Refletindo sobre o nosso momento atual. Ainda é possível termos alguma dose de otimismo? - Por Afrânio Silva Jardim

21/03/2017

1) O SER HUMANO JÁ NÃO É MAIS O SUJEITO DE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA.

No mundo atual, somos “governados” pela grandes corporações. Tudo gira em torno de interesses econômicos e o “mercado” é o grande artífice de nosso modo de vida.

É importante notar que o próprio “mercado” é controlado e direcionado, mundialmente, pelo grande capital, pelas empresas sem pátria e sem ética.

Projetos sofisticados e elaborados pelos executivos das grandes multinacionais acabam determinando, via produção e propaganda massiva, o que vamos consumir, o que vamos ouvir, o que vamos ver, do que vamos gostar, etc., etc., etc. Um exemplo disso foi a imposição das grandes montadoras de automóveis: elas decidiram que nós só teríamos carros prata, preto e branco. Acabamos gostando disso ... Puro autoritarismo.

Por outro lado, os novos automóveis, salvo as sempre presentes exceções, estão sendo fabricados sem aparelhos de som próprios para cds ou dvds. Que fazer com as nossas coleções? O que fazer com as nossas bibliotecas, quando elas forem substituídas por “pen drives” ou por leitores de textos, tipo “Kindles”. A eles, não interessa o apego por nossas coisas. Ao “capital”, só interessa a sua acumulação ... O lucro não tem limites ... Os valores humanos não são limites à cobiça desmedida ...

A sociedade moderna e tecnológica está “roubando” o nosso tempo. Talvez porque o tempo seja subversivo ... O tempo nos permite pensar, nos permite vivenciar emoções, nos permite refletir e desenvolver uma consciência crítica da perversa realidade a que estamos sendo submetidos. Hoje tudo é feito para ser rapidamente consumido. Tudo é efêmero e descartável. Isto nos abrange até o ponto dos afetos.

Estamos substituindo e verdadeiro sentimento de felicidade pela excitação. A ansiedade é um dos muitos grandes males da sociedade tecnológica. A intolerância é uma “epidemia” nos dias de hoje, resultante da falta de cultura e resultante de uma sociedade autoritária e preconceituosa. A ciência não é conhecida pela população, que apenas deseja usufruir da tecnologia imposta pelo mercado. Falam em “banda larga”, mas ninguém sabe o que seja ... Fala-se em tecnologia digital (diferente da analógica), mas ninguém sabe o que seja uma coisa ou outra ... Pior, não sabem e não têm curiosidade de saber ...

Os jovens atuais “abraçam” tudo o que o mercado deseja que eles venham a consumir, tudo de forma totalmente acrítica. A grande mídia nunca influenciou tanto a formação de novas gerações. A grande mídia é o reflexo perverso dos interesses econômicos que a sustentam.

Não somos mais sujeitos de nossa própria história e estou profundamente pessimista com o futuro desta sociedade globalizada e dominada pela ganância, pela hipocrisia, pela falta de humanismo e pelo individualismo. O ser humano está “morrendo com o próprio veneno”.

Parodiando o grande e saudoso historiador inglês Arnold Toynbee, termino demonstrando ainda alguma esperança na sobrevivência de nossa espécie, dizendo: espero que ainda haja a possibilidade de uma quarta guerra mundial, mesmo que ela seja de arco e flecha... Como será a sociedade do futuro? Haverá futuro para o ser humano? Será ele verdadeiramente humano? Haverá ser humano e sociedade no futuro?

2) O NEOLIBERALISMO E O ATUAL GOVERNO

O chamado “capitalismo selvagem” está presente na lógica do atual neoliberalismo. Isto fica claro em nosso país.

Este governo ilegítimo repudia até mesmo os postulados da social democracia, que busca tornar menos injusto o capitalismo. Vale dizer, a social democracia visa amenizar o conflito de interesses entre as classes sociais, aceitando a presença tênue do Estado nas atividades econômicas e sociais, com o escopo de criar melhores condições para o capitalismo se desenvolver.

Pois bem, repito: o grupo político do senhor Temer se afasta totalmente da social democracia e caminha no sentido da extrema direita no sentido econômico. Ele se assemelha à “ala mais à direita” do partido republicano dos Estados Unidos, que chama o ex-presidente Obama de comunista !!!

Tudo isto está claro pelas propostas de reforma trabalhista e da previdência social, bem como pela política de restrição brutal das despesas estatais no âmbito social, das privatizações no âmbito federal e das privatizações exigidas aos Estados da Federação (uma das condições exigidas para a ajuda financeira aos governos estaduais).

Entretanto, o mais sintomático desta “maldade social” é a redução do valor da multa que o empregador tem de pagar em caso de rescisão do contrato de trabalho sem justa causa.

Vamos refletir:  Por que isso? Por que fomentar ou facilitar as “demissões trabalhistas” no exato momento em que o desemprego é alarmante? Por que diminuir a arrecadação do Estado no momento em que há um tremendo “déficit” fiscal?

Eles acreditam no chamado “darwinismo social”, na “barbárie social”. Eles acreditam que os direitos sociais são um grande óbice ao crescimento econômico.  É preciso fazer crescer o “bolo” e julgam que são os empresários que sabem qual o “fermento” capaz de fazer o “bolo” crescer.

Para este tipo de sistema econômico e político, o trabalho é uma mera mercadoria. O chamado “exército de reserva” dos trabalhadores diminuirá as pressões por aumentos de salários e mesmo pela manutenção de algumas poucas conquistas trabalhistas. Como negociar com a classe patronal com um ambiente de desemprego? Como exigir a manutenção (nem falo mais em conquistas novas) de direitos sociais se existe mão de obra ociosa, ou seja, se o trabalhador é “mercadoria descartável”?

Não importa o custo social para isto, o que interessa ao “mercado” são os números e não as pessoas.

Entretanto, a história tem mostrado o seguinte: se tentarem dividir o “bolo”, tenha ele crescido ou não, as forças econômicas e políticas dominantes na sociedade promovem o “golpe de Estado”. Este golpe de estado pode se efetivar através da força militar ou através de um parlamento, eleito com o dinheiro das grandes empresas e apoio da grande imprensa, esta mesma formada por grandes empresas familiares (golpe parlamentar).

Em resumo, o atual ilegítimo governo federal pode ser visto como a real expressão política do grande capital, nacional e internacional, que “sequestrou” a nossa frágil democracia. O poder econômico está enraizado no Estado brasileiro.

A sociedade civil é um mero refém destes interesses egoísticos, sendo manipulada pela grande mídia dolosa e despreparada.

Termino dizendo que, como nas demais profissões, os nossos jornalistas não têm capacidade profissional, não têm cultura e compromissos éticos e sociais, desejando principalmente a sua melhoria profissional e econômica. Para isso, precisam agradar os seus patrões. Adeus independência dos profissionais de imprensa!.


Imagem Ilustrativa do Post: Soap Bubbles / Seifenblasen I // Foto de: Christian Schnettelker // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/manoftaste-de/9275575812

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura