Abolidos pelo medo e libertos como se fossem animais

08/06/2021

Coluna Justa Medida

Que o tempo passa disso sabemos, mas no que tange aos meios em que a esfera do racismo se propaga não podemos fazer separação de um passado não tão distante, frisar o antes e o pré do abolicionismo é integrarmos a meta ao combate nesta atualidade que tende a querer aflorar os distanciamentos da raiz do que foi a era passada.

A tal abolição dos “Escravos Negros” do Brasil (já notória a conotação de escritas e falas de que negros só podiam serem escravos) e as condições em que foram libertos (ou soltos), mesmo antes de serem libertos eram tidos como animais para execução de trabalhos, na agricultura, mineração, trabalhos domésticos e apanhavam como um animal qualquer para execução de tais serviços; dando amplamente a ideia de racismo estrutural desde a época da colonização.

E após mais de cem anos da abolição, muitos continuam trabalhando nas mesmas condições: sem acesso à educação, saúde, às vezes trabalham dez horas diárias, a maioria não tem acesso a terra e mora em favelas; comunidades e enfrentam problemas diários em como se encaixar na sociedade que leva um padrão antigo e de ideias ainda escravagistas.

Fazemos menção também de que mesmo após a aprovação da Lei da Abolição, os negros não foram libertos de imediato. Muitas fazendas e minas ainda mantiveram pessoas negras em regime de escravidão, e para cessarem seu crime exigiram e receberam indenizações para tal. Privilégio de ser branco.

O mais interessante é que enquanto se discutia e se aprovava a Lei de Abolição do Escravos, existia uma outra Lei sendo discutida “ A Lei das Terras”, aprovada pouco tempo depois após a aprovação da lei de abolição da escravidão. A Lei das Terras foi criada para permitir o acesso às terras, consideradas do Estado, por intermédio de compra destas terras em leilões.

Na prática dificultou o acesso às pessoas que não tinham recursos financeiros para tal aquisição por intermédio da compra, como aquelas que deram o sangue - sem autorizar essa retirada - pela terra, e nada tiveram em troca.

Os negros foram “libertos” - soltos, como animais - sem terem direito de acesso as escolas, sem nenhuma profissão para defenderem seus sustentos, sem indenização alguma pelos trabalhos forçados e sem acesso a um pedaço de Terra para retirarem o seu sustento.

É claro que a pessoa pode imaginar que o tratamento dados às pessoas negras e indígenas serem muito piores que os dados aos animais, tanto que nos direitos mais simples e vitais não tiveram acesso; não deram moradia, e nem comida e muito menos  o serviço a mão de obra nas terras para que eles tirassem o sustento da concorrência que na época existia pelos imigrantes que vieram e tiveram posse juntamente com os donos de terras, que controlavam o Estado, e que não queriam negros que estavam livres no beneficio da lei das terras; restringindo o acesso a ninguém mais ter a possibilidade de produção, negando a concorrência na produção e assim aumentava a produção e mão de obra; porém mais barata.

No ápice de modernidade, ainda há uma lacuna a ser enfrentada: o que o passado fez na memória de nós; os espaços vazios declinam sobre atos de indiferenças e posicionamentos normativos que não nos deixa claro a efetividade de leis, e sugere um ilícito, mas ao mesmo tempo decapita o que na realidade é: de um racismo integral, que não injuria, mas respaldado em lei clara e objetiva existente, sem ressalvas e sem salvamento de privilégios.

Carecemos de olhar mais justo a trazer-nos pra realidade de que liberdade não abrange apenas uma carta de abolição, mas de realmente ter toda estrutura dada a ela e de brancos no meio de iniciativas ao combate de todo racismo, e aos negros terem a liberdade de estarem fazendo parte de todo sistema como iguais, sociedade e campos alternativos e facultativos que se queiram sentar e estarem.

Que o medo se esvaia, que seja a libertação tratada como a cessação de um crime continuado de sequestro, que sejam as pessoas negras tratadas como seres humanos e não mais como animais.

 

 

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