que estamos constantemente expostos nos agitem a alma; sua orientação guiada através de atos voluntários nos conduz à concentração, e isso requer preparação.
Para o bem ou para o mal, o fato é que, na prática cotidiana, o ingrediente mais importante à hora de criar as conexões neurológicas para os dados semânticos, e para recordar esses dados, é a atenção focalizada ou seletiva. Quando atendemos mentalmente aquilo que estamos aprendendo, o cérebro pode mapear a informação na qual estamos concentrados. Ao contrário, quando não prestamos uma total atenção ao que estamos fazendo no momento presente, nosso cérebro ativa uma batelada de circuitos sinápticos que podem distrair-nos de nosso objetivo original. Sem uma atenção focalizada, não se criam conexões e não se armazenam recordos. Em outras palavras, não criamos conexões sinápticas a largo prazo. (J. Dispenza)
Mas não é isto tudo. Quanto maior seja a concentração de uma pessoa, mais fortes serão os sinais que se enviam aos neurônios associados, o que leva a um maior nível de ativação. A atenção origina uma estimulação mais elevada, que supera o limite normal da ativação neuronal e incita a unir-se a novos grupos de neurônios: a criação de conexões sinápticas no cérebro só tem lugar quando se presta atenção a um estímulo. (M. Merzenich)
Por certo que qualquer estímulo deveria criar novos circuitos no cérebro, mas, se não prestamos atenção ou não atendemos a dito estímulo, os neurônios jamais criarão conexões fortes e duradouras. Desse modo, com o fim de ativar por completo os circuitos apropriados, é imprescindível certo grau de aprumo e estar atentos ao que estamos fazendo para concentrar o cérebro nos dados desejados. É o ato de prestar atônita atenção ou de utilizar a concentração focalizada que nos permite criar recordos sólidos e, dessa forma, engendrar um aprendizado mais significativo e efetivo.
O que implica que estar atento significa simplesmente ter controle sobre a atenção: poder colocá-la onde se deseja e deixá-la ali fixa, até que nos decidimos dedicá-la à outra coisa. A atenção voluntária e seletiva (essa capacidade de sintonizar com determinados estímulos e ignorar outros) é a única atividade que nos permite aprender de forma segura, consistente e durável, e constitui o elemento essencial para um bom rendimento. Quando a atenção está fixa, também o está nossa mente: não se encontra distraída nem sequestrada por qualquer coisa que lhe chegue à consciência, senão estável, assentada e imperturbável.
Recordemos que a atividade consciente acompanha a atenção, e a atenção está relacionada com a plasticidade de nossas sinapses. Quando aprendemos, é a atenção consciente que nos permite alterar literalmente a mente e o cérebro em relação com a nova informação. E ainda que diferentes o perfil pessoal relacionado com a capacidade de atenta observação, empenhar-se em desenvolver um maior controle sobre a atenção quiçá seja a maneira mais poderosa de adquirir um determinado conhecimento, consolidá-lo e armazená-lo em nosso cérebro, para poder utilizá-lo no momento em que o necessitarmos. Resumindo, em todas as situações é necessário estar empenhado e por atenção; se não se está preparado, se não se está comprometido ou a atenção não é a adequada, as atividades correspondentes (e seus resultados) se realizarão de forma deficiente ou não se realizarão em absoluto – melhor dito: “sin emoción no hay curiosidad, no hay atención, no hay aprendizaje, no hay memoria”. (F. Mora)
Um conselho: para aumentar e aprimorar a atenção é importante minimizar (ou eliminar) as distrações que sobrecarregam ainda mais nossas capacidades cognitivas, diminuem nosso aprendizado e debilitam nosso entendimento. Ordene seu ambiente de estudos e elimine tantos estímulos estranhos e supérfluos como possa. O mais conveniente é que haja o mínimo de ruído possível, sobretudo os que produzem as conversações; se for possível fechar a porta, feche. Exercite-se em fazer uma só coisa de cada vez, porque o cérebro humano não está desenhado para trabalhar em várias ações ao mesmo tempo (multitarefa). Se estiver estudando, faça isso e nada mais: ignore por completo seu celular, internet e/ou qualquer outro dos tentadores meios virtuais que fomentam “la lectura somera, la reflexión apresurada y distraída, el pensamiento superficial”. (N. Carr)
Em certo sentido, no ato de estudar, o que se deve intentar fazer é “ser esclavos de aquello en lo que fijamos nuestra atención”. (D. Gilbert)[1]
Notas e Referências
Ó Membro do Ministério Público da União/MPU/MPT/Brasil (Fiscal/Public Prosecutor); Doutor (Ph.D.) Filosofía Jurídica, Moral y Política/ Universidad de Barcelona/España; Postdoctorado (Postdoctoral research) Teoría Social, Ética y Economia/ Universitat Pompeu Fabra/Barcelona/España; Mestre (LL.M.) Ciências Jurídico-civilísticas/Universidade de Coimbra/Portugal; Postdoctorado (Postdoctoral research)/Center for Evolutionary Psychology da University of California/Santa Barbara/USA; Postdoctorado (Postdoctoral research)/ Faculty of Law/CAU- Christian-Albrechts-Universität zu Kiel/Schleswig-Holstein/Deutschland; Postdoctorado (Postdoctoral research) Neurociencia Cognitiva/ Universitat de les Illes Balears-UIB/España; Especialista Direito Público/UFPa./Brasil; Profesor Colaborador Honorífico (Associate Professor) e Investigador da Universitat de les Illes Balears, Cognición y Evolución Humana / Laboratório de Sistemática Humana/ Evocog. Grupo de Cognición y Evolución humana/Unidad Asociada al IFISC (CSIC-UIB)/Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas Complejos/UIB/España; Independent Researcher; Criador Nacional (Harzer Roller) - C.N.: IJ-075 - Federación Ornitológica Cultural Deportiva Española F.O.C.D.E.; Cod. Federal FOCDE: 08104 (Asociación Club Canaris de Cant Catalunya, Badalona/ Socio nº 25).
[1] Sobre este último ponto, o conselho de Plutarco e Sêneca era o mesmo que o de Montaigne: “Concéntrate en lo que está presente ante ti, y préstale atención plena”.
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