Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Há alguns meses, todas as manhãs, o espelho me engole espantado. No início, foram alguns fios brancos que iluminavam minha cabeça e eu até me divertia removendo com uma pinça. Aos poucos, eles foram ganhando mais e mais espaço, até que eu descolori muitos fios mais para que harmonizassem com aqueles. Um sinal de sorriso passou a se insinuar forte, ainda que eu não estivesse sorrindo. Um sulco fino no canto dos olhos marcava muitas gargalhadas dadas até então e outras tantas lágrimas.
Eu tentava me convencer de que era interessante, inteligente e de que aquelas marcas seriam um sinal disso, de alguém que viveu e foi vivida. Marcas nas pernas de muitos degraus e trilhas. Manchas nos braços de muitos verões na praia. Marcas na testa de leituras que me construíram.
Todos os dias, o espelho revela tudo isso. Eu aceno para ele e saio para viver.