Saúde stakeholder

15/01/2024

Um grande desafio da sociedade é desenvolver boas práticas na área da saúde. Buscar os melhores resultados possíveis com os recursos (humanos, tecnológicos e financeiros) disponíveis.

O presente texto propõe a seguinte ideia: a multiplicação do acesso e a qualificação das prestações em saúde dependem da adoção do modelo de saúde stakeholder e a superação do modelo de saúde shareholder.

Para a compreensão da proposta é preciso estabelecer dois conceitos:

Saúde shareholder: é um modelo em que cada ator atua e prioriza apenas o seu negócio em detrimento dos outros agentes; sempre prevalece o interesse do shareholder em prejuízo aos stakeholders.[1] Busca-se a “maximização dos lucros sobre outras propriedades”[2]. “É a forma do capitalismo na qual os interesses de um stakeholder, o shareholder, dominam todos os outros.”[3]

Saúde stakeholder: um sistema em que os interesses de todos os atores na saúde e na sociedade são considerados, “as empresas otimizam para mais do que apenas o lucro no curto prazo, e governos são os guardiões da igualdade de oportunidade, com um campo nivelado de jogo na competição, e uma contribuição justa e distribuição para todos os stakeholders em relação à sustentabilidade e inclusão no sistema.”[4]

O pós pandemia indica que a vida e a saúde são prioridades intransponíveis. Por isso é necessário criar um modelo que fomente a ampliação do acesso à saúde com qualidade.

Nesta linha, todos os stakeholders do ecossistema de saúde precisam observar o modelo que favoreça a cadeia de negócios em saúde e não apenas a seu próprio serviço ou atividade.[5]

stakeholder é um parceiro e não um inimigo. Os diversos setores da área de saúde, entes públicos (SUS), operadoras de plano de saúde, Agência Nacional de Saúde (ANS), prestadores de serviço, indústria, laboratórios, sociedade civil e cidadão, entre outros, devem pensar no seu negócio, bem ou serviço considerando também os outros agentes como parceiros e não inimigos ou concorrentes.

A atuação egoística de cada agente contamina a cadeia produtiva da saúde e dificulta a evolução da ampliação do acesso, a descoberta de novas tecnologias e a entrega de melhores resultados. O modelo de saúde stakeholder reduz o free-rider, o parasitismo.[6]

Para sucesso do modelo de saúde stakeholder é preciso a acabar com o sistema de saúde shareholder.

No modelo de saúde stakeholder existe um sistema de freios e contrapesos “para que nenhum stakeholder possa se tornar ou permanecer dominante em excesso.”[7].

“Tanto o governo quanto as empresas, os principais atores em qualquer sistema capitalista, portanto, otimizam para um objetivo maior do que lucros: a saúde e a riqueza das sociedades em geral, assim como a do planeta e das gerações futuras.”[8]

O modelo de saúde stakeholder precisa garantir dois pontos importantes: a) “todos os stakeholders tenham um assento à mesa de tomada de decisões que dizem respeito a eles”[9]; e b) “os pesos e contrapesos necessários existam para que cada stakeholder compense o que toma da sociedade e para que receba uma fatia de bolo proporcional à suas contribuições, local e globalmente.”[10]

Portanto, a sociedade deve se empenhar na construção de um modelo de saúde stakeholder.

 

Notas e referências

[1]     Este conceito é uma adaptação do conceito de capitalismo shareholder: capitalismo shareholder: “é a forma do capitalismo na qual os interesses de um stakeholder, o shareholder, dominam todos os outros. Empresas operam com o único propósito de maximizar lucros e retornar os maiores dividendos possíveis aos shareholders.” In SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, pp. 185/186.

[2]     SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, p. 96.

[3]     SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, pp. 185/186.

[4]     Este conceito é uma adaptação do conceito de capitalismo stakeholder: “Nesse sistema, os interesses de todos os stakeholders na economia e na sociedade são considerados, as empresas otimizam para mais do que apenas o lucro no curto prazo, e governos são os guardiões da igualdade de oportunidade, com um campo nivelado de jogo na competição, e uma contribuição justa e distribuição para todos os stakeholders em relação à sustentabilidade e inclusão no sistema.” In SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, p. 185.

[5]     “tenho esperança de que usaremos a recuperação pós-Covid para pôr em prática o capitalismo stakeholder em casa, e um sistema econômico global mais sustentável.” SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, p. xxiii.

[6]     SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, p. 196.

[7]     SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, p. 188.

[8]     SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, p. 188.

[9]     SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, p. 199.

[10]   SCHWAB, Klaus. VENHAM, Peter. Capitalismo stakeholder: uma economia global que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta. Tradução Vic Vieira. Rio de Janeiro: Alta books, 2023, p. 199.

 

Imagem Ilustrativa do Post: 20170521_kodakpny135_002 // Foto de: Anthony Hughes // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/116302408@N08/34041170193

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura