Posfácio Feminismo, Artes e Direitos das Humanas

11/04/2019

Coluna Direito e Artes / Coordenadora Taysa Matos

Os Direitos das Humanas e suas ligações com o feminismo e as artes foram veiculados neste primeiro volume com a pretensão de inaugurar uma rica coleção de livros escritos por e sobre mulheres.

Na apresentação e no prefácio, usamos os verbos brotar, ramificar, florescer e virar semente, num desejo de tomarmos das plantas, das florestas, dos jardins e dos quintais seus traços vitais, tão inerentes à condição humana e tão presentes no ser feminino. E não usarei verbos diferentes nessa mensagem final. Num posfácio, a ideia de desejar que o livro que acabara de ser lido seja a maior inspiração para a criação de jardins e quintais repletos de rosas e novas ideias, me parece boa e oportuna.

Nosso livro, conduzido por múltiplos olhares e sensações das mulheres, falou da vida, do que grita, murmura e silencia, do que floresce ou poderia florescer, do que é raiz, do que encanta, indigna, entristece ou dá esperança. Falou do direito à diversidade, à diferença, a não sofrer violência por ser mulher, à autodeterminação do corpo feminino, à maternidade, ao trabalho e à liberdade de expressão e criação, dentre outros assuntos. Mais que tudo, nessa obra, as mulheres falaram de amor e de vida, do direito ao amor e do seu exercício, tanto nas relações afetivas como nos espaços públicos.

A menção à mulher e ao direito ao amor remete-me à entrevista do jurista italiano Stefano Rodotà, autor do livro Direito ao Amor, que ao defender o casamento entre pessoas do mesmo sexo, considera que a luta das mulheres por igualdade, pela emancipação feminina, abriu caminhos para as lutas atuais pela não discriminação dos homossexuais e pelo direito da união e do casamento de pessoas do mesmo sexo, como exercício do direito ao amor. Nas palavras de Rodotà: “São sempre as mulheres. Não reivindicam somente os direitos de gênero, oferecem um novo sentido para o mundo. A liberação de todos, como aconteceu infinitamente na história, vem da consciência e da revolta de quem é submetido, excluído, privado de liberdade e dignidade.”[1]

Foi assim neste livro. A Professora Ezilda Melo não se contentou em idealizar e organizar uma obra jurídica sobre a questão de gênero no cenário brasileiro. Ela quis reunir muitas mentes e corações em torno de um projeto sobre feminismo, artes e direitos humanos. Além disso, resolveu, generosamente, compartilhar a organização e coordenação com outras mulheres, inclusive comigo. Juntas com Ezilda, nós, autoras, coordenadoras e organizadoras, assumimos, de propósito, o despropósito de oferecer aos leitores e às leitoras inúmeras formas de sentir o mundo. Apresentamos visões que defendem igualdade, a liberdade e dignidade para todos. Deixamos claro como é relevante o respeito às diferenças e à diversidade.

Nossos despropósitos são daqueles tão bem definidos por Manoel de Barros em sua poesia sobre o menino que carregava água na peneira e montava alicerces de uma casa sobre orvalhos[2]. Sim, Ezilda reuniu um time de mulheres “ligadas em despropósitos”, para usar a bela referência de Manoel de Barros ao menino, que “gostava mais do vazio do que do cheio”, como reparou sua mãe.

Entre o silêncio e o barulho, entre o vazio e o cheio, em momentos de entusiasmo, chegamos a acreditar que esse livro contribuiria para dar novo sentido ao mundo, ou ao menos, aos direitos das humanas. Coisas de mulher. Depois, passada a euforia, ficamos com a convicção de que, apesar de oportuno e importante, o livro não deixa de ser uma reunião de despropósitos. (Ah...quem entende as mulheres?). Despropósitos que têm a pretensão de ecoar nas salas de aula, em debates e diálogos de grupos de pesquisas ou em outros textos que discutam os direitos das mulheres e as questões femininas. Despropósitos que querem continuar em outros volumes da Coleção Mulheres.

É isso! Já elegemos os temas condutores do próximo livro: cinema (filmes ou séries), música e literatura que abordem a questão feminina. A abordagem será, como nesse primeiro volume, novamente jurídica, sob inspiração dos direitos humanos e, especificamente, dos direitos das mulheres. O chamado a participar é para todas as mulheres que se sintam ligadas a despropósitos, que vejam beleza e utilidade em carregar água na peneira.

Às leitoras e aos leitores, além dos nossos sinceros agradecimentos, fica o convite para que continuem a usar os próximos livros desta Coleção nas discussões e reflexões sobre os direitos das mulheres.

 

Notas e Referências

[1] Entrevista concedida a Luciana Cabral Doneda, em 08.04.2016, disponível em https://projetocolabora.com.br/inclusao-social/stefano-rodota-direiro-ao-amor/ . Acesso em 10.03.2018

[2] Manoel de Barros, O menino que carregava água na peneira, Poesia Completa, São Paulo: Leya, 2011.

 

Feminismos, Artes e Direitos das Humanas.

 

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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