Coluna: Empório Descolonial / Coordenador: Márcio Berclaz
Nem Hegel, nem Heidegger; Karl Jaspers já propunha a necessidade de reconhecimento de pelo menos três grandes tradições filosóficas oriundas de China, Índia e Grécia.
Seguindo caminho ainda mais amplo, Enrique Dussel, principal expoente da Filosofia da Libertação, propõe a necessidade de diálogo atual entre as tradições filosóficas não ocidentais com a filosofia europeia e norte-americana. Do contrário, afirma, a filosofia entrará numa “rua sem saída”[1].
A propósito, para Dussel, esse diálogo entre filosofias em sentido amplo ou em sentido estrito é uma característica da Transmodernidade como novo tempo do mundo para além dos marcos eurocêntricos da Modernidade ou da Pós-modernidade.
Como propõe Dussel, todas as grandes culturas da humanidade possuem as suas respectivas filosofias, cada uma com seu estilo, cada uma com uma estrutura categórica conceitual própria que precisa ser (re) conhecida, atualizada e (re) transmitida.
Nesse contexto, a filosofia europeia é apenas uma filosofia regional ainda hegemônica que tem, na sua gênese, uma pretensão de universidade. O mesmo ocorre com as periodizações da modernidade e da pós-modernidade.
O que precisa haver de comum é o entendimento de que uma filosofia surge para dar conta dos problemas de um dado tempo e lugar, sem nunca esquecer que o seu principal motor, antes do ser, da consciência e da linguagem, é o desafio permanente da problemática de reprodução e incremento da vida concreta em cada comunidade.
Compreender a filosofia para “além” do lugar de “totalidade” que representou (e ainda representa) a Europa é também entender a necessidade de uma filosofia que, desde a “exterioridade”, mostra-se revigorada e melhor dialogada para além das muitas invisibilidades e ocultamentos do “outro”.
Cada tradição filosófica precisa harmonizar a recuperação do sentido da própria história com o inexorável reconhecimento dos seus “limites”. Os limites são de todas escolas e tradições filosóficas, não apenas de tudo que surge e se passa na “periferia”.
Nesse contexto, sem dúvida que a compreensão do “giro” e do pensamento descolonial, nos seus diversos movimentos, expressões e categorias, revela-se uma estratégia fundamental para que a Transmodernidade seja não apenas a expressão de um novo “tempo” de diálogo interfilosófico, mas pressuposto pedagógico necessário para valorizar a importância de uma filosofia autêntica, aquela que, com “outras mais” (e não sem mais) pensa o seu núcleo problemático desde a realidade de um dado “lugar”.
Essa é a proposta de um preliminar e mais básico sentido da Transmodernidade como “projeto” pluriversal, um compromisso que urgentemente precisa ser iniciado.
[1] DUSSEL, Enrique. Filosofías del Sur: descolonización y transmodernidad. México: 2015, p. 19.
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