Saúde e futebol, uma curiosa relação

11/06/2018

O futebol constitui, inegavelmente, uma paixão nacional. Também é incontroverso que a Saúde tem fundamental importância para o cidadão brasileiro.

Cotejando os dois temas, Santos, Carvalho e Barros[1], publicaram interessante pesquisa que investiga a alta rotatividade de gestores em Saúde pública e de técnicos de futebol.

Concluiu-se que “um treinador de equipe de futebol no Brasil permanece na função, num mesmo time, apenas pela metade do tempo quando comparado a seus congêneres de países europeus com forte tradição no esporte”[2].

Quanto aos gestores em Saúde, os dados também são impactantes. Veja a comparação:

No ano 2015, considerado exclusivamente o campeonato brasileiro, que é disputado com 20 times, houve 32 trocas de treinadores, sendo que apenas o treinador do time campeão permaneceu em seu posto. Neste ano, com a posse dos chefes do poder executivo estadual em janeiro de 2015, considerado o início do mandato dos governadores, houve imediata alteração de 24 secretários estaduais de saúde e no decorrer do ano, 6 substituições.

No ano seguinte, houve 29 trocas de técnicos dos times integrantes do campeonato brasileiro. Considerada a gestão estadual do Sistema Único de Saúde (SUS), foram alterados 14 titulares das pastas, sendo que este número pode ter sido catapultado pela disputa de eleições municipais, seja por aqueles que concorreram aos cargos executivos ou legislativos municipais, ou ainda em face de rearranjos político-partidários.

No ano 2017, os dados foram coletados até o mês de julho e referiram 12 alterações de técnicos de times de futebol, contudo permaneceram em seus postos, desde o início da temporada, os técnicos dos 3 times melhor colocados no campeonato. Neste ano, até o sétimo mês, ocorreram 9 substituições de secretários estaduais de saúde.[3]

Os mesmos pesquisadores assentaram que há falta de governabilidade dos gestores em Saúde acontece em razão de: “insuficiência de recursos financeiros; burocracia estatal; ausência de recursos humanos suficientes e qualificados”[4].

Além destes fatores, é possível incluir: (1) insatisfação com o trabalho; (2) resultados insuficientes; (3) exigências de curto prazo; (4) ausência de projeto de longo prazo; (5) imediatismo; (6) influência política – de pessoas e partidos; (7) judicialização da Saúde – há decisões judiciais que determinam a prisão de gestores, pagamento de multa pessoal, bloqueio de valores da conta bancária do gestor, afastamento do cargo, etc; (8) ausência de qualificação técnica.

A pesquisa aborda apenas os Secretários Estaduais de Saúde, já que seria muito difícil avaliar a alternância de gestores dos 5570 Municípios do país. De qualquer forma, as conclusões são importantes para a reflexão e, principalmente, para adoção de medidas tendentes e reduzir a altíssima rotatividade.

O estudo realizado demonstra que o Brasil desconsidera as regras de boas práticas. Se isso não mudar, continuaremos marcando gol contra não apenas no futebol, mas também na gestão da Saúde pública.

Notas e Referências

[1] SANTOS, Alethele de Oliveira; CARVALHO, Marcus Vinícius; BARROS, Fernando Cupertino de. Preocupações brasileiras: futebol e saúde. Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário, v. 6, 2018, p. 167-174.

[2] SANTOS, Alethele de Oliveira; CARVALHO, Marcus Vinícius; BARROS, Fernando Cupertino de. Preocupações brasileiras: futebol e saúde, p. 167.

[3] SANTOS, Alethele de Oliveira; CARVALHO, Marcus Vinícius; BARROS, Fernando Cupertino de. Preocupações brasileiras: futebol e saúde, p. 171.

[4] SANTOS, Alethele de Oliveira; CARVALHO, Marcus Vinícius; BARROS, Fernando Cupertino de. Preocupações brasileiras: futebol e saúde, p. 172.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Futebol // Foto de: Alexandre Machado // Sem alterações

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