Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Sepulcro gélido que não existiu
Mas se sentiu
Como Cristo não se fez
Pois o Filho houve, se desfez e novamente se fez
Já o não filho nunca houve, mas poderia ter havido
E sido sentido
E isso bastou
Para que algo fosse
Amargura do instante
Em que a possibilidade se contemplou
Inquietude da alma
Que abalou o espírito
Pois
Desfez quando se cogitou que se fez
Mesmo quando nunca existiu
O saber só veio à tona
Tempos depois
Somente após o que nunca se fez foi assim confirmado
O abalo que por um só foi sentido
Foi então compartilhado
E sentido
Aflição inaugural
Pois até para quem já havia sentido
Sentiu agora de outro modo
Junto ao outro
Como algo, que não foi, pertencesse não a um só
Mas a dois
Então foi novo, o que foi sentido
(ressentido)
Amargor sem sabor
Comoção que resta silente na abstração
Pois não chegou a ser
Mas poderia
E isso basta
Bastou para enxergar algo que ali sempre esteve
Ou que assim foi se construindo
Até que se estabelecesse
Não resta alternativa
A respeito do próximo passo
Pois sequer existem respostas possíveis
Para algo que não existiu
Mas o significado não basta
Para apontar que algo há?
Naquele túmulo que surgiu
Nenhum corpo foi posto
Sem ato fúnebre prévio
À descida do caixão
Apenas o sentimento
De desolação
Ao que foi
Sem não ter sido
Imagem Ilustrativa do Post: grave // Foto de: MichaelGaida // Sem alterações
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