Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Há dores sobre as quais ninguém fala
E se ousassem falar, talvez, toda magia acabaria
Ou apenas deixariam de romantizá-la
E, então, todas nós, mães, poderíamos enfim desabar
Discutir sobre aquilo que não se pode jamais falar
Há medos que ninguém ousa pronunciar
Pois a sociedade não está pronta para ouvir
E se tivesse, poderíamos sem medo sentir
Tenho medo de nunca mais me ver
Afinal, no reflexo do espelho eu só vejo o ‘servir’
Há angústias que me abraçam
E juntas nós criamos laços e fantasiamos
Espécies de paranoias e surtos que nos destroçam, despedaçam
Isso me faz ver o quanto... nos distanciamos
De tudo
Talvez algum dia
Com a coragem daquela que não tem medo de ser
Eu me resgate desse inferno
Que insistem em chamar de ‘florescer’
Se a primavera é florir
Gestar é parir
É servir
É quase que...
Não existir
Ser escrava daquilo que, da mulher, deve ser o ‘maior sonho’
Mãe,
Como era sua vida antes de eu nascer?
Seria essa uma dor que esquecemos de dizer?
Um luto que ninguém tem peito para falar?
Quero me sentir viva
Quero me sentir vista
Quero me sentir parte de mim
Quero àquilo tudo que pertencia a mim
E de mim, e por mim, parece ter sido roubado
Meu corpo foi invadido
Minha alma fragilizada
Meu espírito deixado de lado
E tudo que eu era, hoje é só memória do passado
Ele me diz, onde está aquela parceira
Que para tudo me dizia sim
Eu olho no espelho da cabeceira
E tento lembrar de...
Mim
Muitos aqui não entenderão
As palavras de uma mãe
Que um dia ousou ser
Em uma questão que nunca pode responder
Ou escolher.
Imagem Ilustrativa do Post: warm winter light // Foto de: Strolicfurlan // Sem alterações
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