Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
não fosse a poeira que me irrita os olhos
o que se apresentaria a nós,
companheiras e companheiros?
a velharia da verdade frágil dos que bradam
o golpe tão grotesco quanto cotidiano
trazem consigo essa neblina vil e tortuosa
que paira pelo ar lentamente
e parece ofuscar as concepções mais bonitas
do que tudo poderia vir a ser
se assim não fosse
apesar da tosse
apesar do desconforto
apesar da crise alérgica
do convívio diário,
como quem protege os olhos
da poeira do antiquário
- e apesar dela -
ainda lembro das nossas conversas,
companheiras e companheiros
lembro dos sonhos, dos sorrisos
das vitórias, das derrotas
das multidões, dos gritos
explícitos ou contidos e
agora e por enquanto
os enxergo pulverizados
pela poeira que parece ocupar
todos os cômodos
e incômodos
não fosse a poeira que me irrita os olhos
o que se apresentaria a nós,
companheiras e companheiros?
creio eu, seríamos apresentados a nós mesmos
em cadena, seriamos sutilmente conduzidos
às nossas próprias esperanças
e do outro lado da sala,
enquanto a poeira se assenta ao chão
e nos permite vislumbrar o horizonte
ofuscado pelo golpe
e pela poeira fétida
de quem nos impede a utopia
novamente seriamos reconduzidos
ao mundo que sonhamos
juntos
o mundo que existe
para além da poeira
está em nós
andemos.
Imagem Ilustrativa do Post: Mars - Degraded Crater in Utopia // Foto de: mariagat mariagat // Sem alterações
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