Introdução.
O Brasil é um país com alto índice de produção agrícola e, a contrário sensu, é um país desequilibrado quanto à produção e o consumo de alimentos; quanto à distribuição de renda na economia agrícola; quanto ao direito à terra cultivável e quanto à diversificação da produção agrícola. O país possui 61 mil hectares de áreas agricultáveis[1], entretanto, 85% da área é destinada para o plantio de soja e milho ou utilizada como pasto[2], resultando em um modelo voltado para o comercio exterior e para o equilíbrio da balança comercial.
As mazelas do sistema agrícola estão espalhadas, com destaque para as seguintes situações: a) na produção de alimentos, pelo uso intensivo de defensivos químicos/agrícolas, sob o argumento de que não é possível produzir os alimentos necessários à população sem o uso de agrotóxicos; b) na distribuição de renda e de terra, o Brasil é marcado por uma profunda desigualdade socioeconômica, com grandes latifúndios subsidiados pelos programas/bancos nacionais e, de outro lado, convive com um profundo êxodo rural dentre os pequenos e medidos produtores e c) no zoneamento agrícola, pensado sem observar os aspectos ecológicos ou a diversificação da produção de alimentos.
Nesse contexto, embora a agricultura esteja ligada à aspectos de ordem social, alimentar e ambiental, tem sido tratada e retratada apenas como uma questão de ordem puramente econômica. Discute-se, no presente texto, as endemias que obstruem uma nova agricultura, capaz de realizar uma interface social e agroecológica.
Do discurso à nova prática agrícola
A sociedade, de forma geral, tem revelado impaciência e insatisfação quando o assunto revela distanciamento entre o discurso e a prática. De fato, a retórica encanta, porém, quando desacompanhada de práticas efetivas, resulta em conflito e violação ética do comportamento humano.
A situação não é diferente no universo agrícola. Assim, não faltam discursos agroecológicos; entrementes, sobram práticas viciadas e insustentáveis. O uso de agrotóxicos na produção de alimentos, comprovadamente maléfico ao Ser Humano e à natureza, revela-se como uma prática regular, financiada pelos programas governamentais de apoio à agricultura. De outro lado, a agricultura familiar e o os sistemas e programas agroecológicos não recebem investimento financeiro e ou apoio técnico adequado.
Dados do Plano Safra 2017/2018[3] comprovam a falácia do discurso e a disparidade ou o desequilíbrio dos investimentos. O plano revela que o Governo Federal, em detrimento de investimento na agricultura familiar, destina a maior parte dos recursos financeiros para financiar os grandes produtores rurais e a agricultura intensiva pautada no uso de agrotóxicos.
O modelo de agricultura proposto e financiado pelos programas governamentais é insustentável sob o ponto de vista ambiental. Os ambientes naturais estão pressionados pelas práticas agrícolas de natureza econômica e o paradigma vigente, embora não encontre limites; ancorado no latifúndio e no uso de defensivos químicos, representa uma distorção dos pseudos benefícios.
A agricultura pautada no uso de defensivos agrícolas/agrotóxicos transforma os hábitos e a relação de consumo de alimentos, gerando doenças ou invés de saúde e nutrição, pois, a produção de alimentos em larga escala passa a ser tratada como um negócio, uma mercadoria de alto valor econômico, sobrepujando as funções ligadas à saúde, à nutrição e ao meio ambiente.
Conclusão.
A nova agricultura deve ser pensada a partir da cultura da sustentabilidade e do respeito aos Seres Viventes do planeta Terra. A nova agricultura deve representar o rompimento do modelo que gera medo e insegurança quanto aos alimentos que serão consumidos. A nova agricultura precisa de investimentos de uma Estado empreendedor, capaz de destinar recursos financeiros para pesquisa qualitativa e quantitativa. A nova agricultura deve alimentar toda a população sem precisar usar agrotóxicos. A nova agricultura precisa ser ecológica.
A nova agricultura precisa fazer a transição entre o sistema vigente e o sistema da agroecologia. Os estudo da Embrapa[4] demonstram que a agroecologia é viável e capaz de produzir alimentos saudáveis. Segundo a Embrapa, tecnologias para sistemas orgânicos de produção ou em transição agroecológica possibilitam benefícios ambientais, sociais e econômicos. Dados oriundos do Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA), desde 1993, junto ao espaço denominado Fazendinha Agroecológica Km 47, demonstram cientificamente que é possível produzir alimentos orgânicos, sem uso de agrotóxico e sem agredir o meio ambiente. Portanto, agro deve ser ecologia, agro deve ser sustentabilidade, agro deve gerar vida no campo e saúde na cidade.
Notas e Referências
[1] Disponível em https://canalrural.uol.com.br/noticias/pais-possui-milhoes-hectares-area-agricultavel-59310/ Acesso em 12 de julho de 2018.
[2] Disponível em https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?66602/Transicao-agroecologica-e-alternativa-contra-modelo-baseado-em-agrotoxicos. Acesso em 12 de jul. 2018.
[3] Disponível em https://www.gs1br.org/setores/Documents/INOVAGRO%202017-06-08%20Plano%20Agricola%20201718.pdf. Acesso em 12 de jul. 2018.
[4] Disponível em https://www.embrapa.br/agrobiologia/pesquisa-e-desenvolvimento/agroecologia-e-producao-organica. Acesso em 11 de jul. 2018.
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