A INFLUÊNCIA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO HUMANO

05/12/2019

Frente aos avanços complexos da sociedade, e uma demanda cada vez mais crescente de soluções para que os seres humanos tenham suas necessidades básicas satisfeitas, é necessário que se busquem respostas para problemas que antes não eram vitais para a nossa sobrevivência, mas que agora são urgentes e não podem mais ser ignorados.  Deste modo, ao se buscarem novas soluções, podemos chegar a questão do trabalho, que aliado a questão da inteligência artificial, veio até os dias de hoje para causar uma mudança estrutural em toda nossa sociedade, apresentando soluções e ideias que antes eram apenas vislumbrado como fantasia.

As novas tecnologias trazem em seus pressupostos uma grande carga de inventividade e inovação e o prognostico de suas aplicações ainda é incerto, diante das inúmeras possibilidades que podem advir desse tipo de inovação, ainda hoje bastante desconhecidas. Nesse sentido é necessário que se faça a discussão referente à inteligência artificial ligada ao trabalho humano, buscando entender se a automação de alguns tipos de funções pode ou não tornar o ambiente laboral hostil para os seres humanos.

A inteligência artificial é o campo da tecnologia que busca elaborar dispositivos que possam simular a capacidade humana, de forma a raciocinar e tomar decisões, também podendo resolver problemas e analisar situações diversas, assim como os seres humanos podem, utilizando assim a capacidade de raciocínio e inteligência. Inclui a programação de computadores e softwares que determinam traços e padrões que decidam entre opções pré-estabelecidas baseada em um banco de dados, que pode ser aumentado conforme a frequência e complexidade dessas decisões, dando assim a maquina a capacidade de aprender cada vez mais conforme analisa os padrões.

Sobre as tecnologias na modernidade Fritjoft Cappra (2018, pg. 239) fala:

A revolução cientifica introduziu o conceito de natureza como uma maquina e a razão humana como superior aos processos naturais. A subsequente revolução industrial produziu grande progresso em termos de desenvolvimento tecnológico e eficiência de produção, e a transformação institucional de alguns commons em capital concentrado atendeu ia uma necessidade social concreta de superar um modo brutal de subsistência.

Essas ideias percorriam as discussões cientificas desde tempos bastante antigos, porém só agora na modernidade com o advento da criação dos computadores e sistemas cibernéticos que a inteligência artificial ganhou meios e método para ser de fato considerada uma ciência genuína. Visto isso, o seu desenvolvimento tem percorrido um caminho muito mais longo do que as primeiras tentativas de provar o seu uso, com programas de xadrez que ganhavam de jogadores campeões ou algumas tentativas de criar sistemas que se auto regulavam, e na atualidade o que se pretende e se tem feito nas mais modernas pesquisas sobre o assunto, é a busca de replicar as faculdades humanas como o uso da linguagem, criatividade e empatia.

Segundo Peter Norvig (2004) o surgimento da ideia de inteligência artificial se dá no ano de 1943, quando Warren McCulloch e Walter Pitts criaram um modelo de neurônios artificiais, que criados em uma rede poderiam ser capazes de aprender coisas complexas, dando inicio as primeiras discussões sobre essa questão.  Esses elementares anos de estudo, foram marcadas ainda pelo baixo nível tecnológico presente nos modelos da época, porém, já se sabia que os computadores, que anos antes serviam apenas para realizar cálculos e formulas aritmética, poderiam ser vinculados a um tipo de inteligente própria.

Outro grande nome, que foi importante para o inicio desses estudos, é o matemático Alan Turing, que desenvolveu, ainda na década de 50, um teste que coloca máquinas a prova, buscando medir a capacidade individual de exibir um comportamento humano, sendo usado até hoje para definir níveis de inteligência artificial. Ele também foi um dos precursores dos computadores, sendo que suas fórmulas e teorias são até hoje usadas mesmo à frente da inovação tecnológica desde os tempos em que formulou os seus estudos.

Segundo Alan Turing (1950), é necessário muito antes de começar a pensar sobre a possiblidade de máquinas com inteligência real, refletir sobre o verdadeiro significado da palavra “pensar”, e também da palavra “máquina”. Ao apresentar seu trabalho, Turing expõe que a ideia mais correta nesses casos, não seria a de usar palavras já pré-estabelecidas, pois elas certamente levam ao erro.

Com isso chegamos a uma importante questão, que é a discussão sobre o futuro das atividades laborais dos seres humanos em um futuro próximo, com a evolução radical dos sistemas de inteligência artificial no mundo. Por esse motivo, é muito importante tratar sobre as possíveis aplicações dessa tecnologia ao trabalho, para refletir se tal aplicação pode ser algo benéfico à coletividade ou algo que apenas irá ferir os direitos do homem, afetando a sua busca por um trabalho digno.

O relatório publicado pelo International Monetary Fund (IMF) de 2018 que tem como titulo Should We Fear the Robot Revolution? (The Correct Answer is Yes) coloca em pauta o debate sobre o impacto que robotização da sociedade, fruto da inteligência artificial analisando que impactos esse tipo de tecnologia pode ter sobre a nossa sociedade moderna. É claro que como qualquer prognostico, é necessário que seja feito o uso de um pouco de abstração, e certo nível de inventividade, porém os debates geraram dois níveis de cenário possível para um eventual futuro.

Um dos cenários expostos no relatório, é extremamente otimista, e coloca um mundo dominado pela inteligência artificial em todos os seus âmbitos, onde talvez existisse um primeiro impacto na questão dos empregos para a população, mas que logo seria superado, com criação de novas funções e também com um futuro ainda mais distante, onde as máquinas fariam todas as funções indesejadas. O outro cenário é um pouco menos animador com a perspectiva de que as inteligências artificiais trabalhariam para os já detentores do capital e do poder, gerando assim aumento da produtividade mundial, porém em contra partida, um aumento maior ainda entre a desigualdade entre as pessoas do mundo.

Tratando do meio ambiente do trabalho e as interações exercidas dentro do espaço laboral, temos que falar das normas do trabalho descentes estabelecidos pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), que essencialmente devem estar ao alcance de qualquer pessoa que exerça uma atividade laboral em busca do desenvolvimento sustentável frente às normativas internacionais.  É necessário também, a busca de um modelo humanamente sustentável de trabalho conforme esses mesmos padrões, com a intenção de reduzir as desigualdades e respeitar os direitos do trabalho, principalmente aqueles definidos como fundamentais.

O meio ambiente do trabalho pode ser entendido como o local de onde o trabalhador presta os seus serviços, integrando nesse conceito todos os fatores de proteção ao mesmo como a segurança e também as características físicas do local, englobando tudo para criar uma unidade. Esse conceito não deve ser dividido por conta do tipo de trabalho, localização do mesmo, ou até se ele é remunerado ou não, deve ser considerado todos os fatores de forma a fazer um amplo aspecto do local, criando assim o meio ambiente do trabalho.

A manutenção é a tutela desse instituto é importante para que o trabalhador seja amparado de forma individual ao exercer as suas funções zelando para que elas possam ser desempenhadas de forma adequada, sem qualquer tipo de violação aos seus direitos básicos. Porém, não se trata apenas de resguardar os direitos particulares, pois também trata da coletividade, pois a defesa de um elemento do meio ambiente implica também a defesa do todo, como forma de dar segurança a tudo que esteja fazendo parte dele.

Deixando de lado o conceito de meio ambiente do trabalho, devemos tratar de algo que legitima os interesses dos trabalhadores, e que tem total relação com o tema tratado anteriormente, que é a questão do surgimento e conceituação do termo trabalho descente.  Esse conceito foi criado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) que é uma agencia especializada da Organização das Nações Unidas (ONU)  e prevê a promoção das normas internacionais de trabalho, objetivando uma maior proteção para que homens e mulheres possam obter um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade e baseadas na dignidade humana.

Ao apresentar a promoção do trabalho descente como uma das suas principais políticas, a OIT coloca todo tipo de trabalho sobre a sua proteção, mesmo os que não estão abarcados pela seara formal, definindo valores mínimos de remuneração e condições de trabalho para todos, independente de sua condição ou local de moradia. Também afirma que existem os empregos que precisam deixar de existir, pois corroboram com a violação de todos os direitos básicos e devem ser abolidos como as formas de trabalho degradante ou forçados, e também o trabalho infantil.

Frente a esses conceitos, podemos entender que a busca por um ambiente sadio para os seres humanos, encontra-se ligado fortemente com o futuro e para com o rumo ao qual as novas tecnologias estão tomando, visto que a influência dela pode afetar a vida dos seres humanos dentro dos seus ambientes laborais. Exatamente por esse motivo que as regulações apresentadas e também as convenções referentes aos direitos do trabalho são considerados cada vez mais vitais, pois as discussões desenvolvidas nelas podem com o passar do tempo alterar o rumo e o destino de toda população.

Constatamos então, que com o advento das novas tecnologias e também de um futuro que não poderemos prever o que se apresenta como fator vital para uma segurança dos direitos humanos, são as discussões e preservação do meio ambiente, tanto o do trabalho como tudo o que é classificado como tal. Assim poderemos legitimar os direitos conquistados pelas gerações passadas para as gerações futuras que nascem em um mundo que muda de forma cada vez mais exponencial.

Baseado nisso, se buscou demonstrar alguns conceitos das novas tecnologias em especial a inteligência artificial fazendo um paralelo com o desenvolvimento sustentável, o trabalho descente e também o meio ambiente do trabalho. Isso permite uma análise bastante interessante frente as inovações que podem atuar como meios de exclusão ou inclusão dos direitos dos seres humanos no meio ambiente do trabalho, visto que os novos pressupostos podem ser bastante agressivos se depender da vontade de um mercado predatório que visa cada vez mais o lucro, e não o bem estar dos seres que compõem o seu aspecto de produção.

Frente a uma perspectiva de encontro do meio ambiente do trabalho com as novas tecnologias que vem a surgir de forma exponencial, podemos concluir que as mesmas tem um grande potencial para vir a auxiliar os seres humanos em tarefas penosas e complicadas e que podem vir a ser não substitutos da mão de obra biológica, mas sim um fator de auxilio que busca apenas facilitar algumas funções. Porém existe também a possibilidade de que essas tecnologias venham a substituir os seres em suas funções, tornando o meio ambiente do trabalho como algo totalmente mecânico sem espaço para as novas gerações de pessoas que necessitam de um emprego como forma de subsistência, ou mesmo sobre perspectivas mais sombrias de que a tecnologia pode tornar os próprios seres humanos obsoletos, causando a exclusão de todos os direitos, por uma revolução coordenada pelo avanço irrestrito da tecnologia.

 

Notas e Referências

BARRETO, J. M. Inteligencia artificial no limiar do Seculo XXI - Abordagem Hıbrida, Simbolica, Conexionista e Evolucionaria, UFSC, 2001.

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COMPUTING MACHINERY AND INTELLIGENCE By A. M. Turing (1950)

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