“The True Cost” e o impacto da “Fast Fashion” nos países em desenvolvimento

01/06/2018

A Rede de Pesquisa Garantismo Brasil conta com nova parceria: trata-se do Grupo de Pesquisa Biopolítica & Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). No dia 16 de maio do corrente ano, através do projeto Cinema & Direitos Humanos, foi apresentado o documentário “The True Cost”, contando com a mediação dos mestrandos Tiago Protti Spinato e José Ricardo Maciel Nerling.

A película retrata a verdade por trás da moda, seus impactos ambientais e sociais como uma forma de reflexão sobre a indústria têxtil. Expõe o modo pelo qual o vestuário pode ser visto como um meio de comunicação uma vez que reflete, de alguma forma, quem as pessoas são ou como elas querem ser vistas pelos demais. Denota como os grandes interesses comerciais proporcionam para diversos países um ambiente hostil de trabalho, seja através dos meios de confecção, seja mediante os riscos a que estão submetidos.

A terceirização da confecção de roupas para países em desenvolvimento fez os preços dos produtos serem reduzidos, logo a oferta para o mercado se torna mais atraente: roupas de acordo com as mais diversas estações do ano, por um preço mais do que acessível.

Traz o exemplo da “Fast Fashion” (moda rápida) que busca produzir rápido, e de forma mais barata. Essa proposta gera uma mudança constante no que é produzido, posto que toda semana há lançamento de produtos com novas tendências. São exemplos desse projeto as lojas: Zara, Forever 21, H&M, Primark, Top Shop, Gap, Uniqlo, Mango, Joe Fresh e afins.

No cenário da terceirização, as lojas acabam por apontar que outros fornecedores podem oferecer produtos com custos mais baixos e por não gozarem de outras opções, fecham negócios por preços irrisórios. Esse corte abrupto de gastos provoca uma realocação desses, desrespeitando muitas vezes medidas de segurança de todo gênero.

O documentário traz à pauta o acidente ocorrido em Dhaka, Bangladesh, no Rana Plaza, onde um prédio de oito andares desabou e matou 1.129 pessoas expondo as consequências da pressão sobre os preços. O país é o segundo maior exportador de roupas, em que os trabalhadores chegam a trabalhar por $2 ao dia. Mais desastres envolvendo a indústria têxtil são relatados: incêndios em Bangladesh, 289 mortos em Ali Enterprises, 112 mortos em Tazreen Fashion.

Os trabalhadores têxtis (em sua maioria, mulheres) estão entre os que recebem os salários mais baixos do mundo. O documentário denuncia também a poluição motivado por materiais baixo custo, como o curtume, por exemplo, que contamina a água, o solo e demais produtos químicos a que são expostos causando doenças e lesões. A indústria têxtil se encontra no ranking dos agentes poluidores em segundo lugar no mundo, perdendo apenas para o petróleo.

Ainda, há um retorno histórico à produção de algodões, e os impactos ambientais da produção em larga escala pelo uso expansivo de fertilizantes. Há um forte movimento de industrialização da própria agricultura, logo, o uso de narcóticos ecológicos (fertilizantes ou pesticidas que exigem cada vez mais a sua utilização) tem aumentado nas regiões afetadas o número de doenças físicas, mentais e cânceres. Para além, também registra-se um aumento significativo de suicídios entre os fazendeiros (que não têm condições de arcar com o preço dos narcóticos ecológicos).

Precisamente, a posse, o materialismo, estão intimamente ligados ao psicológico e à saúde mental. Revela-se que o marketing busca promover a solução dos problemas cotidianos através do consumo. Lívia Firth Diretora Criativa da Eco-Age indaga: “é realmente democrático comprar uma camisa por $5 ou pagar $20 por um jeans? Ou eles estão nos enganando? Porque eles estão nos fazendo acreditar que somos ricos porque podemos comprar muito. Mas, na verdade, eles estão nos empobrecendo”.

Economistas sugerem a criação de sistemas alternativos, mas nenhum realmente eficaz. Existem tentativas como a Patagonia (Califórnia) e a People Tree (o comércio equitativo) que buscam amenizar as consequências dessas práticas. Entretanto, o próprio materialismo fomenta o sistema capitalista (no seu aspecto selvagem).

Após a execução do documentário, foi aberto para debates e apresentadas as seguintes questões: foi levado em consideração o ponto de vista em que se coloca o espectador, tanto como trabalhador quanto consumidor e fornecedor; o poder foi citado como contraponto da pobreza, pois para se manter o sistema é necessário que haja muito consumo; a mídia como fato gerador da venda, e o consumidor como agente passivo (como o marketing estuda em geral o comportamento humano, e como as compras podem ser uma ação inconsciente); o lucro desmedido desemboca na marginalização dos direitos dos produtores têxtis; como o barateamento dos produtos relativiza os direitos trabalhistas; a mulher como alvo principal da indústria por razões históricas; a dicotomia entre o sistema econômico e o sistema capitalista; a ética como resposta para uma evolução frente ao sistema capitalista.

Afinal, qual seria o verdadeiro custo para a manutenção da indústria da moda? É o que “The True Cost” busca atentar aos espectadores.

 

Imagem Ilustrativa do Post: fashion landscapes - gouda // Foto de: P K // Sem alterações

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