Coluna Isso Posto / Coordenadores Ana Paula Couto e Marco Couto
É quase sempre igual. Aos 45 minutos do segundo tempo, os alunos nos procuram desesperados em qualquer lugar no qual estejamos. Durante a realização de alguma audiência, quando nos encontram na faculdade, no momento em que passeamos no shopping com os nossos filhos e até em festas de aniversário.
Professor(a), pode me ajudar no meu T.C.C.?
O prazer de encontrar os alunos, por vezes, entra em conflito com a vontade de lhes fazer uma pergunta muito simples: por que você não me procurou há meses ou há semanas para que pudesse elaborar o seu T.C.C. com calma, sem atropelos?
Quando ingressam na faculdade, os alunos são informados no sentido de que, ao final do curso, deverão apresentar o seu Trabalho de Conclusão de Curso. O próprio nome da atividade, por si só, resolve a situação. Se o trabalho é de conclusão de curso, os alunos sabem que terão mais ou menos 5 anos para fazer um texto que, em geral, nem precisa ser extenso.
Ao menos no Rio de Janeiro, muitas faculdades exigem que os alunos escrevam 15 laudas sobre algum assunto que seja do seu interesse. Ora, 5 anos de faculdade representam 1825 dias. Apenas para arredondar a contar, é preciso registrar que um texto de 15 laudas representa cerca de 7300 palavras. Portanto, o aluno precisa escrever 4 palavras por dia para conseguir fazer o seu Trabalho de Conclusão de Curso com a máxima tranquilidade. Isso mesmo: 4 palavras por dia!
É claro que o cálculo acima foi feito apenas para chocar os alunos, para que percebam como é fácil escrever um T.C.C. sem correria. Mas sabemos que nenhum aluno – absolutamente nenhum aluno – passa os 5 anos da faculdade escrevendo o seu texto em doses homeopáticas.
Como o assunto é de livre escolha, é recomendável que os alunos deixem para os últimos períodos a elaboração do seu trabalho, a fim de que possam ter contato com o maior número possível de assuntos e, então, possam escolher o tema a ser desenvolvido.
Mas é fundamental que façam essa escolha com um intervalo razoável de tempo para que seja uma atividade prazerosa, e não um suplício. Entendemos que um semestre é mais do que suficiente para escolher o tema, pesquisar, escrever, revisar e entregar o Trabalho de Conclusão de Curso.
Se, por exemplo, o texto deve ser entregue no 9º período da faculdade, os trabalhos devem começar a ser feitos tão logo comecem as aulas do referido período. Essa antecedência é necessária porque, infelizmente, as faculdades não incentivam os graduandos a produzir textos acadêmicos, a publicar os seus textos em revistas, a participar de eventos acadêmicos e a organizar eventos acadêmicos.
Sabemos que não se trata de tarefa simples, a qual, normalmente, é desenvolvida pelos alunos mais interessados durante a pós-graduação latu sensu ou durante a pós-graduação stricto sensu (Mestrado e Doutorado). Mas o ideal seria começar esse hábito na Graduação, o que quase nunca acontece.
Em geral, o único momento em que os alunos escrevem durante a faculdade é na realização das suas provas. Poucos alunos, antes do Trabalho de Conclusão de Curso, pesquisam algum tema e o desenvolvem para a publicação das suas ideias.
É uma pena essa realidade.
Portanto, diante da inexperiência dos alunos, sempre orientamos aqueles que nos são mais próximos a dedicar um semestre para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso. Não valem aquelas tradicionais desculpas esfarrapadas: eu faço muitas matérias, eu estou trabalhando muito, eu tenho família, os meus filhos não deixam, eu estou muito cansado etc.
Sentimos uma certa vergonha alheia quando ouvimos essas desculpas.
Os alunos precisam decidir, já no 1º dia da faculdade, o que querem da vida. Eles precisam decidir se querem se tornar profissionais verdadeiramente preparados que vão encontrar espaço no mercado de trabalho ou se querem apenas gastar uma fortuna (no caso de estudarem em instituições particulares) durante 5 anos para, ao final, receber um certificado sem qualquer utilidade prática.
Se pretendem aprender o Direito, os estudantes devem saber, desde o 1º dia da faculdade, que deverão adaptar as suas vidas e mudar as suas rotinas. Namorar menos, passear menos e dormir menos constituem boas estratégias para aqueles que pretendem levar a faculdade a sério.
Feito esse registro – que não é uma bronca, mas apenas uma bem intencionada advertência de quem já atravessou esse rio –, é preciso consignar que, além de destinar um semestre para fazer o seu Trabalho de Conclusão de Curso, o alunos devem definir um tema viável.
Sempre sugerimos que se evitem os temas desgastados, como o tribunal do júri, a lei Maria da Penha ou a lei de drogas, por exemplo. Como sempre participamos de bancas que avaliam Trabalhos de Conclusão de Curso, podemos garantir que é prazeroso quando os alunos apresentam temas pouco explorados.
Mas é preciso fazer uma advertência para que os alunos não caiam em uma cilada. Se eles não pretendem trancar a faculdade para ficar 6 meses em Bali estudando de que forma são resolvidos os conflitos de interesses na Indonésia, é melhor que escolham outro tema a ser desenvolvido.
Portanto, entendemos que o tema ideal – a ser desenvolvido em um semestre – pode ser pouco explorado, mas os alunos, em um primeiro momento, devem pesquisar se encontrarão material a ser examinado para a confecção do seu Trabalho de Conclusão de Curso.
Quando nos referimos a material, queremos dizer se existem livros nas bibliotecas ou livros que possam ser adquiridos pelos alunos. O argumento no sentido de que na internet é possível explorar qualquer assunto é perigoso: os alunos precisam ler livros, ainda que localizados e adquiridos pela internet, e não apenas sair copiando os textos prontos acessíveis a todos na rede mundial de computadores.
Uma vez definido o tema com antecedência, um importante passo é encontrar algum orientador que esteja disposto a orientá-lo de verdade. Sabemos que as faculdades têm professores que desempenham esse papel. O problema é que nem sempre os professores das faculdades têm disponibilidade real, uma vez que podem estar envolvidos com muitas tarefas e podem estar orientando 100 ou 200 alunos ao mesmo tempo, o que pode gerar problemas.
Por isso, ajudará muito se os alunos tiverem um professor mais próximo (mesmo que não seja o orientador oficial), um advogado do escritório em que façam estágio ou um amigo mais experiente no mundo do Direito que tenha vivência acadêmica, a fim de que possam receber orientações mais específicas sobre quais livros devem ser consultados, sobre a forma como o tema deve ser explorado, sobre a organização do trabalho.
Essa orientação (mesmo extraoficial) permitirá que o Trabalho de Conclusão de Curso chegue ao orientador designado pela faculdade de forma muito mais desenvolvida, ficando pendentes poucos ajustes.
Portanto, são esses os três conselhos iniciais que desejamos dar aos nossos alunos quanto à elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso: (1) disponibilizem um semestre para a sua elaboração, (2) escolham um tema interessante sobre o qual exista material de fácil acesso para a pesquisa e (3) consigam um orientador extra (alguém que se possa acessar a qualquer momento e com quem se possa dividir as angústias de estudante).
Na verdade – não obstante o título desta coluna –, entendemos que o Trabalho de Conclusão de Curso não deve ser um pesadelo para os alunos. Muito ao contrário, a sua elaboração e a sua apresentação aos examinadores devem constituir momentos de prazer.
No mais, desejamos boa sorte – para os alunos e para os examinadores.
Imagem Ilustrativa do Post: Studying // Foto de: rhodesj // Sem alterações
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