Coluna O Direito e Sociedade de Consumo / Coordenador Marcos Catalan
A discussão aborda a Nota Técnica nº 5/2021 da SENACON. Relevante destacar que seu objeto principal se pauta no monitoramento de mercado no tocante ao aumento do preço da carne e nos desafios que lhes são peculiares.
Em síntese ela dispõe que, com o surgimento da pandemia, a probabilidade dos consumidores apresentarem menores rendas, devido às dificuldades econômicas aumentou substancialmente. Demonstrando ainda, a questão da “elasticidade” apresentada no cálculo do valor da carne, ou seja, define como a demanda reage a uma oscilação de renda do consumidor.
Dito isto cabe esclarecer que a situação do mercado bovino brasileiro deriva de vários fatores internos e externos da economia que derem sinais já em 2013. Entre os motivos mais impactantes estão (a) a recuperação da questão interna, (b) as secas demoradas, (c) o grande volume de exportações para a China e (d) a alta do dólar que fez o produto brasileiro se tornar ainda mais competitivo no mercado internacional. Há também (e) maior gasto na reposição dos animais e (f) na alimentação do gado. O milho, por exemplo, principal insumo utilizado na ração dos animais, está mais caro e, como ele, o farelo de soja, aumentou aproximadamente 110% em 2022.
Fundida a alguns destes pontos, a recuperação do plantel de suínos na China, em 2020, por exemplo, provocou enorme demanda do grão. As vendas de carne bovina para acolher as demandas internacionais ajudaram a diminuir o acúmulo dos grãos no mercado interno, então com crescente custo para o produtor rural. As cotações no mercado brasileiro ascenderam; ou seja, com aumento das exportações, reduziu a quantidade de carne disponível no mercado brasileiro enquanto a demanda manteve estável, o que culminou na elevação dos preços para os brasileiros.
Entre os anos de 2019 e 2021 foi impactante o aumento do preço da carne de modo geral, tanto a branca, como bovina ou suína e de outros produtos alimentares que pesaram vastamente no orçamento das famílias brasileiras. A elevação do preço, de outra banda, faz com que a população interna diminua consideravelmente o consumo, notadamente as classes mais baixas, desta forma, em meio à crise econômica, portanto, a demanda diminuiu e os preços caíram.
O Governo Federal parece não se preocupar com a questão também porque o preço da soja está alto. Assim, se não houvesse o aumento da carne, ela iria estancar o mercado da soja: é mais fácil e menos oneroso plantar a soja; com o gado, os cuidados e gastos são diários.
Diante deste contexto, o aumento do valor da carne, no entanto, não significa maior ganho para os pecuaristas haja vista que vários fatores internos e externos influenciam diretamente os custos de produção e na modificação do preço da proteína, assim, embora seja notória a valorização da arroba do boi gordo, o preço da arroba não acompanhou os gastos durante o confinamento.
Mormente no se refere à influência externa na carne bovina, o que gerou essa elevação foi a mudança do custo operacional efetivo que subiu substancialmente em 2020, afetando assim a rentabilidade dos pecuaristas e produtores rurais em larga escala. Essa alta chegou a 45% nos sistemas de recria e engorda no Estado do Mato Grosso, segundo dados divulgados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Tão importante quanto aos demais pontos supramencionados, temos a questão pandêmica que gerou alterações em praticamente todas as esferas da economia. Com a pandemia, ficaram estagnadas as relações comerciais internacionais, como redução da circulação de pessoas em virtude do cenário que vírus oferecia, além de portos fechados por exemplo; tudo isso trouxe um impacto na situação da comercialização da carne.
A extrema inércia comercial gerada pela gravidade da Covid-19 inflacionou até mesmo itens básicos na alimentação dos brasileiros, como arroz, feijão, ovos, óleo... que mesmo com o auxílio emergencial que foi pago pelo Governo Federal entre os anos de 2020 e 2021, além de outras políticas públicas oferecidas à população, permaneceu a crescente insegurança alimentar dos brasileiros com a pandemia.
Em suma, no tocante à carne bovina, por ser considerada um dos itens mais importantes na cultura alimentar brasileira, quando estamos diante de um cenário pandêmico e de vulnerabilidade como este, as pessoas passam a consumir cortes mais baratos, ou até mesmo as carnes brancas que possuem um valor mais reduzido. O fato de muitos restaurantes terem fechado as portas e consequentemente pessoas terem ficado desempregadas, fez com que a procura pelo produto também caísse, uma vez que a carne é considerada o item mais caro da alimentação. Além de exigir uma maior contenção de custos, a alta do preço das carnes coopera para o agravamento dos índices da pobreza e desigualdade.
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