TÚMULO VAZIO

22/12/2019

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Sepulcro gélido que não existiu

Mas se sentiu

 

Como Cristo não se fez

Pois o Filho houve, se desfez e novamente se fez

Já o não filho nunca houve, mas poderia ter havido

E sido sentido

E isso bastou

Para que algo fosse

 

Amargura do instante

Em que a possibilidade se contemplou

Inquietude da alma

Que abalou o espírito

Pois

Desfez quando se cogitou que se fez

Mesmo quando nunca existiu

 

O saber só veio à tona

Tempos depois

Somente após o que nunca se fez foi assim confirmado

O abalo que por um só foi sentido

Foi então compartilhado

E sentido

 

Aflição inaugural

Pois até para quem já havia sentido

Sentiu agora de outro modo

Junto ao outro

Como algo, que não foi, pertencesse não a um só

Mas a dois

Então foi novo, o que foi sentido

(ressentido)

 

Amargor sem sabor

Comoção que resta silente na abstração

Pois não chegou a ser

Mas poderia

E isso basta

Bastou para enxergar algo que ali sempre esteve

Ou que assim foi se construindo

Até que se estabelecesse

 

Não resta alternativa

A respeito do próximo passo

Pois sequer existem respostas possíveis

Para algo que não existiu

Mas o significado não basta

Para apontar que algo há?

 

Naquele túmulo que surgiu

Nenhum corpo foi posto

Sem ato fúnebre prévio

À descida do caixão

Apenas o sentimento

De desolação

 

Ao que foi

Sem não ter sido

 

Imagem Ilustrativa do Post: grave // Foto de: MichaelGaida // Sem alterações

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