Segurança e Gestão de Crise no ambiente escolar (Parte 1)

26/09/2016

Por Leonardo Arquimimo de Carvalho - 26/09/2016

Leia também: Parte 2Parte 3, Parte 4, Parte 5, Parte Final

O termo “crise” apresenta, a depender da área do conhecimento, diferentes definições. Porém, num sentido mais amplo a expressão pode ser definida como um fenômeno complexo, originado de fontes ambientais e humanas, que se notabiliza pela elevada tensão, pela presença de vulnerabilidades latentes e pela possibilidade de que uma ampliação no agravamento da situação resulte em riscos para o equilíbrio em um dado local durante um determinado período.

Ou seja, “crise” corresponde a um evento, isolado ou em sequência, em que graves instabilidades, de diferentes origens, podem resultar em uma profunda e complexa alteração no ambiente em que ocorrem.

Um “evento de defesa social de alto risco” corresponde a uma intervenção qualificada em incidentes críticos que transcendem a capacidade de resposta individual dos órgãos de Defesa Social e que necessitam de intervenções integradas, centradas em equipamentos, armamentos, tecnologias e treinamentos especializados para o restabelecimento da paz social. Para Cotta, este conceito privilegia a visão integrada para a gestão de incidentes.

Já o “incidente crítico” é para Cotta, um evento que coloca em risco, de maneira mais forte, a vida das pessoas. Lista Cotta os seguintes exemplos: pessoas feitas reféns, pessoas restringidas por motivos passionais e/ou de vingança, pessoas armadas em locais protegidos, tentativa de suicídio, localização de artefatos explosivos, pessoas armadas e organizadas. Por fim, para Cotta, o sentido da “gestão de situações críticas” vai além do ato de condução das atividades num momento extremo por um líder ou uma equipe, sendo entendida como o conjunto de ações que englobam concepção, elaboração, implementação, direção, execução e avaliação.[1]

Na perspectiva adotada neste artigo, “crise” representa um momento de inflexão em que uma desordem funcional grave, de diferentes origens, pode trazer riscos acentuadamente potenciais para vida, integridade física e emocional dos membros de uma Comunidade Escolar – Alunos, Professores, Gestores, Servidores/Funcionários – e prejuízos materiais para a estrutura física e/ou para o patrimônio da Escola.

Uma crise produz efeitos próprios quando afeita a certas coletividades. Este é o caso de organizações conformadas com base em propósitos e/ou princípios comuns. Elas tendem a ser mais sensibilizadas já que os vínculos que aproximavam o grupo, por diferentes razões, são rompidos. Como consequência, em Escolas os resultados são considerados diferenciados e a administração de uma situação de grave anormalidade exige outras formas de enfrentamento.

De todo modo, a ideia de “Gestão de Crises” no ambiente escolar implica num conjunto de ações e contramedidas que procurem evitar ou gerir, em um tempo ótimo, incidentes e acidentes que possam ocorrer naquele cenário, ampliando o espaço de suporte adequado para cada situação nomeada como crítica, protegendo com mais ênfase a integridade de alunos e equipe escolar.

Para tanto, se imagina que seja possível estabelecer ações de sensibilização, qualificação e treinamento que permitam aos Gestores Educacionais entender, administrar e diminuir os riscos para uma Unidade Escolar e, se necessário, enfrentar a situação crítica.

No que tange ao “perfil de risco”, desde logo é possível nomear, também por uma questão de priorização de investimentos e disponibilidade de tempo, situações que mereçam atenção pelo simples fato de representarem um potencial danoso mais expressivo. Algumas dessas situações podem ser lembradas como potencialmente capazes de ampliar a comoção e as lesões. Mesmo assim, não se pode desconsiderar que problemas menos relevantes podem também originar grandes avarias ou mesmo, situações incontroláveis.

De qualquer maneira, se imagina que a “Gestão de Crises” no ambiente escolar tenha potencial para diminuir a possibilidade de que uma situação crítica ocorra, para minar uma escalada em direção a uma situação grave, para bem encaminhar uma crise instalada e para atender aos membros da Comunidade Escolar no período pós-crise.

Ou seja, qualquer forma de organização de demandas para momentos de crise parece ter potencial para enfrentar problemas postos e problemas potenciais. E é neste particular que uma das principais qualidades de uma eventual organização se destaca, qual seja, permitir uma ação de estancamento de danos e evitar uma escalada de consequências indesejadas.

A atuação com foco na “Gestão da Crise” no ambiente escolar parece uma boa opção e esta afirmação é bastante elementar. Porém, tomada de forma mais detalhada se percebe uma grande dificuldade em planejar e executar modelos de enfrentamento de situações críticas no âmbito de Escolas Públicas ou Privadas.

Ainda, a ideia de planejamento para “Gestão de Crises” para o ambiente escolar, a partir da nossa realidade, pareça uma ideia muito exótica.


Notas e Referências:

[1] COTTA, Francis Albert. Protocolo de Intervenção Policial Especializada: uma experiência bem-sucedida da Polícia Militar de Minas Gerais na Gestão de Eventos de Defesa Social de Alto Risco. Revista Brasileira de Segurança Pública. Ano 3, Ago/Set 2009, p. 52-66.


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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


 

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