A Rainha da Oktoberfest - Contos do Direito

03/08/2015

Por Saile Barbara Barreto - 03/08/2015

Um tempinho atrás, antes da existência dos "sites de correspondentes", os escritórios grandes de fora, contratavam advogados daqui para fazer audiências e pagavam relativamente bem. Lembro que uma vez fui contratada para acompanhar uma instrução em Blumenau.

Cheguei naquele fórum lindíssimo em estilo alemão e fui direto para o balcão do cartório pedir os autos. Uma "Vera Fisher" de 1,80 cm, olhou para baixo e disse:

- Pois não?

- Eu queria dar uma olhadinha no processo da audiência das 14 horas.

- Já foi para o gabinete, mas a estagiária que vai digitar as audiências está indo para lá, ela te acompanha e mostra o processo.

Fiquei esperando a tal estagiária. Alguns minutos depois, a porta se abre, sai uma loura magérrima, com o dobro do meu tamanho, olha para mim (que mesmo de salto não chego no ombro dela) e diz:

- A senhora pode vir comigo.

Não bastava ser a cara da Barbie, ainda tinha que me chamar de senhora? Que desnecessário (foi ódio à primeira vista, kkk). Enquanto estudava o processo, chegou a advogada do Requerido. Ela também era loura, alta, magra e, para piorar estava vestida de cor de rosa, como a "Legalmente Loura", só que bem mais bonita. Pensei: "Que merda é essa? Morri e tô no inferno?"

Bom, ela fez uma proposta ridícula de acordo e eu recusei. Fui sentar ao lado do cliente, que tinha acabado de chegar. Ele virou para mim e disse:

- Estou reconhecendo essa advogada dele, acho que ela já foi Rainha da Oktoberfest.

- Não me diga. É mesmo?

E fiquei pensando: "melhor se não tivesse dito mesmo! Fiquei imaginando a minha rival com a faixa e a coroa de rainha, sendo aplaudida pelos pinguços da Proeb, enquanto pisava em cima de mim. Ô inferno! Tomara que seja uma Juíza, porque se for um homem, já vi que vou perder esse processo."

A Rainha da Oktoberfest saiu e deixou o cliente dela sozinho. Alguns minutos depois fizeram o pregão. Eu entrei com meu cliente. O cliente dela ficou procurando por ela, igual uma "barata tonta" sem saber o que fazer.

A Juíza (era uma mulher, ufa!) perguntou por eles e eu disse que estavam lá fora e que não sabia por que não tinham entrado. Ela mandou chamar mais uma vez e nada. Então, decidiu decretar a revelia e encerrou o termo.

Neste momento, minha "deusa interior" estava tomando chope e gritando "prosit", ao som de marchinhas alemãs, hehehe! Só que minha alegria foi interrompida pela Rainha da Oktoberfest e seu cliente, que entraram esbaforidos na sala de audiência. Ela pediu desculpas pelo atraso (falou que tinha ido ao banheiro), mas a Juíza não perdoou:

- Já encerrei o termo e liberei no sistema. Agora, infelizmente, seu cliente será julgado conforme o estado do processo, Doutora.

A Rainha não só insistiu, como teve a ideia estúpida de enfrentar a Juíza. Eu pensei "pelamordedeus, não faça essa loucura" (engrossar com uma juíza, ainda mais sem ter razão é 'suicidar o processo'), mas ela estava muito nervosa (não podia chegar no escritório e dizer que perdeu a ação, porque estava fazendo xixi na hora que foi chamada). Ela decidiu berrar com a Juíza:

- Por que a senhora encerrou o termo tão rápido?! Se fosse o Dr. "Fulano" da outra Vara teria esperado até meia hora!!

Achei que a Juíza decretaria a prisão dela por desacato e não sei porque não decretou. No lugar dela eu teria mandado algemar e enjaular aquela histérica. Só que a Magistrada não desceu do salto, ficou vermelha de raiva, mas "bateu o martelo" com muita elegância:

- Não sou o Dr. "Fulano". Da próxima vez chegue no horário. Sua colega veio de Florianópolis e já estava aqui meia hora antes de eu mandar chamar. Boa tarde. Estão todos liberados.

Ganhei e fui embora, uhuuuuull! "Auf wiedersehen", Blumenau!

Prosit, Rainha da Oktoberfest!


Saile Barreto .

Saile Barbara Barreto é advogada em Florianópolis.

Email: sailebarreto@hotmail.com

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Imagem Ilustrativa do Post: Oktoberfest girls // Foto de: David Pursehouse // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/mdid/2836574972/

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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