TRANSGREDIR LIMIARES COLONIAIS

20/09/2024

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Porque é o que desafia que transforma!

Então eu digo:

Durma medo meu!

Para que enquanto isso eu cuide das minhas raízes e lapide as minhas asas.

Entreato da orquestração elíptica que somos.

Aqui, no nosso vilarejo ou ainda no fantástico novo mundo,

as gaiolas e janelas sempre estão abertas para que o sol e a sorte possam entrar.

Para enflorar cada e todos os dias, a cada instante, e renascer

é necessário ponderarmos como indagação:

Tu já viraste poesia hoje?

Já se permitiu sentir a verticalidade poética em algum momento?

Conseguiu sorver o que o poeta não disse?

Pode perceber que poesia não é sobre entender, mas puramente sobre sentir e sentir com profundidade?

Caminhando ainda mais nesta autorreflexão...

Quais são as palavras que não são ditas?

Quantos silêncios enlouquecedores e tóxicos você acumula diariamente?

O silêncio é essencial, o não dito compõe a atmosfera de nossa própria identidade.

Mas, há uma linha tênue e invisível entre o essencial e o violento.

A língua das coisas é o silêncio.

Mas onde pôr a língua do silêncio?

Se o silêncio de composto de milhares de gritos.

Às vezes o que se cala, é guarda-vento, resguardo, uma espécie de tapume,

porque falar seria descarregar um manancial de palavras “Punchiline

em outros termos, lançar uma sequência de palavras que literalmente batem,

que são como uma sequência de socos,

na tradução fidedigna seriam como linhas de socos.

Habitamos um território de partilhas,

uma mansão universal que nos oferta uma paz metálica,

onde gozamos desregradamente do que realmente somos,

nutridos por uma serenidade modorrenta e inconstante.

A população é constituída basicamente de

domadores do caos,

domesticadores de milagres,

adestradores de seres vivos indistintamente,

de eruditos de aquário,

muito prazer, sempre disponíveis, os chamam de otários.

Aceitaram de seus adestradores-colonizadores pedaços de espelhos quebrados,

em troca de toda a sua riqueza natural e cultura ancestral.

Ao que por licença poética, nominamos de “camalear”.

Verbo, cuja ação é repetidamente ser como o camaleão,

mudar, e se adequar ao ambiente, ser o que ambiente é.

Camalear...

e de tanto tentar se adequar, perde-se a identidade,

de tanto se negar, desaparece,

de tanto se adaptar já não se sabe mais de onde veio,

de tanto tentar se encaixar já nem se sabe mais que cor tem.

É difícil precisar o quanto é preciso!

Mas,

o mar nunca pede desculpas pela sua profundidade e intensidade,

e é por isso que não nos diminuímos para caber em lugares desconfortáveis.

e é por isso que o mar jamais desiste.

 

Mova, mexa-se, você não é uma árvore.

Você não é palavra hermética e morta.

Então não seja um arrivista,

que define por triunfar a qualquer preço, mesmo que em prejuízo de outrem.

Seja um acusmático, e ouça o som da sua causa, alucine a audição.

Se demora a se escutar e a escutar o outro e o mundo.

Há uma reflexão perturbadora que mescla:

o feroz e o comovente,

os sonhos de um futuro e a solidão,

uma rede clandestina a uma técnica crítica que procura entender,

o risco e o inverso,

o perder as raízes e a urgência de mudar.

Seres, saberes e poderes paradoxais.

Ânsia multiforme de inventar dicionários,

criar palavras que possam tecer,

e gritar para todo o mundo saber que,

o pensamento é tão somente o ensaio de toda e qualquer ação,

Reacendamos sempre o desejo ardente que nos faz querer tudo, tudo outra vez.

Experiências atravessadas por dimensões plurais,

que estabelecem um estado que precisa implodir na sociedade,

e ainda há quem diga que, ideais distintos não cabem no mesmo espaço-lugar,

são cegos, não percebem o quanto brilham diferente sendo assim,

noutros lugares incertos e desconhecidos.

Ser curto mesmo que a vida seja longa,

ou tentar ser longo porque a vida pode vir a ser muito curta.

Antítese ou paradoxo?

Quem sabe alhures,

noutro lugar ou em outra parte, esta cegueira se esgote.

E seja viável a desterritorialização eólica

capaz de carregar e espalhar partículas de origens diversas, por direções improváveis,

entrelaçando espécies, gêneros e genealogias.

Não gestaremos palavras de paraíso,

mas, saibamos todos, sem titubear que,

a palavra toca,

a palavra fere,

a palavre movimenta.

E que a gente nasce para isso,

nasce pra ir...

para enflorar

Para ressignificar!

Tudo o que acontece com você é seu, e só você pode usar.

Portanto, use do seu poder gerador e fabrique-se!

Quantas vezes forem necessárias,

a começar sempre pela tua alma.

Que vire habito, que seja rotina, usufruir da posologia poética, como elixir,

afastando e exterminando todo e qualquer sintoma de superficialidade,

aniquilando toda a presença do equilíbrio instável, sem fundo, sem verso, sem rima,

sem som, sem Ser,

Abominamos e repelimos todo excesso de vacuidade mundana.

É urgente a renovação,

a refundação que implica necessariamente na ruina de algo de dentro,

mas que resulta na efetiva libertação e fruição humana sensível.

Esteja certo:

não há muro que impeça o amanhã!

De qualquer forma ele chegará.

O novo dia sempre nasce, o sol sempre rebrilhará!

E em nome da flor,

da borboleta,

do girassol

do caracol

e da brisa fresca – AMÉM!

Construa um refúgio, que possa chamar de seu,

e não permita que tempestades alheias atrapalhem ou tirem a paz, a sua paz,

e nunca deixe de dançar a dança,

porque a vida é improviso.

 

Imagem Ilustrativa do Post: VERSAILLES_AOUT_2015_0087.JPG // Foto de: domidoba // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/domidoba/20772824069

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