Apaga esse sorriso da cara: estudar sem esforço para concurso, um objetivo impossível (Parte 2)

25/05/2018

Para ser grande, sé entero: nada tuyo exageres o excluyas. Sé todo en cada cosa. Pon cuanto eres en lo mínimo que hagas.”

Fernando Pessoa

2. A genialidade requer tempo e esforço para desenvolver-se e segue uma trajetória previsível

Embora fazer esforços mentais seja uma capacidade limitada, todos temos um enorme potencial para aprender conhecimentos e habilidades novas e para melhorar as que já temos. De fato, surpreende o rápido que se produzem os câmbios nos neurônios quando aprendemos, posto que no prazo de segundos começam a formar-se novas conexões, em minutos aparecem como tais e em horas podem haver-se estabilizado e estar formando sinapses funcionais. (I. Morgado)
A ilusão é que “é fácil fazê-lo” ou que podemos aprender qualquer coisa com pouco esforço. Como adverte Daniel Kahneman, uma lei geral do “mínimo esforço” rege na atividade tanto cognitiva como física. Esta lei estabelece que se há várias formas de lograr o mesmo objetivo, o indivíduo gravitará finalmente até a pauta de ação menos exigente. Na economia da ação, o esforço é um custo e a aquisição de habilidade vem determinada pelo balanço de custos e benefícios. E uma vez que a preguiça está profundamente arraigada em nossa natureza, sempre a melhor opção é a que implica um menor custo, um menor gasto de energia.
Assim as coisas, da próxima vez que amável leitor (a) decida estudar, o primeiro que deve procurar entender e assumir é que o verdadeiro aprendizado requer disciplina, paciência, perseverança, dedicação, prática intensa e muito, muito esforço. Tenha claro que seus objetivos importam mais que qualquer outra coisa, sem se preocupar com o difícil que possa parecer as circunstâncias às quais terá que enfrentar-se.
Assuma o esforço, a tenacidade e a obstinação como uma força positiva e construtiva, não como uma enorme e pesada carga, e mostre-se radicalmente cético em relação às afirmações de que simples artimanhas, métodos milagrosos ou fórmulas mágicas podem liberar o potencial de sua mente e/ou facilitar a tarefa de estudar e aprender. A ideia de que podemos fazer qualquer coisa, ser quem queiramos ser e/ou ter tudo o que desejamos «agora mesmo», antes de esforçar-nos e trabalhar duro para lográ-lo, gera a (falsa) crença de que nada é impossível, de que existe um atalho para tudo, uma via rápida para «ser» ou alcançar o que «queremos» empenhando-nos o menos possível. Venenosa insensatez.
Todas as propostas sérias para desenvolver o aprendizado dão por sentado a eficácia da prática e do esforço pessoal. Até há pouco tempo isto era mais um artigo de fé que uma hipótese demonstrável. Nada obstante, graças ao trabalho de K. Anders Ericsson, hoje sabemos que a “prática deliberada” é o melhor caminho para melhorar o rendimento cognitivo; isto é, a prática realizada com plena consciência (e intensa concentração) com o fim de evitar ruídos indesejáveis e resultados negativos.
Sem prática deliberada, sem atenção plena, sem esforço, propósito e sentido de direção, todo trabalho nunca será suficiente. Nas palavras do próprio Ericsson: “O trajeto até o desempenho verdadeiramente superior não é para os pusilânimes nem para os impacientes; o desenvolvimento de uma genuína preparação requer luta, sacrifício e um grande esforço pessoal, honrado e com frequência doloroso. Não há atalhos”.
Além disso, o verdadeiro esforço é uma virtude que modela e enobrece nosso caráter, um valor intrínseco que independe de resultados futuros. Não olvide que se a esperança é a expectativa de que as ações do presente produzam uns resultados positivos no futuro, esforçar-se é a única via segura para ir desde onde estamos até onde queremos estar. E o mais importante: tenha claro que todo êxito não somente demanda esforço, senão também uma sensata falta de impaciência. O fracasso continuado é o vício dos impacientes, dos indolentes e - me atrevo a dizê-lo - de todos aqueles (assombrosamente) perseguidos de forma contumaz, insanável e única pela má sorte.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Birth of the world celebration (1997) - Urbano (1959) // Foto de: Pedro Ribeiro Simões // Sem alterações 

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/pedrosimoes7/40319408110

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/2.0/legalcode

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura