Ressigni(metaversi)ficando a Vida em Tempos de Influência Digital

26/10/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Este texto — que mais se parece com um rascunho de uma tese indefensável sobre a complexidade das conexões humanas em ambientes digitais ou virtuais — traz uma reflexão sobre a influência do metaverse  (ou, como ficou conhecido, ‘’metaverso’’) em nossas vidas.

Dizem por aí que o metaverso é um ambiente virtual, que vai além do mundo real: (assim,) é uma realidade paralela em que pessoas, representadas por avatars (avatares, que são uma espécie de figura gráfica computadorizada) podem interagir com as outras (quer dizer, com os outros avatares).

E nós, como é que nós ficamos? Isso significa dizer que nós, daqui a poucas décadas, seremos bonecos gráficos complexos e computadorizados, numa realidade webnalizável?

Se estivéssemos no século passado, ao enunciar isso, as pessoas me chamariam de louco por estar conspirando contra a Humanidade e dizendo adeus ao convívio humano. E haveria um quê de razão para isso: naquela época, inclusive, aquilo que nós chamamos, hoje, de internet era visto como bruxaria.

Só que essa realidade está cada vez mais próxima de nós: o metaverso já pode ser acessado por meio de aparelhos com acesso à high-tech (o que é uma espécie de tecnologia mais evoluída), como o Virtual Reality Glasses (VR ou, como ficou conhecido, óculos de realidade virtual), fones de ouvidos e sensores (sim, sensores, aparelhos que inferem, assimilam e até interpretam o lado sensível do ser humano humano).

E como essa nova realidade funciona? Se o (tal do) metaverso ainda é um enigma que vem sendo decifrado pelos estudiosos, quem dirá essa figura gráfica complexa computadorizada a quem atribuíram o nome de “avatar”.

Dizem mundo à fora que o avatar é um cyber-corp (‘’cibercorpo’’), que foi criado — a partir de programas e softwares — para transportar a vida real das pessoas para dentro de um mundo paralelo e virtual.

Se o avatar é capaz de representar cada um de nós em tal ambiente virtual e paralelo, significa dizer que ele é capaz de reproduzir a vivência humana e sua complexidade? Será que as expressões faciais do meu cibercorpo mostram as curvas do meu sorriso nos dias em que a felicidade bate em minha porta? Acho que o meu eu paralelo metaversificado terá um pouco de dificuldade para fazê-lo: (é que) é tanta felicidade, que nem eu mesmo consigo (me) descrever. Mas e se estiver assustado? O outro metaversificado verá as minhas pálpebras e sobrancelhas erguidas e o meu corpo recolhido como quem diz: estou com medo, me tira daqui? E em dias de surpresa? Minhas sobrancelhas ficaram arqueadas? Meus olhos vão abrir mais do que o normal? Meu queixo vai abaixar? E a alegria, a tristeza, o medo, a raiva, o desprezo, a culpa, o ciúme, o amor, a gratidão, a solidão, a mágoa, a angústia, a carência? E os gestos? O respirar, o tocar, o pular, o brincar, o falar, o sorrir, o chorar, o olhar, o cantar, o correr? Com qual fidedigni(li)dade o esse cibercorpo transmite aquilo que sentimos? Com qual frequência? Em qual intensidade? Em que tempo: real ou imaginário? São tantas dúvidas e incertezas em meio a uma certeza próxima: (parece-me que) a vida está sendo ressigni(metaversi)ficada.

E eu? Só sei que ainda nada sei, Sócrates: há muito o que ser descoberto no novo mundo do metaverso. E a minha inquietude grita ao perceber que isso está cada vez mais próximo e que não mais sou – e nem serei – o mesmo.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Gazira Babeli // Foto de: Rosanna Galvani // Sem alterações

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