Apaga esse sorriso da cara: estudar sem esforço para concurso, um objetivo impossível (Parte 13)

10/08/2018

El infierno es esperar sin esperanza”. André Giroux

  1. Esperarás sobre todas as coisas

 

Que somos seres com um talento extraordinário para cambiar nosso ponto de vista sobre as coisas com o fim de poder sentir-nos melhor em relação a elas (D. Gilbert), com uma habilidade fascinante para negar a realidade (A. Varki & D. Brower) e com uma capacidade insólita para acostumar-nos a qualquer coisa são ideias que todos conhecemos e que se repetem constantemente na vida diária acerca de muitos aspectos. Quem não tem esta capacidade, natural por outra parte, está condenado a repetir em sua mente os fracassos mais amargos e as vivências mais tristes, encerrado no lamento e na dor do que passou (todas as coisas que já não podemos alterar), sem poder acertar em compreender nem o presente (todas as coisas sobre as que podemos atuar), nem o futuro (todas as coisas que só existem em nossa fértil imaginação).

Apesar de que todos os argumentos antes mencionados são essenciais, é importante ter presente que sem esperança qualquer ação que realizemos não será completamente satisfatória. Ter esperança possivelmente seja uma das regras mais importantes de todas (a despeito de que sempre vivemos hic et nunc: “aqui e agora”). De fato, nossa maneira de ver as coisas e de como nos sentimos em um determinado momento da vida depende em grande medida de como pensamos ou antecipamos o que sentiremos no futuro; isto é, que o que se espera é o que importa em realidade (I. Kirsch) e que as crenças e as expectativas acerca do futuro influenciam, condicionam ou determinam em boa medida o que ocorre no presente contribuindo a como pensa, sente e atua uma pessoa. (P. Zimbardo)

Se o amável leitor (a) se observa por uma vez a si mesmo, constatará que vive de contínuo pensando por adiantado. Somos o único animal que pode contemplar seu futuro, o único que pode transladar-se mentalmente pelo tempo, prever uma variedade de futuros e imaginar o que lhe causará mais prazer ou menos sofrimento. Ademais, o simples fato de pressentir (esperar) um destino mais favorável já é suficiente para permitir derrubar os muros dos fracassos que nos esmorecem e aprisionam.

O encanto da esperança é fazer-nos penetrar no desconhecido, distorcer a realidade e abrir na trama do tempo uma benéfica fissura. O que aspiramos a ser ou lograr é o que modela e enobrece nosso caráter, a melhor versão de nós mesmos. A mais insidiosa de todas as concessões é a que o indivíduo pactua consigo mesmo quando suas esperanças começam a decair, quando começa a aceitar passivamente suas próprias limitações e fracassos, etapa em que na maioria das vezes denota uma retirada e esgotamento frente ao medo de um futuro imaginado e não uma justa apreciação de suas próprias forças e potencialidades. Um tipo de atitude que subverte nossa confiança, interfere em nossos atos, mutila nossa determinação. Também corrompe nossa percepção, criando obstáculos e fantasmas onde não existe nada. 

Por isso uma boa atitude consiste em aprender a confiar na vida, educar nosso cérebro a ver o futuro com serenidade e moderação, escolher os fatos e as ilusões que queremos crer, e, o mais importante, não confundir nossas expectativas e/ou aspirações pessoais, por muito bem fundamentadas que estejam, com como atuará (ou poderá atuar) o futuro. Saber que junto ao «sentido de realidade» existe também um «sentido de possibilidade» é precisamente o que nos permite abrir os olhos respeito às múltiplas alternativas com que a vida nos brinda e o que nos motiva a assumir o compromisso de cumprir nossos desejos pessoais; quero dizer, de empenhar-nos na consecução de certas coisas de uma lista de objetivos sonhados ou esperados pelos quais merece a pena esforçar-se.

Mas cuidado com as abstrações. Ainda que a esperança seja um de nossos grandes dons (T. Sharot), uma virtude que, bem cultivada, não depende de seus resultados, um antídoto contra a ansiedade, a angústia e a tristeza (que Montaigne considerava o pior vício que existe e a paixão mais covarde e vil) que podem chegar a ser muito limitantes[1], não há que olvidar que seu sentido (da esperança) requer uma perfeita combinação entre diligência, opções e esforço: estar disposto a atuar (diligência), ter o talento para pensar nos caminhos (opções) que podem levar até o objetivo esperado e a segurança de  haver feito todo o possível (esforço) para lográ-lo tendo em conta as circunstâncias.[2]  

Assim as coisas, ao traçar metas e ter objetivos (que nos darão o que queremos lograr ou onde queremos chegar) é igualmente importante ser esperançados, mas não brutalmente apáticos; otimistas, mas não estupidamente incautos; sonhadores, mas sem expectativas delirantes e/ou desmesuradas.

 

Notas e Referências 

 

[1] Também deveria mencionar a ideia da falsa esperança, quer dizer, a que vai contra toda possibilidade realista, em cujo caso se considera que é uma forma não desejável de enfrentar-se a um fracasso potencial. Não tem nenhum sentido pensar na esperança somente quando as possibilidades de êxito estão a nosso favor. A esperança não quer dizer que tudo vai sair bem, senão simplesmente que é «possível». No prólogo ao livro de sua esposa, Seymour Epstein, o marido de Alice, dissipa com notável fortuna esta visão negativa da esperança: “Algumas pessoas temem as «falsas esperanças». Nunca entendi o que é uma falsa esperança. Toda esperança é «falsa» no sentido de que aquilo que se espera pode que não se materialize. No momento de ter esperança ninguém pode saber o resultado. Se a esperança serve para melhorar a qualidade de vida e não causa que se evite tomar uma ação de adaptação quando isso é possível, nem que se sinta ressentimento se o resultado esperado não se materializa, então obviamente é algo desejável”. (R. S. Lazarus & B. N. Lazarus).

[2] Recordemos que a «esperança» não é mais que um desejo, um sentimento, uma emoção ou uma mera expectativa de que as ações do presente «podem» produzir uns resultados favoráveis no futuro, sempre e quando nos esforcemos diligentemente para alcançá-los através da ação, da força emocional (que implica o exercício da vontade para alcançar as metas ante uma oposição externa ou interna) e da melhora constante, sem importar as circunstâncias, de nossas virtudes e capacidades para transitar pela existência.

 

Imagem Ilustrativa do Post: OBEC Estudos #1 - 07/04/2017 // Foto de: OBEC Bahia // Sem alterações

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