Reforma - Por Thiago Brega de Assis

05/11/2017

Em 2017 completam-se quinhentos anos do que é chamado Reforma, ou Reforma Protestante, um episódio que alterou os rumos do Cristianismo e do curso da História da Humanidade, sendo que o presente ano também representa o centenário da Revolução Russa, igualmente com enorme significação histórica, e motivo semelhante, o mau uso do poder.

Para compreender o significado da Reforma é importante conhecer a situação da civilização no século XVI, em que a Igreja de Roma exercia grande poder na comunidade, no cotidiano da vida das pessoas. Depois da derrocada do Império Romano, no início do que se denominou Idade Média, fato que levou a um vazio de poder na Europa, a ordem social e a estabilidade da vida comunitária foram mantidas graças à ação da Igreja Cristã, mantendo a unidade de valores da vida social.

Assim, a Igreja Romana assumiu uma posição além de uma instituição meramente cultual, ganhando poderes políticos, ou parapolíticos, como uma entidade transnacional com capacidade de atuação em todos os reinos da Europa, movimentando até mesmo forças bélicas.

Talvez seja possível comparar a Igreja de Roma na época da Reforma como se fosse atualmente uma mistura de Organização das Nações Unidas e Organização Mundial do Comércio, com a capacidade de mobilizar forças militares locais sob sua orientação.

Portanto, ao contrário de hoje, em que a Igreja tem uma força ligada ao plano moral e discursivo, como uma Academia Religiosa ao lado da Academia Científica, cada uma com seus dogmas, no tempo da Reforma a referida instituição exercia poder efetivo sobre a vida das pessoas, inclusive praticando a pena capital, contrária à mensagem Cristã.

Daí a importância da atitude de Lutero, ao pregar suas 95 teses na capela de Wittemberg, na Alemanha, numa tentativa de chamar o clero ao debate, diante do que entendia como desvios na conduta dos sacerdotes e da própria Igreja, inclusive quanto aos ensinamentos por esta pregados.

Sem entrar no mérito sobre o acerto ou desacerto das teses, é fato que havia, e ainda há, o que ser corrigido na Igreja de Roma, também sendo um fato que o protestantismo contribuiu e contribui para a formação de um mundo individualista, permitindo o desenvolvimento do mercantilismo e do capitalismo que temos hoje, em que a liberdade individual muitas vezes é contrária ao equilíbrio social, e aos princípios Cristãos.

De todo modo, considerando que Deus é sumamente Bom, onipotente, e controla os rumos da Vida, a Reforma foi mais um passo necessário em direção à salvação da humanidade.

Mas a Reforma não é o ponto final na restauração da Verdade do Cristianismo, que carece da consumação das modificações políticas, teológicas e filosóficas exigidas para a instauração do Reino de Deus, principal mensagem de Jesus Cristo, que deveria orientar tanto católicos como protestantes.

Lutero pretendia alterar os rumos da condução do poder da Igreja, para que se adequasse à mensagem do Evangelho, sendo essa pretensão legítima, pois também Jesus Cristo agiu para restaurar o Espírito da Lei, para que o povo judeu fosse conduzido por bons pastores, bons governantes.

A Reforma, assim, não atentou para a essência da Boa Nova, o Reino de Deus, Reino enquanto governo humano seguidor da Lei de Deus, e não observou os próprios preceitos, não respeitou as cinco solae (sola Scriptura, sola gratia, sola fide, solus Christus e soli Deo gloria), que são princípios fundamentais da teologia reformada.

Ao defender sola Scriptura, um dos primeiros pontos que devem ser questionados é o dogma trinitário, que não foi objeto de protesto, e que não está nas Escrituras, mas continua inserido na teologia protestante.

O Deus das Escrituras, o Deus e Pai de Jesus Cristo, é um Deus Único, também não havendo, na Bíblia, separação entre Deus e seu Espírito, ou indicação de que o Espírito Santo de Deus seja uma pessoa diferente do próprio Deus.

Outro ponto insuficiente da Reforma está no fato de que nela também não se restaurou a unidade política, religiosa, teológica e filosófica do Cristianismo, que defende a vinda do Reino de Deus, em que os Cristãos são Reis e Sacerdotes Justos, ou seja, são, ao mesmo tempo, governantes, estejam ou não em posição oficial de governo, sacerdotes e filósofos.

“Os reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados Benfeitores. Quanto a vós, não deverá ser assim; pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que serve. Pois, qual é o maior: o que está à mesa, ou aquele que serve? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve!” (Lc 22, 25-27).

O Príncipe dos Reis da Terra, o Messias, veio para mostrar que a função do governante é governar servindo, em favor do povo, e não governar dominando e oprimindo a população. Ele trouxe a mensagem do Reino, do Governo Justo, inaugurado por ele, o maior governante que já existiu, com o próprio sacrifício, ainda que injusto.

A missão do Cristão é imitar Cristo, seguir seu Caminho de Vida e Verdade, inclusive com a própria morte, enfrentando a tribulação e a cruz, se necessário, seja em que posição social estiver, e como o Reino de Deus é o tempo do Governo da Justiça, o Cristão que ocupa o governo deve servir, e exigir que seu governante seja Cristão, seja servidor de Cristo, Rei e Sacerdote.

“João, às sete Igrejas que estão na Ásia: a vós graça e paz da parte d''Aquele-que-é, Aquele-que-era e Aquele-que-vem', da parte dos sete Espíritos que estão diante do seu trono, e da parte de Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primogênito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama, e que nos lavou de nossos pecados com seu sangue, e fez de nós uma Realeza e Sacerdotes para Deus, seu Pai, a ele pertencem a glória e o domínio pelos séculos dos séculos” (Ap 1, 4-6).

Deus permite o governo humano injusto, provisoriamente, porque é melhor a ordem que o caos, mas atualmente, principalmente, os próprios governados, por suas corrupções e seus egoísmos, nos governos chamados democráticos, contribuem com as injustiças de seus governos, que toleram e às vezes até mesmo apoiam, não em termos de injustiças individuais, mas como ideias injustas e parciais que os favorecem, em detrimento da Verdade e da Razão, contra o Logos de Deus.

“Ele é a Cabeça de todo Principado e de toda Autoridade” (Cl 2, 10), pois a razão é coletiva, e deve ser usada coletivamente.

“Todo homem se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus” (Rm 13, 1), até que Deus encarne nos seus Filhos, exercendo “sua própria autoridade” sobre a humanidade (At 1, 7).

O Reino de Deus não se limita ao discurso religioso, à mera argumentação moral.

“Pois o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder” (1 Cor 4, 20).

Portanto, a Reforma não foi uma reforma estrutural, mas uma reforma estética, quase um “puxadinho”, na medida que os governantes da cristandade, católicos e protestantes, continuaram a dominar e tiranizar as nações, pois foram católicos e protestantes que mataram na Revolução Francesa, que exploraram o povo na Revolução Industrial, que mataram milhões na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, e que hoje permitem e praticam a destruição do planeta, a mercantilização da vida humana, a sexualização do mundo, o aborto, o “casamento” gay, as guerras por petróleo, a fome na África, a cultura da ignorância etc.

A Reforma foi estimulada por uma energia psíquica decorrente dos erros praticados pela Igreja, acumulada ao longo dos séculos, e tudo indica que essa energia psíquica está sendo acumulada novamente, e parece que culminará na grande tribulação, que talvez já esteja em curso, criando a força necessária para a Reforma definitiva, estrutural, quando o Espírito de Deus encarnará nos homens, como ocorreu com Jesus Cristo, especialmente nos governantes, que liderarão a Humanidade, como Reis e Sacerdotes, no Reino de Deus, na Era messiânica, no Milênio do Governo de Cristo.

Portanto, Cristãos, à Reforma, tomemos o Poder, pela Lei, pela Palavra, pelo Exemplo, pelo Caminho, pela Paz, pela Autoridade, pela Tribulação, pela Cruz, em Nome de Deus, conforme a Vontade de Deus, por Seu Espírito, Seu Logos, vivendo a Verdade, para salvação de nossas Vidas e nossas almas, e de nossos irmãos, ainda que para isso morramos, permanecendo vivos, para a Vida Eterna.

“92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: 'Paz, paz!' sem que haja paz!

93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo: 'Cruz! Cruz!' sem que haja cruz!

94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;

95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do que pela segurança da paz.”

(http://www.luteranos.com.br/lutero/95_teses.html) 

 

Imagem Ilustrativa do Post: Living Word // Foto de: Georgie Dee // Sem alterações

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