Por Luiz Ferri de Barros – 19/04/2016
Inúmeros filmes de advogados surgiram na década de 1990. Trata-se de uma boa safra, que modernizou o gênero. São desta época filmes como Filadélfia, O Advogado do Diabo, Questão de Honra, O Cliente, A Qualquer Preço e outros que permanecem na memória, como A Firma, por exemplo.
Embora poucos se igualem aos grandes “clássicos de tribunal”, muitos filmes da década de 90 valem a pena, ao menos como entretenimento. A linguagem desses filmes é inovadora. Os roteiros agregam novas dimensões ao pano de fundo tradicional, que é o drama. Suspense, mistério e ação são adicionados em maiores doses – e os filmes de advogados passam a ser, em muitos casos, predominantemente thrillers.
Muitos desses filmes permanecem na memória do público até hoje pelo fato de terem sido estrelados por grandes atores e atrizes que ainda estão na ativa, como é o caso de Tom Hanks, Denzel Washington e Antonio Banderas em Filadélfia; Al Pacino, em uma das melhores interpretações de sua carreira, e Keanu Reeves em O Advogado do Diabo; Tom Cruise, Demi More e Jack Nicholson, em Questão de Honra; Susan Sarandon e Tommy Lee Jones em O Cliente; ou John Travolta em A Qualquer Preço etc.
Esses filmes também trouxeram novos assuntos para o debate público, como foi o caso de Filadélfia, que em 1993 rompeu tabus ao tratar do preconceito em relação à Aids. O cinema dos anos 1990 continuou questionando aspectos éticos fundamentais dos casos levados aos tribunais, tal como faz com a ética militar, em Questão de Honra; ou como faz em relação à indiferença da sociedade frente às nefastas consequências à saúde pública causadas pela contaminação ambiental, o que gera um novo campo de atuação jurídica, como é narrado no filme A Qualquer Preço, a partir de um caso real.
No entanto, na última década do século XX, o cinema não poupou os advogados. Se, de um lado, em diversos filmes os protagonistas seguem sendo os mocinhos no velho estilo hollywoodiano, heróis invencíveis por seu bom caráter, surgem igualmente filmes com contundentes críticas à advocacia. Basta citar O Advogado do Diabo e A Firma, histórias que giram em torno de enredos até certo ponto análogos: jovens e brilhantes advogados recém-formados são atraídos por propostas irrecusáveis de grandes escritórios jurídicos que, ao final, revelam-se braços legais de organizações criminosas ou negócios escusos.
No caso de A Firma (1993), logo após contratado, o jovem advogado de Harvard, Mitch McDeere, descobre que o escritório é parceiro da máfia em lavagem de dinheiro e a representa, e que outros advogados que trabalhavam para a firma foram mortos. O personagem se vê encurralado entre a máfia e seus representantes, de um lado, e o FBI, de outro, que o aborda para investigação. Suas mãos estão igualmente atadas pelo código de ética, uma vez que, em sua defesa, não pode revelar nem agora, nem no futuro, os crimes de seus clientes. Resta-lhe apenas apegar-se ao FBI e seu programa de proteção a testemunhas, saída que acaba com todos os sonhos de sua vida.
O filme foi baseado em best seller de John Grisham, um dos autores mais lidos nos Estados Unidos. Grisham é advogado, exerceu a profissão e é considerado um mestre do “thriller legal”. No entanto, thrillers são thrillers e, embora o escritor e roteirista tenha encontrado um mágico meandro legal para solucionar os dilemas do jovem Mitch McDeere, o diretor Sydney Pollack precisou escalar ninguém menos que o ágil Tom Cruise, em 1993 com 31 anos, para livrar o personagem da armadilha, o que se consumou como verdadeira missão impossível.
A Firma, filme de 1993, baseado em best seller de John Grisham e dirigido por Sydney Pollack, foi estrelado por Tom Cruise e Gene Hackman. O par romântico de Cruise é interpretado por Jeanne Tripplehorn.
Originalmente publicado na Revista da OAB/CAASP. Ano 3. Nº12. Agosto de 2014. São Paulo.
. Luiz Ferri de Barros é Mestre e Doutor em Filosofia da Educação pela USP, Administrador de Empresas pela FGV, escritor e jornalista.
Publica coluna semanal no Empório do Direito às terças-feiras.
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