Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
A vida é tão rara!
E aquela imagem congelada está sempre a nos olhar,
o seu olhar acompanha,
é só uma foto(grafia) e mais nada.
Mas,
o porta-retratos ali posto, sinaliza e simboliza uma espécie de pertencimento
a algum lugar.
Uma literatura de pertencimento,
um vínculo identitário imagético,
porém completamente real.
E o amanhã onde está?
Sinto que me perco no tempo.
Ao tentar cronometrar, fragmentar, fracionar o que é ininterrupto.
Mesmo que eu saiba que, tudo vive para que eu viva,
há uma condição que não se cura,
pedra indócil que estrala claridade,
implora para que eu permaneça,
uma escolha feita inconsciente.
Transformo-me em palavra estanque!
Inerte, petrifico-me.
Quantos eus não são meus?
Quantos eus não são meus e compõem tudo o que sou eu?
Somos mesmo uma humanidade?
Uma reflexão incomoda, incessante e sem fim.
Sempre inconclusiva.
Sou tomada por uma incontrolável inquietude,
que impele, que impede que se esqueça ou que se desaprenda o que já se sabe,
contudo, faz todo o apagamento em mim e do quem sou.
Experiencio uma objeção de consciência absoluta,
que faz do segundo seguinte vazio de sinais, significados e símbolos.
Para onde eu irei?
Não sei.
Mas farei a minha própria estrada, camada por camada,
viverei cada curva, cada erro e sorverei de todas as vezes que me perder.
Seguirei e perseguirei uma promessa que se perfaz intangível.
Deixarei o pensar, para puramente sentir,
para confiar na floração da via-crúcis de minha existência.
Aconteceu-me alguma coisa, sei pelo fato de não o saber.
E ao dessaber, é que acabo por saber de tudo.
O que é isto que eu sinto?
O que é que se ouve? Houve?
O que se passa aqui dentro?
De tudo nada eu entendo.
Surpreendentemente tenho agora um ângulo de visão inusitado,
transvejo o mundo.
Sou sensivelmente afetada ao afetar,
me desestabilizo, ao encontrar no outro pouso.
Há muralhas, mas elas não me impedem.
São ineficazes, irrelevantes e transponíveis.
Inexistem gaiolas, paredes, cimento, construção.
O que se vê é o que sentimos dentro de nós: um horizonte sem fim.
O eu oculto em mim é assustador,
mas, eu simplesmente o abraço.
O reconheço.
Aconchego-o em meus braços, e o acolho.
Ele fica sem reação, porque amor paralisa.
Justo ele, que não passa de uma alegoria fantasmagórica,
na qual, entre vozes se cruzam,
retumbando tão somente o matraquear:
Do que tendes medo?
Do que tendes medo?
Do que tendes medo?
Pronto, chorei.
Chorei, um pranto e tanto, até que meus olhos ficaram tão vazios,
mas tão vazio quanto o dos béus[1].
E assim, regressei ao “meu” lugar,
o lugar de onde acho ou acredito que venho.
Certeza jamais teremos de nada.
Notas e referências:
[1] Significado de Béus: é o equilíbrio entre o bem e o mal, a força moral e a integridade. Indica virtude, integridade, recompensa e fala da administração imparcial.
Imagem Ilustrativa do Post: violet bloom // Foto de: Mike W. // Sem alterações
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