Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Enquanto ainda há tempo
percamos tempo sentindo o vento,
as mãos procurando afagos,
os dedos apontando estrelas maduras
na fresta aberta dos dias,
no estreito vesgo das noites,
pés descalços na relva, na calçada,
no chão da sala, na cama desfeita,
nos dias esticados sobre a mesa,
no farfalhar dos galhos avisando
qu'inda umas asas flutuam céu lá fora.
Enquanto ainda há tempo
permitamos uns delírios, uns lírios, uma lira,
acordes dissonantes
brincando de outras vidas em dimensões paralelas,
em que sonhar novos mundos
seja a melhor iguaria no céu da boca
onde aprisionamos nossa ira.
Enquanto ainda há tempo
façamos de conta que restamos todos num mínimo decentes,
guardando futuros quase perfeitos entre os dentes,
entre risadas felizes, estradas oblíquas, caminhos à frente.
(Enquanto ainda há gente).
Imagem Ilustrativa do Post: hands formed red heart // Foto de: Tim Marshall // Sem alterações
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