ANCESTRALIDADE: SINÔNIMO DE LIBERDADE  

26/02/2021

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Delírios. Pranto. Saudade.

Sintomas nítidos do banzo

Que hoje transvisto em canto.

Na minha ancestralidade, me acalanto.

Por ela, inspiro e respiro liberdade.

 

Amarras, máscaras, correntes.

Armaram-se, amarraram-nos até os dentes,

Enquanto a derme pseudobranca denotava carecer

De justificativas verdadeiramente decentes.

 

Eis que, na contemporaneidade,

Parecem buscar as belezas das afroancestralidades.

Não porque de suas raízes têm orgulho ou desejam conhecer,

Mas por serem elas caminho para no Carnaval se enaltecer.

Sim, escurecer a pele vale para encenar e se autopromover.

 

A fúria do movimento tem seu sono desperto.

A militância, enraivecida, avisa: fiquem espertos!

Do teu "foi sem intenção" o inferno está cheio, irmão.

A textura negra não é fantasia a vestir teus anseios.

É a cor de um povo, com raízes históricas fortes.

Vão para longe com os seus devaneios!

 

Trance suas madeixas claras e lisas,

Mas o faça porque, com elas, sua alma fica linda,

Por sentir-se a falar com os seus antepassados,

Não porque o traçado não lhe passa de um afropenteado.

 

Enquanto mulher de pele ébano,

Não sou obrigada a nada.

Não tenho que a pseudobranquitude servir,

Não tenho que do axé ser adepta,

Não tenho que meus fios crespos assumir.

Assumida sou desde que nasci.

Não tenho que aderir a esta religião ou àquela seita,

Não tenho que a cabeça com um turbante vestir.

 

Nada disso tenho por obrigação.

Meus antepassados suas vidas aprisionadas já tiveram.

Se hoje estou aqui, ser livre e feliz é a minha única missão,

Melhor forma de retribuir por eles já terem sofrido por mim.

 

Paradoxal, irmão, é quem prega a plena liberdade

Enquanto impõe ao outro uma vida de submissão

A regras e regramentos sem uma válida finalidade.

 

Decida-se: perpetuação do ódio ou a todos liberdade?

Ser visto como igual ou contribuir para a desigualdade?

Abraçar o outro como semelhante ou como ser de outra classe?

 

Classe de pessoa, animais ou descendentes

Da mesma espécie, talvez parentes.

Não sei. Só sei que, querendo ou não,

Negando ou rejeitando a tua ancestralidade,

Somos todos afrodescendentes.

 

Então, respeita a nossa rompante história.

Respeita a nossa patente.

Reverencie as realezas africanas de que descendemos.

E aceita que tu és preto, com ou sem textura epitelial reluzente.

 

Imagem Ilustrativa do Post: blue sea // Foto de: Nathalia Segato // Sem alterações

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